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sábado, 12 de janeiro de 2008

Mortos em ações da PM do Rio em favelas chegam a 10

Chegou a dez o número de mortos em duas operações da Polícia Militar (PM) do Rio em favelas. No Jacarezinho, na zona norte da capital fluminense, um confronto entre traficantes e policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope), com apoio de 50 PMs de três unidades táticas, no início da noite de ontem, resultou na morte de sete pessoas, entre elas, uma criança de 3 anos, e deixou um soldado ferido. Na Vila Cruzeiro, na Penha, também na zona norte, uma incursão do 16º Batalhão de Polícia Militar (BPM), na manhã de hoje, terminou com a morte de três supostos traficantes e a apreensão de um fuzil AR-15 e uma pistola 45. O objetivo das ações era reprimir o tráfico de drogas.

A ação policial na Favela do Jacarezinho começou na manhã da última quinta-feira (10), quando foram apreendidos 25 quilos de maconha. A polícia deteve quatro homens que estavam próximos ao entorpecente. Eles foram obrigados por PMs a carregar a droga para um carro policial. Levados para a 25ª Delegacia de Polícia (DP), eles foram liberados por falta de provas e porque não tinham antecedentes criminais. Em seguida, os PMs apreenderam 53 motos com documentação irregular. Os atos considerados arbitrários provocaram uma tentativa de protesto de alguns moradores no fim da tarde de ontem, quando o Bope saía da favela.

Segundo a polícia, os manifestantes ameaçaram fechar a Avenida D. Hélder Câmara e foram impedidos pelos policiais do Bope, que entraram, novamente, na favela, no início da noite. Foram recebidos a tiros. "Houve um intenso tiroteio. Na ocasião, três traficantes foram mortos e um soldado do Bope foi ferido, mas não corre risco de morte", disse o comandante Alberto Pinheiro Neto.

De acordo com a polícia, os três primeiros mortos foram baleados em confronto com o Bope. Eles foram identificados como Flávio Augusto de Oliveira Serrano, de 16 anos, cuja família nega envolvimento com o tráfico, Rogério Moura de Paula e Fábio Luiz Chagas Ruffino, os dois de 30 anos. Em seguida, três tiros atingiram Wesley Damião Saturnino Barreto, de 3 anos. A mãe saía de um mercado com o outro filho de 6 meses no colo e levava Wesley pela mão quando o menino foi baleado. Socorrido por moradores, ele chegou morto ao Hospital Salgado Filho, no Méier (zona norte).

Pinheiro Neto afirmou não acreditar na ocorrência de balas perdidas e acusa os traficantes pelo assassinato de Wesley. "A mãe disse em depoimento ao 3º Batalhão de Polícia Militar que não viu nenhum policial por perto. O médico afirmou que os tiros foram de pistola e o Bope usa fuzis nas operações. Alguém atingido por três tiros não é vítima de bala perdida. Não é a primeira vez que esses criminosos atiram em inocentes para acusar a polícia. Eles são terroristas e usam a população como escudo", acusou o comandante do Bope.

Relato

Além das motos, a polícia apreendeu quatro pistolas, 600 trouxinhas de maconha, 60 tabletes da droga e 125 papelotes de cocaína e retirou barricadas com trilhos de trem. Num relato informal feito hoje à tarde ao subprocurador de Direitos Humanos do Ministério Público do Estado (MPE), Leonardo Chaves, representantes do Movimento Jacaré pela Paz acusaram policiais do Bope pelos disparos. Eles afirmaram que os policiais entraram na comunidade pela manhã e permaneceram escondidos dentro de uma casa - que foi por eles arrombada -, mesmo depois que os colegas deixaram a favela, no fim da operação. À tarde, quando a vida dos moradores começou a voltar à normalidade e os traficantes ocuparam os pontos, os policiais posicionados na laje da residência dispararam contra os supostos criminosos. Os ativistas pediram a Chaves uma perícia no local. Segundo eles, é fácil provar que os disparos foram feitos de cima para baixo, o que confirmaria, na visão deles, a versão da emboscada, desmentindo a oficial.

O subprocurador de Direitos Humanos do MPE considerou as "revelações sérias e importantes". "Vamos apurar como ocorreram estas mortes. O que noto é que as pessoas estão com muito medo", apontou. "Somos a favor da ação policial de forma organizada. A Polícia Civil veio aqui, prendeu quem estava fora da lei e a população elogiou. Não se pode dizer o mesmo sobre a PM. Wesley não foi a primeira vítima, nem será a última", disse o representante do Movimento Jacarezinho, Elias Santos. O menino será enterrado amanhã no Cemitério do Irajá (zona norte).

Com o apoio de 80 policiais civis, uma escavadeira da Secretaria de Obras da prefeitura da capital derrubou o muro usado como casamata (abrigo) por traficantes do Morro da Mangueira, na zona norte, descoberto pela polícia durante uma operação policial no início da semana. Houve troca de tiros com criminosos e três granadas foram apreendidas. Ninguém ficou ferido.

Agência Estado

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