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domingo, 22 de junho de 2014

Casais em nova união: outra chance ou condenação?*

 

Vivemos tempos em que proliferam as separações conjugais. Inúmeras são as causas. Resultam em justificativas mais ou menos aceitáveis socialmente: imaturidade, inconsequência, intolerância, vícios, violência, adultério, descaso, falta de amor... A lista segue infindável, pois cada qual tem a sua própria desculpa para a separação. Normalmente, os familiares e conhecidos elegem a vítima e o culpado, nem sempre cientes do que se passou durante a união conjugal. Algumas condutas auxiliam os julgadores de plantão a emitir opiniões acerca de quem teve razão e merece ser acolhido, e quem deu causa a separação e deve ser punido. Mas, será que precisa ser assim?

No versículo 21b de Salmos 44 está escrito que Deus sabe os segredos do nosso coração. Ele sabe quem pecou e quem não pecou. Sabe quem se arrependeu e quem não se arrependeu. Sabe quem merece ser salvo e quem deve ser condenado. Vê aquilo que não enxergamos, conforme se pode ler no capítulo 16 da primeira carta de Samuel, em seu versículo 7b “... o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.”

Ainda assim, muitos de nós consideram justo e adequado julgar aos irmãos, independente de conhecer o que realmente se passa em seu coração. Algumas pessoas se avaliam acima de qualquer suspeita e, portanto, em condições de censurar, advertir e condenar aqueles a quem consideram pecadores, sem levar em conta que podem estar destruindo vidas que o Senhor deseja resgatar.

Foi assim com a mulher adúltera apresentada no capítulo 8 de João, versículos 3 a 11. Não havia escape para ela, pois apanhada em flagrante adultério, pela inflexível lei mosaica, deveria ser condenada à morte por apedrejamento. Os escribas e fariseus não estavam interessados na salvação de sua alma, no entanto, mas em colocar Jesus à prova, expondo-o em contradição dos seus legítimos ensinamentos perante a multidão.

Sabiamente, o Mestre instituiu então um júri primitivo. De um lado os acusadores, escribas e fariseus; de outro lado a ré, mulher adúltera. Inicialmente, ele deu a palavra à acusação, e fez questão de advertir que deveria lançar a primeira pedra aquele que estivesse sem pecado. Obviamente, Jesus tem conhecimento de que todos os homens erram, variando apenas o tipo de erro, o quê, certamente, deveria servir como reflexão e exame de consciência antes de apontarmos falhas alheias.

Na ocasião, os acusadores confrontados com as palavras do Mestre e avaliando o seu íntimo, reconheceram-se tão pecadores quanto a mulher, e foram se afastando um a um, a começar pelos mais velhos, restando apenas Jesus e a mulher. Nesse momento, o justo juiz indaga a ré: “Mulher, onde estão os teus acusadores?” “Ninguém te condenou?” E ela responde: “Ninguém, Senhor!” Pois bem, quando não existe acusação não há que se falar em sentença de condenação. Nesse momento, o júri estava desfeito, e apesar do justo juiz reconhecer o pecado da ré, não a condenou, despedindo-a com estas palavras: “Nem eu tampouco te condeno; vá e não peques mais”. Ora, Jesus foi misericordioso, apesar de reconhecer o erro.

Religiosamente, no entanto, quase nunca é assim. Agimos mais como escribas e fariseus, excluindo e exigindo a condenação, do que exercitando a misericórdia com os que erram. Casais em nova união podem estar adulterando ou não, e também contar com o julgamento do justo juiz, que não vê como vê o homem, mas olha para o coração das pessoas. Outra chance é possível sim. Pensemos nisto quando nos arvorarmos juízes alheios e, a despeito de nossos pecados, sentirmo-nos tentados a atirar a primeira pedra.

Maria Regina Canhos (e.mail: mariaregina.canhos@gmail.com) é escritora.

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