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quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Natal e Ano Bom com dois frades

 

                                                   João Baptista Herkenhoff

A fim de me preparar para celebrar o Natal e a chegada do Ano Novo, li dois livros: “Fome de Deus” (Frei Betto) e “Francisco de Assis e Francisco de Roma” (Frei Leonardo Boff).

No livro “Fome de Deus” Frei Betto superou, a meu juízo, todos os livros que escreveu anteriormente. É um livro de espiritualidade encarnada, onde oração e ação, eternidade e tempo presente, ciência e fé, corpo e alma caminham lado a lado. Remontando ao primeiro século da era cristã, observa que na Palestina havia miseráveis e famintos, massacrados pelos tributos que o poder romano estatuía e  pelos dízimos que as autoridades religiosas exigiam. Jesus assumiu a causa dos pobres. Promoveu um movimento indutor da partilha, especialmente a partilha do pão. Frei Betto demonstra que a Eucaristia não é um rito, desligado da vida mas, ao contrário, é um apelo à Fraternidade e uma exigência de Justiça. Relata com humildade suas próprias dúvidas de Fé, seus tropeços na caminhada rumo a Deus. Refere-se a sete meses de profunda angústia, na obscuridade da noite, um tempo doloroso. A conselho de Frei Henrique Marques da Silva, leu Teresa de Ávila, o que lhe proporcionou o salto de uma religiosidade sociológica para uma fé teologal. Relembrando a parábola do filho pródigo, acentua que é o Pai que vai ao encontro do filho arrependido, disposto à reconciliação. “O próximo não é aquele que encontramos no caminho. O próximo é, em especial, aquele cuja carência – material, psíquica ou espiritual – faz com que modifiquemos o nosso próprio caminho, alteremos a nossa rota, para dar-lhe atenção e dele cuidar. Foi o que fez o samaritano.” (P. 35).

Leonardo Boff solicitou dispensa de ordens. Nos artigos que publica, ele se define apenas como teólogo. Mas eu continuo chamando-o de Frei Leonardo Boff porque para mim ele é um frade, em toda a grandeza e significação do que deve ser um frade no mundo moderno.

No livro “Francisco de Assis e Francisco de Roma”, o autor traça um paralelo entre o santo e o papa. A respeito de São Francisco de Assis não surpreende que conheça o testamento do patrono de sua ordem religiosa. O que há de notável, neste livro que agora aparece, é ter Frei Boff conseguido demonstrar que, na essência da personalidade do homem Bergoglio habita o espírito de São Francisco de Assis. Embora conheça Teologia, o Papa Francisco não se distingue de predecessores pelo saber teológico. O que faz dele um Papa cuja posse foi saudada com entusiasmo por gregos e romanos, católicos e seguidores de outras religiões cristãs, agnósticos e ateus confessos, num coro universal de aprovação, é a sensibilidade que brota espontânea no seu rosto, é o coração, a humildade, a doçura, nisto distinguindo-se como verdadeiro paradigma.

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