14 de outubro de 2013 | 09:50
Graças ao Valor, ficamos sabendo que Marina Silva, a campeã da transparência, teve um encontro privado (secreto seria melhor, porque nem sequer foi informado que haveria a reunião, da qual só se soube por uma nota na coluna de Sonia Racy, no Estadão) com a “turma da bufunfa” reunida pelo Banco Credit Suisse.
Conversar, com quem quer que seja, não é um problema – antes, é um dever – de qualquer candidato, como está evidente que Marina é, mas chama atenção o que foi dito.
Transcrevo:
“A ex-senadora defendeu a volta do tripé macroeconômico baseado na adoção de metas de inflação, câmbio flutuante e política fiscal geradora de superávits primários. Conforme relato de investidores que estiveram no encontro, ela disse que o tripé “ficou comprometido e é preciso restaurá-lo”.
Bem, como se sabe que esse colar cervical implantado sobre a economia brasileira – para que ela não deixe de estar voltada para os interesses do “mercado” – jamais foi retirado, mesmo pelos governos Lula e Dilma, mas simplesmente afrouxado, o que Marina propõe pode ser resumido em uma palavra: arrochá-lo.
E como é “arrochar” esta coleira?
Primeiro, cortar gastos e investimentos. Nada de inventar ampliação de programas sociais, expandir investimentos e nada que tire nossos olhos de gerar superávits primários “expressivos, sem manobras contábeis”.
Manobras contábeis de que tipo? A de tirar os investimentos do PAC das contas do superávit que o “mercado” nos exige?
O que propõe a líder da nova política, quase sem rebuços, a líder da nova política é voltarmos aos tempos de Fernando Henrique. Com muito boa vontade, talvez, aos primeiros anos do Governo Lula, quando este ainda teve de manter o tal colarzinho neoliberal apertado, até que a água tivesse baixado do pescoço e permitisse a ele se mover.
Dia ainda o jornal:
“Na avaliação dela, o combate à inflação foi relegado (sic)pelo governo. Para recuperar a credibilidade, afirmou, é preciso dar ao mercado sinais claros, “quase teatrais”, de que a inflação será levada ao centro da meta.”
Como seria este relegar (supõe-se que a uma posição secundária) o combate a inflação? Aumentar mais as taxas de juros? Impedir aumentos salariais, especialmente na administração pública? Cortar financiamentos e subsídios públicos? Travar os programas de transferências de renda?
Seriam perguntas interessantes a fazer para a candidata que “arrendou” o PSB para seus apetites eleitorais, se a imprensa brasileira, em relação a Marina Silva buscasse alguma objetividade, fora das expressões pernósticas e vazias.
Quanto aos “gestos teatrais” de que a inflação será levada ao centro da meta, de tão ridículo, é algo que me poupo de comentar. A ideia de aterrorizar o país em relação a aumentos de salários, de preços e de falta de recursos para ações sociais é tão velha e inútil quanto os “fiscais do Sarney”.
Nenhuma palavra sobre os desafios sociais que o Brasil precisa enfrentar, apenas sobre o regresso a práticas que só aumentaram este passivo do país para com o povo brasileiro.
Marina vai completando sua anti metamorfose e se oferece como a possibilidade de dar uma cara nova ao que, nos últimos anos, tem sido a forma de dominação deste país: ser governado para a moeda, não para o povo.
Não é à toa que os endinheirados da plateia tenham adorado:
“Com um discurso marcado por questões caras ao mercado financeiro, a ex-senadora foi descrita como “impressionante” e “cativante” por fontes que assistiram à palestra”.
Marina absorveu a ideologia das elites. Já pode ser seu instrumento.
PS. Alguém aí sabe o que pensa Eduardo Campos? Ou será que o contrato de arrendamento do PSB impõe silêncio?
PS 2. Troquei o título, que melindrou leitores. É evidente que não falei de doença, até porque tenho algumas pretéritas e outras futuras passagens por hospitais.
Por: Fernando Brito
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