Projeto com orçamento de R$ 20 milhões irá espalhar estações de monitoramento por 67 pontos em todo o país
Acompanhamento poderá ser feito em tempo real; resultados deverão auxiliar atuação da Defesa Civil
Tremor de terra danificou casas no distrito de Vargem Grande, na cidade de Itacarambi (MG)
SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Com financiamento da Petrobras a um custo aproximado de R$ 20 milhões, quatro instituições de pesquisa brasileiras estão montando a primeira rede sismográfica unificada para cobrir todo o território nacional.
Com ela, será possível conduzir estudos mais detalhados do interior da crosta terrestre em solo brasileiro (área de pesquisa hoje ainda pouco explorada) e monitorar, em tempo real, tremores de terra que estão acontecendo em todo o planeta.
No momento, são 67 as estações planejadas, das quais 20 serão de responsabilidade da USP, 20 da UnB (Universidade de Brasília), 15 da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e 12 do ON (Observatório Nacional).
Cada estação tem um sensor de banda larga e um acelerógrafo, dispositivos para o registro de vibrações sísmicas de diferentes intensidades. Uma antena 3G fornece a conexão com o resto da rede via internet.
"Conforme o projeto for evoluindo, podemos colocar mais estações e integrar o sistema com outras instalações já existentes", conta Marcelo Assumpção, do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP e coordenador do projeto, chamado Brasis.
CONEXÕES
Quanto maior o número de estações, mais precisão os cientistas têm na hora de identificar o local de onde se iniciou um tremor de terra.
Isso acontece porque as ondas de choque do abalo sísmico são disparadas em todas as direções, e diferentes estações as receberão em tempos e intensidades diferentes, de acordo com a distância do epicentro e a composição da crosta naquela região. Triangulando todas as informações, obtém-se o resultado, e quanto mais pontos de observação, mais precisa fica a análise.
O pessoal da USP já tem dez estações instaladas e operando de forma integrada -os dados são compartilhados em tempo real pela internet e processados por um computador-, que identificam automaticamente terremotos de magnitude 5 para cima na escala Richter. "Já registramos tremores no Chile, no Peru, na América Central", relata Assumpção.
Para o monitoramento de abalos no Brasil, contudo, será preciso melhorar a "resolução" da rede, com a instalação de novas estações. Isso porque os tremores registrados no território nacional, que afetam sobretudo o Nordeste do país, raramente ultrapassam a magnitude 3.
Quando isso for possível, contudo, espera-se que o projeto não só alavanque as geociências no Brasil como também cumpra um papel social.
"Poderemos auxiliar ações da Defesa Civil, sempre que necessário", diz Aderson do Nascimento, sismólogo da UFRN. "O Nordeste é uma zona bem sísmica, em que tremores de magnitude 2 são sempre bem sentidos pela população. As pessoas ficam assustadas, e é preciso ter informações sobre o que está acontecendo."
O pesquisador também destaca a importância do trabalho para a área de engenharia civil. "Obras devem levar em conta parâmetros sísmicos que só agora poderão ser incorporados ao seu planejamento", destaca. A expectativa é que a rede já esteja completamente operacional em dois anos.
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Roberto S. Ferreira
Rosfer Editorial
www2.uol.com.br/cruzadas
rosfer@uol.com.br
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