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segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

VILANIA, BARBÁRIE, OBSCENIDADE...

Pareceu novidade. Pareceu um fato incomum. Pareceu que não éramos acostumados com atrocidades. Como gostamos de fingir quê!... O certo é que, o comportamento vil de algumas autoridades do Estado do Pará atingiu frontalmente nossas instituições. Os Três Poderes da República foram golpeados em profundidade, e, autoridades e a sociedade como um todo, desmascaradas e feridas no que lhes parecia restar de motivos para jactarem algum tipo de empáfia. E os artifícios de sempre, adotados para deixarem transparecer a impressão do dever cumprido, desmoronaram de vez. Surpreendentemente, o caso está causando mais estrondo do que o roubo de TRÊS BILHÕES DE REAIS dos cofres da SUDAN!...

É que a divulgação em nível planetário, da monstruosidade ocorrida numa Delegacia de Polícia do Estado do Pará, onde uma adolescente ficou presa durante quase um mês, junta com vinte homens que a estupravam diuturnamente, desnudou de vez as nossas instituições Públicas e, a própria sociedade. E o manto diácono da hipocrisia, que embaçava a visão dos que não queriam enxergar e protegia, na desfaçatez da penumbra, os responsáveis pelo que de fato se passa nos bastidores dos Poderes, foi rasgado a golpes de obscenidades e vilanias. E, desta vez, a divulgação e indignação surpreenderam os coveiros da dignidade humana e todo o mundo; e, o eco dos clamores da consciência Universal haverá de atingir os páramos e produzir vibrações suficientes para que mudanças sejam implementadas.

Ora, na tentativa desesperada de amenizar o choque experimentado pelos que ainda são capazes de se indignarem, autoridades envolvidas se apressaram em procurar justificar a barbárie, alegando ser isso coisa comum por todo Brasil. O Delegado geral da Polícia Civil do Pará, teve o desplante de afirmar que a jovem deveria sofrer de problemas mentais. Não foram capazes de imaginarem de que tudo isso, longe de abrandar a situação, só a agravaria. Foi o típico caso em que as emendas saíram piores do que o soneto; e vergonhosamente, ratificaram o que o Brasil inteiro já desconfiava: o abissal despreparo intelectual e moral dos responsáveis pela administração pública paraense; fato sobejamente demonstrado pelo comportamento das autoridades envolvidas no caso, que compareceram a audiência pública no Senado.

Causa perplexidade o fato do estado do Pará está sendo governado pelo PT, arauto dos direitos individuais e coletivos. Causa, além de indignação, muita tristeza, principalmente entre as mulheres, o fato de está uma mulher na chefia do Executivo Estadual; outra mulher presidindo o Tribunal de Justiça; uma outra mulher na Secretaria de Justiça; Pasmem, uma Delegada comandava a Delegacia onde tudo ocorreu e uma Juíza teria permitido o horrendo caso. E eu, que sempre pensei que as mulheres – eternas vítimas de todo tipo de preconceito e discriminação – em chegando aos Poderes contribuiriam para a construção de um mundo mais solidário e mais justo, simplesmente, fiquei desolado.

Conversei com dezenas de pessoas sobre o caso, e uma coisa me chamou atenção: a maioria de nível intelectual ou econômico mais elevado – apesar de ser mais bem informada – ignorava que barbáries como a ocorrida no Pará ainda pudesse acontecer no Brasil. Enquanto entre os menos escolarizados e mais pobres o fato sequer causa surpresa... Isso demonstra o estado de resignação a que chegou o nosso humilde povo. É uma aceitação tácita e inconsciente de que contra os pobres, os pretos e as prostitutas são tolerados todos e quaisquer tipos de degradação. Isso é uma desgraça! É uma infâmia! É um escárnio!... Logo contra as mulheres, que têm a missão sublime de gerar e proteger no ventre, por algum tempo, vidas e vidas, para a perpetuação da espécie.

Causou espanto e vergonha ao Brasil o comportamento das autoridades paraenses, na audiência pública realizada na Comissão de Direitos Humanos do Senado. Se não bastassem as infelizes colocações do Delegado Geral, nenhuma teve inteligência, dignidade e humildade para pedir desculpas ao povo brasileiro. O que, aliás, era um dever, uma obrigação. A própria governadora causou náuseas ao País! Adentrou a sala de audiências em clima de pop-star. Nariz empinado; sorriso estampado; e braços abertos, esperando ser festejada. Quando deveria – se é que deveria ter ali comparecido – ter adentrado cabisbaixa e pedindo mil desculpas ao Brasil e ao Mundo; pois ali não havia o que festejar.

A ONU acaba de colocar o Brasil entre as Nações de bom índice de desenvolvimento humano. Francamente, o critério de avaliação não pode ser justo! Basta lembrarmos o que disse o delegado geral da polícia civil do Pará: “dos 132 municípios do Pará que têm Delegacias de Polícia, em 123 delas sequer há vasos sanitários para os detentos”. E veja-se que o Pará é um dos estados dotados de grande riqueza natural; que em Belém, sua capital, ficou sediada, por décadas, a SUDAN, de cujos cofres EVAPORARAM-SE, em poucos anos, TRÊS BILHÕES DE REAIS – dinheiro que daria para construir e equipar DEZ MIL DELEGACIAS DE POLÍCIA, ao custo de TREZENTOS MIL REAIS CADA UMA, e dotadas da estrutura que a modernidade tecnológica e a civilidade recomendam.

Para onde foram os TRÊS BILHÕES DE REAIS sumidos dos cofres da SUDAN? Bem, uma parte está enterrada em sucatas de obras inacabadas; outra parte deve ter sido usada para comprar votos nos momentos de eleições; grande parte deve estar aplicada em AÇÕES de Sociedades Anônimas; e outra deve estar aplicada em contas bancárias em nomes de laranjas. É assim, que os grandes canalhas da história mantêm um terço do povo brasileiro em situação degradante e uma guerra permanente, produzida pelo choque entre a miséria e revolta de muitos e a luxúria e orgia de uns poucos.

Como somos contraditórios e estúpidos! Exatamente neste momento, discute-se, no Rio de Janeiro e nos Estados Unidos da América, respectivamente, métodos para não causar sofrimentos aos animais, ao tê-los que usar como cobaias, e aos condenados à pena de morte no momento da execução. Enquanto isso, irmãos nossos – às vezes até inocentes – são submetidos a tratamentos brutais, desumanos!... Uma coisa precisa ser ensinada às crianças de todo Mundo, a partir do primeiro dia de aula: enquanto um ser humano, em qualquer lugar do planeta, estiver subjugado e sujeito a condições degradantes, significa que a humanidade não atingiu o grau de civilidade imaginada pelos dotados de genialidade e grandeza moral.

Modificar este quadro não é tarefa fácil, porém, perfeitamente possível. E o meio mais eficaz e de resultados definitivos tem sido pregado com a clareza da luz solar e muita determinação pelo Senador Cristóvão Buarque: “UMA REVOLUÇÃO EDUCACIONAL”. Pena que o Brasil não tenha ouvidos para conteúdos inteligentes e sábios!... Pena que a maioria não compreenda que o caso do Pará não simboliza, em si mesmo, o que há de mais nefasto!... Pena que os detestáveis substantivos que deram título a esta matéria, assim como o caso em debate não sejam vistos pela maioria do povo, tão-somente, como conseqüências da incompetência, da desonestidade e da falta de EDUCAÇÃO E CONSCIÊNCIA, causas-mãe da indiferença e omissão da sociedade, que, em não reagindo, estimula novos e tenebrosos casos.

Imperatriz, 30 de novembro de 2007.

E-mail: francimargomesmoreira@yahoo.com.br

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