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segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Encontro debate cura indígena

Sobral. Alunos do curso de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), campus de Sobral, participaram de um evento que reuniu o pajé da etnia Tremembé Luis Caboco, lideranças da área de saúde e o povo Tremembé de Almofala. O encontro serviu para entender o tratamento e a cura de doenças feitas pelos pajés, a partir das práticas mágicas e das plantas.

Atualmente, a medicina indígena é um recurso para a cura de enfermidades graves, que ganha força pela prática de exercícios físicos, dieta equilibrada, ausência de drogas e valorização da qualidade de vida. O evento é uma promoção do Laboratório de Identidade, Cultura e Subjetividade (Laicus) e da disciplina Atendimento Básico em Saúde. O grupo discutiu a medicina indígena, em seus mitos e rituais, uma vez que a cultura influencia a saúde e a forma como lidam com o corpo.

De acordo com o professor Babi Fonteles, coordenador do Laicus, esta foi uma das formas encontradas para fazer com que a cultura indígena entrasse na universidade pela porta da frente. "A cultura indígena de Tremembé de Almofala entra nesse momento de uma forma muito interessante a partir dos saberes, dos conhecimentos, das vivências que os Tremembé têm em relação às questões de saúde e de como tratar essas questões numa relação muito profunda e espiritual", destacou Babi.

Durante o encontro, índios e índias aproveitaram para contar causos em que a doença foi vencida pela tradição indígena de cura. A índia Maria Bela conta que estava com câncer, e que apesar de ter procurado tratamento com médicos em Fortaleza, foi dentro da aldeia que encontrou a cura. Ela relatou que, passado um período, retornou ao consultório do médico e descobriu que estava curada.

Babi destaca que entre os indígenas existem práticas culturais em que o espiritual e a saúde física estão muitos ligados. "Muitas das doenças com que lidam os índios são contornadas por sua prática médica", disse.

Apesar disso, a expectativa de vida indígena é bem mais baixa que a do homem urbano, que conta com os recursos de hospitais e toda a alopatia. Isso não quer dizer que várias das ervas usadas pelos pajés sejam descartadas, pois muitas delas possuem princípios ativos que, inclusive, vêm sendo objeto de pesquisa científica e que já compõem vários dos remédios que se procuram nas farmácias.

Mas para o pajé Luis Caboco, os remédios alopáticos não fazem bem ao índio. "Esses remédios têm droga. O nosso remédio é tradicional, é caseiro. Sendo nosso a gente sabe como tomar", pontua. A casca do cajueiro brabo, por exemplo, é um ótimo remédio para quem sofre de diabetes. Da bata de purga vem o alívio para a dor de dente e o jatobá serve para curar a gripe e a dor.

Babi Fonteles acrescentou que "levar essa cultura para a universidade é importante por se tratar de um momento muito rico em conhecimento". (DN).

Por Wilson Gomes

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