Por Luiz Carlos Amorim – Escritor – Http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br
Recentemente, eu e minha esposa fomos levar donativos para uma creche na periferia da cidade, pois eles sobrevivem com a ajuda da comunidade. Não é uma entidade municipal ou estadual, a ajuda oficial é quase nada, apenas paga um ou outro professor, então eles precisam que a sociedade colabore e de tempos em tempos a gente vai lá levar um pouco de comida - dez, quinze quilos de frango, arroz, biscoitos, leite, massa, etc. Coisa pouca, que dá para alimentar poucas vezes tantas crianças.
A maioria dos funcionários da creche é composta de voluntários e eles são poucos para a grande quantidade de crianças que são atendidas. Com certeza, mais de duas centenas delas, com idade a partir de poucos meses até cinco ou seis anos, que ficam lá o dia todo. Mas eles atendem também crianças em idade escolar, que ficam lá meio período.
As instalações já foram de madeira, até um ou dois anos atrás. Hoje o prédio é quase todo de alvenaria, ainda que o estado geral seja um pouco precário, pela falta de recursos. É uma casa bem grande. Falta ainda parte do telhado, que não se conseguiu ainda o dinheiro para fazê-lo, então algumas dependências, como o refeitório, que está só com a laje de cobertura, tem infiltrações quando chove.
Como já disse, falta pessoal. A gente percebe, quando vai passando de sala em sala e vê a quantidade de crianças em cada uma: mais de vinte, talvez mais de trinta em alguma e apenas duas pessoas cuidando de cada turma, raramente três. E olhem que algumas salas, como já mencionei, têm crianças pequenas, de colo, ou engatinhando, ou começando a andar, que têm que ser alimentadas com mamadeira, têm que ser trocadas de tempos em tempos, têm que ser olhadas e cuidadas continuamente.
Elas estão ali porque seus pais têm que trabalhar e não têm com quem deixar seus filhos, então essa creche é a sua salvação, uma alternativa de sobrevivência. São pessoas carentes que dependem daquela casa.
Fico pensando nestes pais e nessas crianças, que quase não convivem, pois mal se veem no final do dia. Como será o seu Natal? Andei pela creche e não prestei atenção a não ser nas crianças, nem atentei para os enfeites natalinos, se havia ou não.
Já passou novembro, os apelos comerciais da grande festa já pululam por todo canto, mas ali o Natal parece que ainda não havia chegado.
Aquelas crianças terão um Natal? Certamente não ganharão presentes vários - brinquedos, roupas novas, calçados, guloseimas, nem a ceia natalina talvez tenham, como as crianças de classe média cá de fora. Muitas daquelas crianças nem saberão que não tiveram Natal, porque não tem idade para entender.
Elas aprenderão o significado do Natal, pelo menos aquelas um pouquinho maiores, de três, quatro, cinco anos? O Menino que vem todos os anos, nesta época, motivo das comemorações, nascerá na casa dessas crianças? Com certeza sim, mesmo que elas não saibam ainda. Mas os seus pais, na ferrenha luta pela subsistência, conseguirão mostrar a elas que o nascimento de um Menino mágico e encantado, que sempre vem, é para todos, inclusive para elas?
Esse esclarecimento, que elas merecem, não é, no entanto, responsabilidade apenas dos pais. É um compromisso de todos nós, cristãos, é um compromisso da sociedade. E podemos honrar esse compromisso, essa responsabilidade, não deixando que um trabalho como esse, de cuidar de crianças cujos pais precisam trabalhar, acabe descontinuando por falta de ajuda, por falta de apoio.
Feliz Natal a todos aqueles que têm boa vontade e se preocupam com o próximo, não apenas consigo mesmo. E prestem atenção a sua volta, pode haver uma criança que não sabe se terá Natal.
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