por Thalif Deen, da IPS
“Nunca na história as condições de vida e as perspectivas de tantas pessoas mudaram de forma tão dramática e rápida”, ressaltou Malik. Foto: Cortesia PNUD
Nações Unidas, 15/3/2013 – As 132 nações em desenvolvimento emergem a um ritmo “sem precedentes em sua velocidade e escala”, indica o último Informe sobre Desenvolvimento Humano (IDH), divulgado ontem. E “nunca na história as condições de vida e as perspectivas de tantas pessoas mudaram de forma tão dramática e rápida”, disse Khalid Malik, autor principal do estudo, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
“Sem dúvida alguma, as três maiores economias do Sul – China, Índia e Brasil –, são as forças motoras deste fenômeno, devido tanto ao seu enorme tamanho como pela velocidade de seu processo geral em desenvolvimento humano”, apontou Malik, diretor do Escritório do IDH, em entrevista à IPS. Até 2020, a produção econômica combinada dessas três nações emergentes ultrapassará as de Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Itália juntos, diz o estudo de 203 paginas. E “grande parte desta expansão é impulsionada por novas associações comerciais e tecnológicas com o próprio Sul”, segundo o IDH.
Os cinco primeiros lugares no Índice de Desenvolvimento Humano, com 187 países, estão ocupados por nações do Norte: Noruega, Austrália, Estados Unidos, Holanda e Alemanha. No fim da lista estão Estados do Sul: Burkina Faso, Chade, Moçambique, República Democrática do Congo e Níger. Porém, Malik destacou que o IDH 2013 identifica mais de 40 países em desenvolvimento, em todos os continentes, que melhoram seu desempenho em desenvolvimento humano, um progresso que se acelera particularmente desde 2000.
O estudo indica que o Sul “se desenvolve a um ritmo sem precedentes na história humana, com centenas de milhões de pessoas saindo da pobreza e outros milhares de milhões destinados a se integrarem a uma nova classe média mundial”.
IPS: O sul inclui países como México, Coreia do Sul e Chile, mas, como justifica sua categorização quando o México deixou o grupo dos 77 países em desenvolvimento para unir-se ao mundo industrial em 1994, a Coreia do Sul o fez em 1996 e o Chile em 2010?
Khalide Malik: Os termos Sul e Norte são usados no informe para distinguir entre as nações industrializadas já historicamente estabelecidas como tais (as desta última categoria) e as economias emergentes mais recentes. A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE), considerada o clube dos ricos, também inclui México, Coreia do Sul, Chile e Turquia, todos países que integram o Sul em seu sentido amplo. As origens geográficas e as conotações dos termos são, naturalmente, inexatas. Austrália e Nova Zelândia são considerados países do Norte.
A abordagem de desenvolvimento humano olha para as oportunidades e capacidades das pessoas. Foto: Kenia Ribeiro/CNM/PNUD Brasil.
IPS: O IDH coloca como referência do progresso do Sul temas de governança, como democracia multipartidária, direitos humanos e transparência. Como justifica, então, que a China, considerada pelo Ocidente um regime não democrático e sem liberdade de imprensa, surja como a segunda economia mundial? Não deveria ser a democracia multipartidária uma parte integral do processo econômico no Sul?
KM: O informe de 2013 identifica mais de 40 países em desenvolvimento, incluindo a China, que fizeram destacados avanços em desenvolvimento humano nas últimas décadas, progresso que foi acelerado nos últimos dez anos. Esses países representam uma variedade de histórias nacionais e sistemas políticos em evolução. A maioria deles, embora nem todos, seria caracterizada hoje como democracia multipartidária. O informe defende fortemente a favor de dar às pessoas maior voz e mais oportunidades para uma participação significativa na vida civil, o que tem sido por muito tempo a filosofia do desenvolvimento humano. O informe diz que a melhoria nos padrões de vida e nos níveis de educação deriva em maiores expectativas e mais demandas para os governos em termos de responsabilidade e efetiva prestação dos serviços sociais. O fato de que alguns “Estados desenvolvimentistas” (que promovem sua industrialização e desenvolvimento autônomo) não foram democracias em diferentes fases de sua evolução fomentou a ideia equivocada de que a maioria dos mais efetivos Estados desenvolvimentistas são tipicamente autocráticos. Mas a evidência da suposta relação entre autoritarismo e desenvolvimento é escassa. Países democráticos como Estados Unidos e Japão, depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), tiveram grande êxito como Estados desenvolvimentistas. Desde a década de 1950, os países escandinavos atuaram também como Estados desenvolvimentistas, onde a legitimidade política deriva dos serviços sociais e do pleno emprego, e não de um crescimento rápido. No Brasil, México, Chile, e em outros países da América Latina, o progresso do desenvolvimento humano se acelerou desde a consolidação dos governos civis democraticamente eleitos nas últimas duas décadas. A cultura política chinesa está evoluindo rapidamente, enquanto os padrões de vida melhoram, com uma sociedade cada vez mais informada e que cada vez exige mais prestação de contas do governo. A Índia, uma das principais forças do Sul emergente, é a maior democracia representativa do mundo por mais de seis décadas. Envolverde/IPS
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