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domingo, 23 de março de 2014

O que explica a ação retardada de JB contra Noblat?

 

Noblat versus JB

Noblat versus JB

A conhecida morosidade da justiça se manifestou mais uma vez no movimento de Joaquim Barbosa contra o jornalista Ricardo Noblat.

Foi uma ação retardada.

Passaram-se sete meses desde que Noblat escreveu, no Globo, um artigo que JB considerou racista e nocivo à sua honra.

No artigo, para muitos um dos raros acertos de Noblat, está dito que JB chegou ao STF por sua cor.

Esta é uma verdade.

Frei Betto já contou o que ocorreu. Lula queria um negro no STF. JB sabia, e um dia viu Betto no aeroporto de Brasília e o abordou.

O resto é história.

Noblat afirmou que JB não é exatamente uma sumidade jurídica. Os especialistas podem falar disso com mais propriedade.

Para nós, leigos, o palavreado titubeante e pouco claro de JB sugere que Noblat está certo – embora os demais magníficos integrantes do STF, salvo exceções, também não provoquem entusiasmo e muito menos admiração.

A coisa que melhor os define me foi contada por um amigo jornalista. Ele estava numa padaria, ao lado de populares que acompanhavam o julgamento do Mensalão.

Um juiz falou, e falou, e falou, e enfim votou. No final, um dos homens que viam o julgamento na padaria perguntou aos que o rodeavam: “Condenou ou absolveu?”

De concreto, o que se sabe é que JB não tem obra relevante sobre direito – nem livros e nem artigos que sejam citados e reconhecidos.

A parte mais complicada do artigo de Noblat diz respeito à raça.

Minha visão é que, por não ser branco, Noblat se permitiu falar coisas que em geral ninguém quer falar.

É mais ou menos como piada de judeu. Só aceitamos que judeus as contem, ou ficamos horrorizados com o que entendemos ser preconceito.

Noblat afirmou que certos negros, em posição de mando, são mais duros do que seria necessário, para se afirmarem.

Não tenho a menor ideia sobre se esta tese faz sentido, mas suspeito que não. Joaquim Barbosa não faz nada que colegas seus brancos como Gilmar Mendes não façam.

A mim, pessoalmente, me parece um mau juiz, pelo instinto de algoz, mas isso nada tem a ver com a cor.

O que a iniciativa tardia de Joaquim Barbosa pode revelar é o fim da lua de mel dele com as Organizações Globo.

Dias atrás, circulou na internet uma foto na qual JB dormia profundamente numa sessão de um órgão que não era o STF.

O que se dizia era que tinha sido publicada pelo Globo, com a informação de que JB recebia jetom pela participação na reunião.

JB teria se vingado?

Noblat não é a Globo, mas é o nome da Globo mais vinculado a uma área estratégica para o futuro (ameaçado) da emissora: a internet.

Isso explicaria a ação retardada?

Talvez sim, talvez não.

O fato é que JB, no final de sua jornada como presidente do STF, já percebeu que nos últimos meses até o cafezinho que servem a quem se vai está frio.

O “menino pobre que mudou o Brasil”, como escreveu a Veja no auge de sua bajulação interessada, não vingou.

Não virou um novo Collor, não virou um anti-Lula e nem mesmo um anti-Dilma.

Não virou nada, na verdade.

Voltou a ser o que era antes do encontro com Frei Betto no aeroporto, com a diferença de que parece ter ficado encantado com os holofotes que vão sumindo.

Paulo Nogueira

Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

Fonte: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-que-explica-a-acao-retardada-de-jb-contra-noblat/

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