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quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Polícia queniana tenta impedir à força protesto da oposição

A polícia queniana tentava dispersar à força nesta quinta-feira, 3, centenas de partidários da oposição que pretendiam participar em uma manifestação convocada em Nairóbi pelo candidato derrotado da oposição na eleição presidencial, Raila Odinga, e considerada ilegal pelas autoridades.

A polícia utilizou jatos d'água, bombas de gás lacrimogêneo e deu tiros para o alto. Os partidários de Odinga se reuniram ao redor de barricadas em chamas perto da favela de Kibera, um dos redutos do líder opositor.

"Tivemos que dispersá-los porque não estão autorizados a protestar na cidade", declarou à AFP um dos comandantes da polícia, Herbert Khaemba.

"Recordamos mais uma vez que esta concentração foi declarada ilegal e que toda pessoa que tomar parte nela será tratada de acordo com a lei", advertiu o porta-voz da polícia, Eric Kiraithe.

Pelo menos 342 pessoas morreram na onda de violência política e étnica que explodiu no Quênia após o anúncio da vitória nas eleições de 27 de dezembro do presidente Mwai Kibaki, segundo um balanço da AFP com base em informações da polícia e dos necrotérios do país.

Um total de 100.000 pessoas estão desabrigadas pela violência que afeta o país desde as polêmicas eleições gerais, segundo um novo balanço da Cruz Vermelha queniana, que fez um pedido de doações.

"Segundo nossas primeiras estimativas, precisamos de 500 milhões de shillings (7,5 milhões de dólares) para ajudar pelo menos 100.000 pessoas no país", declarou um dos principais diretores da Cruz Vermelha queniana, Abdi Ahmed.

Dos desabrigados, 70.000 se encontram no oeste do Quênia, cenário dos piores atos de violência registrados nos últimoss dias, e outros 30.000 na região de Nairóbi.

Nairóbi acordou nesta quinta-feira em clima de estado de sítio, com milhares de policiais mobilizados na capital para reprimir a manifestação.

Todos os acesos a Kibera - pela qual Odinga é deputado - foram fechados pelas forças oficiais.

No centro da cidade, membros da polícia paramilitar cercaram o parque Uhuru, onde Odinga pretendia se reunir com seus simpatizantes.

Na quarta-feira, a capital queniana retomou as atividades normais, após uma semana de paralisia total, mas as lojas não abriram as portas nesta quinta-feira por causa dos temores de novos confrontos.

Os esforços diplomáticos ganham força para tentar concretizar uma reunião de Kibaki e Odinga, o que poderia evitar o caos total no país.

O prêmio Nobel da Paz sul-africano Desmond Tutu está em Nairóbi para atuar como mediador. Uma fonte do Movimento Democrático Laranja de Odinga afirmou que Tutu, que chegou ao Quênia na quarta-feira, deve se reunir com o líder opositor em um tentativa de convencê-lo a aceitar um encontro com o presidente Kibaki.

O governo queniano, no entanto, não considera o prêmio Nobel da Paz um mediador internacional, por considerar que a situação não requer a ajuda estrangeira e que o país não está em guerra.

"Para nós, ele veio até aqui como turista, talvez para ir a Maasai Mara, porque nós não o convidamos para conversar conosco", afirmou à AFP uma fonte do governo.

A visita ao Quênia do presidente da União Africana, John Kufuor, ainda não foi confirmada.

Odinga acusa Kibaki de fraudar o resultado eleitoral com a manipulação de pelo menos 300.000 votos. O presidente venceu com uma vantagem de pouco mais de 230.000 votos.

As dúvidas sobre a credibilidade da eleição aumentaram depois que o presidente da comissão eleitoral, Samuel Kivuitu, afirmou não ter certeza do resultado, mesmo após ter anunciado oficialmente a vitória de Kibaki.

AFP

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