De uns tempos para cá a igreja católica vem dando especial atenção aos
casais em segunda união. O número de separações cresceu muito,
evidenciando que as pessoas encontram dificuldade em manter um
relacionamento que perdure no tempo. As causas para isso são inúmeras, e
acho complicado julgar quem quer que seja; tendo em vista que somente os
envolvidos conseguem avaliar exatamente como se sentem em relação à
situação conjugal, de que forma são tratados, e o quanto isso contribui
para o crescimento mútuo ou para o empobrecimento da autoestima,
surgimento da depressão ou outros transtornos de ordem psicológica e
emocional.
A cada fase do relacionamento afetivo temos desafios a enfrentar. Quando
se é jovem, talvez uma das coisas mais difíceis seja romper os laços com a
família anterior e sua influência, assumindo a vida de casados: “o homem
deixa pai e mãe e se une à sua mulher” (Gn 2, 24a). As primeiras
adaptações são dolorosas porque cada qual tem o seu costume; foram criados
em famílias diferentes, com prioridades diversas. Passam a assumir muitas
responsabilidades que aumentam cada vez mais, principalmente após o
nascimento dos filhos. Vai se delineando a forma como o casal
preferencialmente se relaciona. Alguns “entre tapas e beijos”, outros
“cedendo sempre”, muitos “abrindo mão de seus gostos e desejos”. Aquele
amor, aquela paixão inicial, vai dando lugar à acomodação. Passamos para
outra fase do relacionamento.
Vencidos os desafios iniciais, no momento em que se encontram
aparentemente estabilizados, os filhos crescidos, a vida mais organizada;
percebem que já não são marido e mulher há muito tempo. Viraram irmãos,
mãe e filho, pai e filha, parentes. O calor que existia no início e
aquecia as noites frias não existe mais. Existe apenas uma companhia (nem
sempre agradável) que nos recorda sermos casados.
Às vezes, a constatação dessa mudança, por incrível que pareça, é
unilateral. Alguém está muito bem; comodamente desfrutando das benesses
que acabou angariando com a estruturação do modelo conjugal adotado pelo
casal ao longo dos anos. Enquanto isso, alguém está muito mal; sofrendo
com a condição que acabou lhe sendo imposta pelo desgaste da relação a
dois. Ora, algo precisa ser feito para que não aconteça o pior e
sobrevenha a ruptura.
Mas, e quando a voz de um não é ouvida pelo outro? Quando a irritação, a
depressão e o abandono não são percebidos? Quando os sinais do desgaste
não são notados porque está bom demais para um e ruim demais para o outro?
Aí, infelizmente, é o fim do casamento. E não adianta prantear querendo
ressuscitar algo que se foi. Não queira julgar ou arrumar culpados para um
problema que nasceu no seio de um arranjo conjugal mal sucedido. Não dá
para manter um relacionamento em que apenas uma das partes vive com
satisfação. Isso pode até acontecer, mas já não é matrimônio. Assemelha-se
mais à prisão ou manicômio. Quem quiser preservar seu casamento mantenha
os olhos e ouvidos bem abertos, a sua conduta flexível e o seu coração
apaixonado.
Maria Regina Canhos Vicentin (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é
escritora.
O site da autora: www.mariaregina.com.br.
sábado, 24 de novembro de 2012
O fim do casamento
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