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sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Escolha de Rei Momo magro causa protesto em Salvador

A escolha de um rei momo de 58 quilos resultou em protesto dos concorrentes obesos, que ficaram de costas para o palco, na festa da divulgação do nome do novo monarca do carnaval baiano, hoje (11), em um hotel da orla de Salvador. Os derrotados reclamam que a escolha do comerciante Clarindo Silva quebrou o regulamento do concurso promovido anualmente pela Federação dos Clubes Carnavalescos da Bahia, com apoio do Conselho Municipal do Carnaval, formado por entidades ligadas à folia. Mais de 60 quilos abaixo do mínimo permitido no regulamento original, a candidatura de Clarindo ganhou peso por representar o consenso entre o governo do Estado, que propõe o reordenamento do Carnaval, e a iniciativa privada, acostumada aos privilégios. O proprietário da Cantina da Lua, ponto de encontro de turistas no Pelourinho, assumiu a postura de "mensageiro da paz e do amor", como se intitula, e disse que não vai reinar "apenas para blocos de trio ou camarotes, mas também para os catadores de latinha". A polêmica da indicação do primeiro rei momo magro de que se tem notícia desde a antiga Roma é considerada uma quebra de paradigma possível, pois não incomoda ao mercado e, ao mesmo tempo, tem o aval dos técnicos do governo. Clarindo recebe a chave de Salvador, na noite de abertura do Carnaval, 31 de janeiro, em uma festa no bairro de Cajazeiras. A folia homenageia a capoeira, e coincide com uma outra festa popular, dedicada à orixá do mar, Iemanjá, no sábado dia 2 de fevereiro. O presidente do Conselho Municipal do Carnaval, Reginaldo Santos valorizou a escolha de um rei momo magro, como forma de "rediscutir as questões para fazer as mudanças que a festa precisa". O grupo Vigilantes do Peso comemorou a decisão. Segundo a líder dos 2 mil gordinhos baianos, Maria Célia Fonte, o rei momo magro é a "nova cara do carnaval baiano, com um perfil elegante, recuperando a importância de se buscar saúde com alegria". O sociólogo Ubiratan Castro, presidente da Fundação Pedro Calmon ligada ao governo do estado, disse que o uso anterior da gordura "para fins comerciais, era obsceno". Para ele, que já foi rei momo e tem 155 quilos, "toda tradição também pode mudar" Castro lembra que gordura não quer dizer nada, pois já houve até um rei momo estelionatário, a quem o ex-prefeito Antonio Imbassahy se recusou a entregar as chaves da cidade. "Já estive num concurso de rei momo e nunca vi nada mais ridículo". O presidente da Empresa de Turismo de Salvador (Emtursa), Misael Tavares, que tem ótimo relacionamento com os blocos de trio, considerou "ótima" a indicação de Clarindo, mas transferiu a responsabilidade para a federação dos clubes carnavalescos. O presidente da federação, Jairo da Mata, disse que "toda polêmica é saudável". Para Mata, desde o rei momo conhecido por Ferreirinha, o carnaval baiano não tinha um monarca tão representativo da cidade, como é o caso de Clarindo. O nome do comerciante Antônio Moreira, do restaurante Porto do Moreira, centro de Salvador, também foi lembrado para o trono, mas ele recusou: "O pessoal cogitou, mas em troca de nada? Todo mundo tá ganhando, se fizerem uma proposta, tudo bem". Moreira não está convencido de que a súbita mudança de regulamento foi uma decisão justa. "Perdemos a tradição de o rei momo ser gordo, não sei se foi uma boa", disse. Para ele, faltou planejamento. "Não tinham nem verba para fazer o concurso". A promotora de Defesa da Cidadania do Ministério Público, Eliete Viana, ficou de enviar um ofício à federação dos clubes carnavalescos para questionar a mudança dos critérios, com base nas queixas dos concorrentes que já desconfiavam da indicação de Clarindo Silva. Um deles é o presidente da Associação dos Gordos e Obesos de Salvador (Asgobs), Edicles Calmon, que entrou com representação no Ministério Público. Ele se considerou lesado com o cancelamento do desfile e a concorrência por currículo. O vencedor de 2007 e candidato a reeleição, Edgar Passos, não aceitou o ressarcimento pelo dinheiro investido nas fantasias. Os candidatos obesos dizem terem se dedicado a comer mais durante os últimos meses, em uma rígida rotina hipercalórica, e consideram injusto serem reduzidos a "príncipes momos", como é idéia da federação. Durante o Carnaval, eles prometem ir às ruas vestidos de rei.
Agência Estado

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