João Baptista Herkenhoff
Todos temos o direito de ter manias. De minha parte cultivo a mania de livros. Nasci numa casa cercada de livros, numa cidade que ama livros (Cachoeiro de Itapemirim). Meu tio Augusto Emílio Estellita Lins, cuja residência é hoje a sede do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, era dono da provavelmente maior biblioteca particular do Estado. Paulo, meu irmão mais velho, conseguiu organizar um admirável acervo de obras de autores capixabas.
Minha mania de livros começa pela paixão de escrevê-los e publicá-los. Estreei nas letras numa edição mimeografada de péssima qualidade. A partir do segundo livro já me utilizei do invento de Gutenberg. Depois de três obras, editadas com recursos próprios, tive o primeiro livro publicado por uma editora. Mas as editoras não querem correr o risco do encalhe. Convocam o autor para suplementar a aventura adquirindo ele próprio seus livros, pelo menos quando se trata de obras de pouco trânsito comercial. Ter os exemplares acumulados dentro de casa incomoda. Destruir os livros constrange. O jeito é distribui-los de graça.
No desempenho desta tarefa, começo mandando os livros para as bibliotecas públicas de todos os municípios do Espírito Santo. Mas essas doações não dão conta do estoque.
Tem inicio uma nova etapa: mandar livros para bibliotecas públicas de todos os Estados brasileiros.
Mas aí reflito: só vou oferecer meus próprios livros? Por que não distribuir livros de autores capixabas, que eu tenho em duplicata? E assim lá seguem títulos de Antônio de Pádua Gurgel, Athayr Cagnin, Gabriel Augusto de Mello Bittencourt, Geir Campos, Homero Mafra, Renato Pacheco, Rubem Braga.
Cumprida toda essa faina, verifico que ainda há livros que escrevi prontos para viajar. Começo então o périplo internacional, fazendo ofertas não apenas para Portugal, onde brotou a “última flor do Lácio inculta e bela”, mas também para os países de Lingua Portuguesa: Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Macau, Timor Leste.
Mas nem assim as prateleiras ficam vazias. Resolvo então ofertar livros para países onde não se fala Português, mesmo aqueles cujo idioma está ao desabrigo da família linguistica indo-europeia. Afixo em cada exemplar um release em idioma bastante conhecido – francês, inglês, espanhol, alemão ou italiano.
E assim, superados os obstáculos, os livros estão disponíveis em bibliotecas de todos os países do mundo, sem uma única exceção. Mantenho arquivadas as cartas que agradeceram a oferta.
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