por Gonzalo Ortiz, da IPS
Quito, Equador, 15/7/2011 – O modelo de consumo de energia de origem fóssil, posto em xeque pelos ambientalistas, não parece estar em perigo na América Latina e no Caribe, devido ao gigantesco saldo nas reservas provadas de petróleo nos últimos anos. As existências conhecidas de petróleo na região já chegam a 20% dos quase 1,7 trilhão de barris que há no subsolo da Terra. A líder é a Venezuela, que em fevereiro se converteu no país com maior quantidade do planeta desse combustível no subsolo, ao certificar 297 bilhões de barris, graças ao petróleo da Faixa do Orenoco.
Enquanto o aumento das descobertas confirmadas desde 2009 foi de 20% no mundo, na América Latina e no Caribe foi de 40%. A Venezuela concentra 85% das reservas da região, que, por sua vez, é a segunda com maior quantidade no planeta, atrás do Oriente Médio, com 55%, segundo dados recopilados pela Organização Latino-Americana de Energia (Olade) para o seminário que terminou no dia 13, após dois dias de sessões, em Quito.
Os dados divulgados no I Seminário Latino-Americano e do Caribe de Petróleo e Gás, organizado pela Olade em colaboração com o Ministério de Recursos Naturais Não Renováveis do Equador, indicam que a região conta com, pelo menos, 345 bilhões de barris de petróleo para serem extraídos. “Não sei se são 85%, mas a verdade e que o aumento de reservas provadas significa que nosso país continuará sendo um dos quatro ou cinco primeiros jogadores globais no mundo dos hidrocarbonetos por muitas décadas mais”, disse entusiasmado à IPS Nelson Martínez, diretor-executivo da PDVSA América, divisão da estatal Petróleos de Venezuela.
O Brasil registrou, nos últimos anos, importantes descobertas no subsolo do Oceano Atlântico próximo de suas costas, como o campo Tupi, em 2007, com 33 bilhões de barris possíveis, e o campo Júpiter, em 2008, com 12 bilhões de barris, o que faz com que hoje o país conte com 5% das reservas latino-americanas. O terceiro país em quantidade é o México, que, embora tenha visto declinar suas reservas provadas nos últimos 15 anos, tem 4% da região, graças à quantificação de mais de 137 bilhões de barris, em 2009, no subsolo da região do Paleocanal de Chicontepec.
O Equador o segue com 3% das reservas provadas de petróleo da região, com crescimento de 63% em 2008 em relação a 2007, explicado, em parte, pela certificação das existências do complexo ITT de 960 milhões de barris. O petróleo pesado deste conjunto de campos na área ocupada pelo parque nacional amazônico parece cada vez mais perto do início de sua extração, apesar do projeto, ainda vigente, de deixar esse petróleo sob a terra pela Iniciativa Yasuní-ITT, que requer em troca uma contribuição internacional.
Os demais países da região têm, no momento, os restantes 3% de reservas, mas não descansam na busca de novas fontes. A Argentina, por exemplo, tradicionalmente uma potência em energia, iniciou o Programa de Desenvolvimento Exploratório e Produtivo 2010-2014 a cargo da empresa hispano-argentina Repsol YPF. O plano tem o objetivo de conhecer o potencial de reservas em todo o subsolo do país e aspira substituir a totalidade de suas reservas, confirmou à IPS o geólogo Ramón Martínez, assessor da Secretaria de Energia da Argentina.
Segundo dados da Olade, esse país tinha em 2009 reservas petrolíferas suficientes, sem novas descobertas, para 11 anos, o Brasil para 18, Colômbia, oito, Equador, 34, México, 11, e Venezuela para 201 anos. Também o Uruguai realiza, pela primeira vez, prospecção em várias áreas de terra e em águas nacionais do Atlântico, com informes primários animadores. O México comprometeu um investimento superior a US$ 27 bilhões até 2019 para desenvolver seu potencial em águas profundas e em terra. Isto exige renovar seus equipamentos de perfuração, pois 80% de suas 126 perfuradoras têm entre 37 e 52 anos, reconheceu Gustavo Hernández García, subdiretor de planejamento e avaliação da estatal Pemex. Por sua vez, a Petrobras planeja realizar investimentos da ordem de US$ 73 bilhões até 2015, conjuntamente com seus sócios, na plataforma marinha da Baía de Todos os Santos.
O projeto “Magna Reserva”, implantado desde junho de 2005 para a certificação de petróleo da Faixa Petrolífera do Orenoco (FPO), permitiu que as reservas que historicamente foram provadas nessa área do interior venezuelano aumentassem 34 anos. Como outras iniciativas nacionais, a FPO, “que está em fase de visualização e setorização”, foi exposta por Martínez no seminário de Quito.
Para desenvolver a FPO deverão ser abertos 10.500 poços, serão construídas duas refinarias, um novo terminal marítimo e outro será readequado. A Venezuela convidou todos os países da América Latina e do Caribe, bem como empresas privadas multinacionais, a participarem da exploração destas novas áreas. Até 2015, “a Venezuela estará produzindo 4,5 milhões de barris de petróleo, desde que isso não prejudique a estrutura de extração e preços em nível mundial, e refinará 3,6 milhões de barris”, disse Martínez.
Martínez enfatizou a mudança de modelo geopolítico adotado por seu país, que o levou a investir pela primeira vez em prospecção, exploração e refino de petróleo na América do Sul. Inclusive, acaba de adquirir 60% de uma empresa de transporte no Rio Paraná, “que é dona de 300 barcaças”. Os “objetivos geopolíticos são ter novos sócios, novos mercados e fortalecer a Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep)”, acrescentou.
Enquanto isso, a PDVSA se encontra em processo de desinvestir em refinarias na Europa. “Não tinha o menor sentido contar com refinarias em Gelsenkirchen e Karlsruhe, na Alemanha, às quais deveríamos fornecer 250 mil barris diários, mediante operações de swap (trocas) com a Rússia”, disse Martínez à IPS. “Já que utilizavam petróleo russo, era melhor vender a uma empresa desse país, como acabamos de fazer”, acrescentou. Além da exploração de petróleo em associação com a Petroecuador, e de gás com a estatal boliviana, e prospecção na Argentina e no Uruguai, a estatal venezuelana também está embarcada em duas grandes refinarias na América do Sul. Trata-se de Manabí, no Equador, que processará 300 mil barris diários, e a do Estado brasileiro de Pernambuco, com capacidade de refino de 230 mil barris por dia.
“Já constituímos com a Petroecuador a companhia de economia mista Refinaria do Pacífico Eloy Alfaro e estamos seguindo o esquema estabelecido”, disse Martínez, negando que haja atraso no cronograma. Também afirmou que ao terminar a engenharia básica, previsto para outubro, será possível elaborar os termos de referência e ir às fontes de financiamento para obter US$ 12 bilhões necessários para a construção.
Os esforços das companhias estatais e privadas analisados no seminário permitiram ao engenheiro Benito Cabrera, subgerente de operações da Petroecuador, concluir que a América Latina e o Caribe estarão produzindo 12 milhões de barris diários de petróleo em 2015, quando em 2009 eram apenas 9,6 milhões, dos quais 3,3 milhões serão exportados. Também na produção há um grande desequilíbrio, pois Venezuela, México e Brasil juntos somam cerca de 80%. Um segundo grupo é formado por Colômbia, Argentina e Equador, com 17%, enquanto os demais países ficam com os 3% restantes do total regional. Envolverde/IPS
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