RIO DE JANEIRO - Edward Snowden, o ex-técnico da CIA que denunciou a espionagem praticada pela NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA) contra governos, empresas e cidadãos em toda parte, está flertando com o Brasil na esperança de que este lhe ofereça asilo permanente. Comparado com a Rússia, que o acolheu provisoriamente, mas não lhe dá muito espaço, o Brasil seria um chuá.
Não que, aqui chegando, Snowden possa rasgar o verbo, com revelações ainda mais quentes sobre os e-mails e telefonemas da presidente Dilma que a NSA interceptou --inclusive aquele em que Dilma passou a um ministro militar sua receita exclusiva de "tarator", a sopa de pepino com iogurte, que ela herdou de seus parentes búlgaros. No Brasil, Snowden teria de seguir as normas internacionais do asilo, que proíbem constranger o país asilante.
Mas o Rio é um grande corruptor de maiores e, se Snowden desembarcar no Galeão nas próximas semanas, logo deixará de ser uma ameaça. Será eleito muso do Carnaval, receberá a chave da cidade das mãos do Rei Momo e sua foto de braços abertos com o Cristo ao fundo correrá o mundo. Dois milhões de foliões o aclamarão na saída do Bola Preta e ele desfilará no Sambódromo por quantas escolas quiser, jogando beijos para as arquibancadas.
A praia de Snowden será o Posto 12, no Leblon, no horário dos profissionais: de segunda a sexta, antes das oito da manhã ou depois das seis da tarde. O Botafogo tentará seduzi-lo, mas ele já terá sido conquistado pelo Flamengo. Uma maria-chuteira se dirá sua noiva. E, que nem com Ronald Biggs, todos os estrangeiros de visita ao Rio insistirão em ser fotografados com ele.
Até o dia em que, como aconteceu com Brigitte Bardot em 1964, Snowden chegará a um bar na rua Dias Ferreira e alguém comentará: "Ih, lá vem aquele espião chato outra vez!".
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/145165-muso-do-carnaval.shtml
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