Bruno Peron
As culturas digitais surgiram a partir de experiências, práticas e usos através dos meios eletrônicos de comunicação, que manifestam importâncias relativas em função dos interesses de seus consumidores-usuários e da tecnologia destes meios.
Os vídeo-games já não oferecem só entretenimento a poucos jogadores por animações gráficas, mas trazem também espaço em memória física para armazenar arquivos e sistemas de acesso à Internet que permitem jogar em tempo real com pessoas de outros países.
Há portais virtuais que oferecem acesso a centenas de estações de rádio do mundo todo sem que se tenha que ligar aparatos convencionais de som. Ouve-se a rádio pelo computador. A indústria editorial também modifica-se com o comércio de livros digitais, como o Kindle da Amazon.
Hoje tudo passa por um monitor. A comodidade dos consumidores-usuários dos meios eletrônicos de comunicação inibe-os até de folhear dicionários impressos porque os virtuais são mais ágeis (para os que têm prática de digitação e navegação) e dispõem de acepções múltiplas. Os tradutores virtuais têm reduzido as distâncias linguísticas entre pessoas que não se entendiam por não conhecer nenhuma das línguas europeias hegemônicas ou não mais que uma delas (inglês, francês, italiano, alemão, espanhol, português, etc.).
Contudo, as culturas digitais ainda se adaptam à tendência de fazermos tudo pela Internet. Já se compra em supermercados virtuais. A situação se complicará se, nas próximas eleições, pudermos votar pela Internet em substituição às exemplares urnas eletrônicas brasileiras, que evadem tanta dor de cabeça a contraexemplo das últimas eleições presidenciais mexicanas.
Fazer política pela Internet tem duas facetas. A prática é proveitosa na medida em que este meio tem servido para formar foros de discussão, espalhar denúncias, discutir promessas de campanha e dar recomendações a outros internautas. A notícia espalha-se rapidamente pela Internet, cujo meio transformou-se numa praça pública onde as pessoas encontram-se e interagem. Estes são alguns dos argumentos que encontro para não demonizar os meios como causadores dos males atuais da humanidade. Quanta ignorância podemos suprimir com tão pouco esforço!
No entanto, há grupos e instituições que discutem formas de censurar e controlar conteúdos e práticas na Internet. O mais enérgico deles é o de direitos de propriedade intelectual. Os opositores da pirataria brigam contra a queda abrupta da venda de discos compactos que se explica pelas formas digitais de consumir música (YouTube) e baixar arquivos (Torrent). Cantores têm tido que vender seu trabalho com mais criatividade para não fenecer como aconteceu com as indústrias fonográficas que não se adaptaram. Eles têm investido em eventos (shows) e usos publicitários (aparições de cantores famosos para oferta de produtos).
A criatividade passa a ser uma necessidade não só dos produtores, mas também dos distribuidores e estrategistas de consumo das culturas digitais.
O tema das culturas digitais remete, portanto, às novas dimensões da militância política e ao deslocamento das práticas criativas à plataforma digital através de redes sociais, comércio eletrônico, mecanismos de busca e labores virtuais. Os acessórios que dão acesso à Internet, que hoje vai desde celulares a tablets, estão prestes a tornar-se roupas íntimas da humanidade. É aceitável que se mostre o corpo, mas seria um escândalo tirar a cueca ou a calcinha.
As formas indiretas de interagir com outros consumidores-usuários da Internet não são as únicas que sofrem modificação porque os usos da criatividade demandam novos hábitos e regularidades no cumprimento das necessidades quase básicas de imersão na Internet.
Fica cada vez mais difícil diferenciar hábitos-raízes de hábitos enraizados, visto que os meios de comunicação tendem a selecionar certas expressões culturais (muitas delas estranhas ao nosso vocabulário) para que todos as celebremos como nossas sem sabermos se o são ou não.
Nenhum comentário:
Postar um comentário