Quem se informou, na semana passada, sobre a entrevista coletiva do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pode ter a certeza de que ele não irá recuar um milímetro nas investigações dirigidas para a Polícia Federal sobre o esquema de corrupção no governo do PSDB, denunciado pelas próprias empresas Siemens e Alstom que atuavam para vencer licitações e logo após superfaturar obras e outros serviços do Metrô de São Paulo e da Companhia de Trens Urbanos.
Se no dia anterior Cardozo respondeu ao senador e presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), de que “a época dos engavetadores gerais de denúncias no Brasil acabou há alguns anos e eu me recuso a ser um engavetador”, Cardozo depois foi além: irá processar por ofensa, calúnia e difamação aqueles que estão lhe dirigindo adjetivos que afetam a honra de um ministro de Estado e o próprio Ministério, o mais antigo do País.
Os tucanos estão tremendo nas bases porque foi encaminhado um documento ao Ministério da Justiça e Cardozo determinou a investigação pela Polícia Federal que constaria, segundo a imprensa, nomes de políticos do PSDB partícipes do esquema de corrupção formado pelas empresas no escândalo que a mídia social já está chamando de “trensalão”. “Na minha vida nunca processei qualquer pessoa, mas agora, com os xingamentos, com os adjetivos usados, como vigarista, sonso, membro de quadrilha, é um dever representar cada um dos que me acusam, porque na verdade estão ferindo o Ministério da Justiça. E eles devem provar o que estão dizendo”, afirmou.
O interessante, para quem assistiu pela televisão a entrevista coletiva, é que os repórteres em nenhum momento perguntaram sobre os nomes de tucanos que podem constar nesse documento que a PF investigará. “As pessoas citadas estão envolvidas?”, perguntou, tímida, uma repórter, sem mencionar qualquer nome de tucano. “Cabe à Polícia Federal fazer a investigação e provar se na tradução desse documento do português para o inglês alguma informação possa ter sido retirada ou acrescida”, afirmou Cardozo.
A verdade é que a cada dia está se fechando o cerco para as denúncias de corrupção no metrô paulista que podem envolver próceres tucanos de diversas gestões do PSDB no governo paulista, de Mário Covas a Geraldo Alckmin, passando por José Serra – e essas denúncias vinham esquecidas, praticamente engavetadas pelo Ministério Público de São Paulo, desde 2008.
“Imaginar que o ministro da Justiça receba um documento como este e deve reunir seus assessores para rasgá-lo na frente de todos é imaginar que ainda estamos numa época em que existem engavetadores gerais. A época dos engavetadores gerais de denúncias no Brasil acabou há alguns anos, e eu me recuso a ser um engavetador”, afirmou o ministro, em referência ao procurador-geral da República no governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), Geraldo Brindeiro, que ficou conhecido como “engavetador-geral da República” devido ao arquivamento de denúncias que também envolviam o PSDB.
Mais recentemente, há cerca de um mês, o título de “engavetador” foi transferido para outro procurador da República: Rodrigo de Grandis, após diligentemente esquecer em uma de suas gavetas um pedido de colaboração de procuradores suíços no caso Siemens. O Ministério Público da Suíça requisitava ajuda para investigar a movimentação financeira dos consultores Arthur Teixeira, Sérgio Teixeira e José Amaro Pinto Ramos, suspeitos de intermediar pagamentos de propina a agentes públicos do governo do PSDB paulista. Segundo De Grandis, houve uma “falha administrativa”, porque o documento foi parar em uma gaveta errada e, por isso, ficou arquivado indevidamente por dois anos e oito meses.
Na semana retrasada, foi divulgada a informação de que os documentos continham denúncia atribuída ao ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer. Ele delatava a existência do esquema durante as gestões tucanas de Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra, com objetivo principal de desviar recursos para as campanhas eleitorais do PSDB e do DEM. Além disso, citava o secretário da Casa Civil de Alckmin, Edson Aparecido, como receptor da propina encaminhada pelo lobista Arthur Teixeira. Outros três secretários do governador são citados como pessoas próximas a Teixeira: José Aníbal (Energia), Jurandir Fernandes (Transportes Metropolitanos) e Rodrigo Garcia (Desenvolvimento Econômico), do DEM, além do senador Aloysio Nunes (SP). Aliás, na semana passada, no plenário do Senado, o senador tentou jogar para o PT a culpa de tudo o que está acontecendo – e sendo publicado na imprensa sobre o trensalão tucano – dizendo que é uma disputa eleitoral. Nunca é tarde para relembrar que o senador cassado Demóstenes Torres (DEM-GO) destratou seus adversários políticos e ocultou, enquanto pode, sua estreita relação com o bicheiro Carlinhos Cachoeira em negociações escusas. Acabou defenestrado do Senado.
“Quero lamentar a tentativa de transformar uma investigação séria, feita administrativamente pelo Cade, e no plano policial pela Polícia Federal, em uma disputa política, em uma disputa eleitoral. Aqui não tem nada de eleições, aqui não tem nada de disputa política. O que existe é uma investigação”, afirmou Cardozo. Ele recordou que o esquema vigente em São Paulo é investigado também no exterior, onde houve inclusive condenações, e que o fato de ter partido da Siemens a iniciativa de procurar o Cade deslegitima a tentativa de associar a denúncia a um interesse eleitoral do PT.
Fonte: www.ptnacamara.org.br
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