Por Vera Rosa, Julia Duailibi e Amanda Rossi | Estadão Conteúdo
A presidente Dilma Rousseff quer reeditar a aliança com o PMDB em 2014, quando pretende concorrer a um segundo mandato. A estratégia para o novo casamento começou a ser construída em São Paulo, com o apoio do PMDB ao candidato do PT à Prefeitura, Fernando Haddad, e já virou prioridade em outras praças. Com o radar voltado para a montagem de um palanque nacional pró-Dilma, a meta dos dois partidos é isolar o PSDB e dar um sinal de alerta ao PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que se movimenta para assumir posição de destaque no jogo de 2014.
O mapa político indica que o PT terá o PMDB ao seu lado em pelo menos 10 das 22 cidades onde disputa o segundo turno. Nelas, há um universo de 11,9 milhões de eleitores que os petistas pretendem conquistar no próximo dia 28 com o apoio do aliado.
Até agora, os principais acordos do PMDB para a segunda etapa da eleição foram costurados pelo vice-presidente Michel Temer, licenciado do comando do partido, com uma tática que vai além da dobradinha para as prefeituras. Na prática, Dilma, Temer e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva trabalham para a construção de parcerias mais amplas com a base aliada, de olho nas disputas aos governos estaduais e ao Palácio do Planalto, daqui a dois anos. A ofensiva pretende avançar sobre os domínios do senador Aécio Neves (PSDB-MG), provável adversário de Dilma em 2014, derrotar o tucano José Serra em São Paulo e impedir Campos de alçar voo próprio.
Embora setores do PT defendam reservadamente a volta de Lula, a tendência é a candidatura de Dilma. “A única possibilidade de eu voltar ao governo seria se Dilma não quisesse se reeleger. Não posso permitir que um tucano volte a governar”, disse o ex-presidente, em maio, no Programa do Ratinho, transmitido pelo SBT. Lula não mudou de ideia desde então. Até hoje, repete o mantra a dirigentes de partidos.
Em São Paulo, Lula e Temer fecharam o acordo que selou o apoio de Gabriel Chalita, candidato derrotado do PMDB, à campanha de Haddad, contra José Serra (PSDB). O PMDB nega moeda de troca eleitoral, mas o pacote da adesão prevê a transferência do deputado Chalita para um ministério. Ele deverá ganhar um cargo na Esplanada quando Dilma fizer a reforma na equipe, no início de 2013, levando em conta a nova configuração das urnas. Chalita já gravou mensagem para Haddad na propaganda de TV. Sua missão, agora, é atrair votos dos católicos.
Exigência
O presidente do PMDB paulista, Baleia Rossi, admite que o pano de fundo para a união com o PT nos embates municipais é a sucessão no Planalto. “Nosso projeto é nacional. Temos como objetivo manter essa aliança vitoriosa”, afirmou Rossi. “A primeira exigência na costura das parcerias pelo Estado é o apoio à candidatura de Dilma, em 2014”, emendou o presidente do PT de São Paulo, Edinho Silva.
O PMDB controla hoje 5 dos 39 ministérios (Minas e Energia, Previdência, Agricultura, Turismo e Assuntos Estratégicos), mas avalia que precisa de pastas com mais visibilidade política. Além disso, os números mostram que o partido de Temer é mais fiel do que o PT e seu principal parceiro em São Paulo, o maior colégio eleitoral do País.
Com finalistas para o segundo turno em 16 cidades, que reúnem 5,7 milhões de eleitores, o PMDB conta com apoio dos petistas em apenas cinco (Sorocaba, Florianópolis, Campina Grande, Guarujá e Volta Redonda). O número, porém, pode crescer, pois o PT ainda não se posicionou em Joinville, Cariacica e Uberaba.
Em Natal, os petistas não se uniram ao candidato do PMDB, Hermano Morais, e decidiram dar “apoio crítico” ao concorrente do PDT, Carlos Eduardo Alves. A capital do Rio Grande do Norte integra uma lista de pelo menos 16 cidades onde o PT e o PMDB estão em campos opostos, mas não necessariamente com candidatos em confronto direto.
“A campanha em Natal terá a neutralidade de Dilma e de Lula. Nós agradecemos muito esse gesto”, disse o deputado Henrique Eduardo Alves, presidente do PMDB-RN e líder do partido na Câmara. Alves é primo de Carlos Eduardo, mas ambos estão rompidos. Em fevereiro, Alves deverá assumir a presidência da Câmara. E o comando do Senado pode voltar às mãos de Renan Calheiros (PMDB-AL), que renunciou ao cargo, em 2007, acuado por uma série de denúncias.
Dilma avisou aos parlamentares do PT que o acordo feito com o PMDB para dar ao partido de Temer a direção das duas Casas terá de ser cumprido. “Nós temos palavra”, afirmou a presidente, mandando recado aos petistas insatisfeitos. “A fotografia de hoje é essa, muito nítida. Se vai mudar eu não sei, mas tudo indica que o retrato será o mesmo”, previu Alves.
Fichas
Apesar de presidir o PSB, partido que mais cresceu até agora nas eleições, Eduardo Campos nega que suas articulações sejam para enfrentar Dilma. Enciumado, o PMDB avalia que o governador quer desbancar Temer da vice, em 2014, para se lançar ao Planalto, em 2018. Nos bastidores, o comentário é de que Campos “joga com fichas terceirizadas”. É uma provocação à aliança do prefeito reeleito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), com Aécio. Na capital de Minas, o PMDB desistiu da candidatura própria, a pedido de Dilma, para patrocinar Patrus Ananias (PT), que perdeu.
No Rio, o caminho foi inverso: o PT abriu mão da cabeça de chapa e apoiou a reeleição de Eduardo Paes (PMDB). Em Salvador, porém, o PT do governador Jaques Wagner e o PMDB do ex-ministro Geddel Vieira Lima vivem às turras. Lá, os peemedebistas não chegaram ao segundo turno.
Agora, o mais forte polo de articulação da dobradinha PT-PMDB está em São Paulo. Além de endossar Haddad, Temer atuou para o PMDB avalizar Márcio Pochmann (PT) em Campinas e impediu a adesão a Jonas Donizette (PSB), discípulo do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Nas negociações, o PMDB acertou com Lula e Dilma a gravação de mensagens de apoio a seus principais candidatos no horário gratuito. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
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