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quarta-feira, 20 de julho de 2011

Jovens se afastam dos partidos e fazem política por conta própria

 

Fonte: R7 Notícias

 

Mesmo “apartidários”, eles tomam as ruas e puxam para si a responsabilidade social

Uma pesquisa divulgada na última semana revelou que 59% dos jovens (com idades entre 18 e 24 anos) não têm preferência por um partido político, mas, por outro lado, 92% consideram que pequenas ações podem mudar a sociedade. A partir daí, a tendência é que, cada vez mais, aumente o número de brasileiros puxando para si a responsabilidade de fazer algo por conta própria e tomar as ruas – ou a internet – por uma causa na qual acredita, seja ela qual for.

São os chamados “jovens transformadores”, ou “jovens-ponte”, segundo a classificação da agência Box1824, que realizou o estudo em parceria com o Datafolha, e estima que eles representem 8% da população nessa faixa etária – ou cerca de 2 milhões de pessoas, segundo estimativa feita com base em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Mas qual é a cara desses jovens e o que os motiva a abrir mão de algumas horas do dia a dia para tentar, de alguma forma, transformar o Brasil? O R7 conversou com pessoas que se encaixam nesse perfil, algumas com pouco mais de 24 anos, pra entender por que decidiram arregaçar as mangas” por conta própria.

É o caso de Pedro Markun, 25, um dos criadores do Transparência Hack Day, que atua na divulgação online periódica de dados de interesse público, como de governos e prefeituras. Ele também é um dos fundadores da Casa de Cultura Digital, espaço em São Paulo que reúne projetos, organizações, empresas e pessoas que atuam com a cultura digital.

Segundo Markun, entrar para um partido nunca foi uma opção, mas isso não o impediria de “fazer política” de outra forma.

- Se eu acredito que internet e o [meio] digital são ferramentas de transformação, por que não me envolver com a política e usar essas ferramentas para fazer política? [...] É um novo jeito de resolver problemas e de fazer política. Não preciso mais puxar o saco dos meus políticos locais ou da subprefeitura. Isso não passa pela ideia da representatividade [política], não que a gente ache que ela é desnecessária, mas a função de atuar sobre os problemas sem pedir licença ou permissão.

Criado em 2005, o MPL (Movimento Passe Livre), que defende a criação de um novo projeto de transporte público, também estabelece como um dos seus princípios o apartidarismo, embora permita a participação de pessoas ligadas a siglas. De acordo com a estudante de direito Nina Capello Marcondes, 21, que integra o grupo em São Paulo desde 2007, a ausência de partidos na organização não se deve à “desilusão” com a política, mas à vontade de agir de forma “independente”.

- Não é porque somos “desiludidos”, não é nada disso. É para evitar que ocorram interferências dos partidos, porque vemos que, algumas vezes, eles estão mais interessados em atrair militantes, que em debater as causas do problema. Mas somos apartidários, não antipartidários.

Nina decidiu aderir ao movimento – que existe em diversas cidades do país e já protagonizou uma série de protestos contra o preço da tarifa de ônibus na capital paulista – porque se “cansou de reclamar dos problemas do transporte público, mas não fazer nada para mudar”. De acordo com a jovem, o grupo prepara agora um projeto de lei, de iniciativa popular, para defender a proposta de “tarifa zero” para o país.

Internet como ferramenta

Camila Cortielha, 28, compartilha da ideia de que o fazer política não precisa passar, necessariamente, por um partido. No caso dela, a atuação se concentra na área cultural – ela é gestora de comunicação do Fora do Eixo, uma rede nacional que reúne mais de 70 grupos produtores de cultura. Diretamente, 2.000 pessoas participam do grupo.

Movimentos culturais como esse, explica Camila, surgiram em um momento de queda da indústria fonográfica e de fortalecimento da internet. Com a diminuição de recursos, jovens tiveram que buscar alternativas para continuar fazendo o que gostam: produzindo cultura. De acordo com a gestora, a web foi uma ferramenta essencial para reunir as pessoas que tinham os mesmos objetivos.

De acordo com a pesquisa Sonho Brasileiro, 71% dos jovens concordam que a internet é um forte instrumento para fazer política.

É também por meio da rede de computadores que Vanessa Guedes Garcia, 21, levanta as bandeiras do feminismo. Ela faz parte do grupo virtual blogueirasfeministas.com, que reúne diversos blogs sobre o tema, escritos por mulheres de “todas as idades e profissões”. A página tem como objetivo principal servir como fórum de discussão sobre as lutas das mulheres, como igualdade de oportunidades no mercado de trabalho, equiparação de salários, combate à violência doméstica, fim do sexismo, entre outros.

Mas além da troca de ideias, o blog – que também é apartidário – ajuda a promover mobilizações sociais, como a Marcha das Vadias, realizada no início do mês em São Paulo. Embora não tenham organizado a passeata, Vanessa e suas amigas blogueiras participaram em peso da iniciativa, que surgiu no Canadá como um protesto contra um policial que disse que as mulheres deveriam evitar se vestir como "vagabundas" para não serem vítimas de estupro. A partir daí, a Slut Walk (em inglês) foi reproduzida em diversas cidades do mundo graças às mobilizações nas redes sociais.

Mas embora a internet seja uma das principais ferramentas adotadas pelos jovens hoje, muitos ainda defendem suas causas à moda “antiga”. É o caso de estudante Bruna Garbin, 21, de Porto Alegre (RS), membro da Pastoral da Juventude, movimento que discute alternativas para a permanência dos jovens no campo e reivindica a melhoria em serviços públicos, como saúde, educação e cultura.

Assim como os colegas, ela não tem preferência por um partido, mas também admite que sua atuação no movimento é, de certa forma, uma maneira de fazer política – embora não seja só isso.

- Não acredito que eles [partidos] tenham um grande poder de mudança na questão social, até porque muitos estão engessados dentro um modelo de economia e um modelo de sociedade. Mas a gente não se reúne levando em conta apenas questões políticas, mas por questões de mundo, de sonhos e ideias de mudança da sociedade.

Fonte: R7 Notícias

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Mesmo “apartidários”, eles tomam as ruas e puxam para si a responsabilidade social

Uma pesquisa divulgada na última semana revelou que 59% dos jovens (com idades entre 18 e 24 anos) não têm preferência por um partido político, mas, por outro lado, 92% consideram que pequenas ações podem mudar a sociedade. A partir daí, a tendência é que, cada vez mais, aumente o número de brasileiros puxando para si a responsabilidade de fazer algo por conta própria e tomar as ruas – ou a internet – por uma causa na qual acredita, seja ela qual for.

São os chamados “jovens transformadores”, ou “jovens-ponte”, segundo a classificação da agência Box1824, que realizou o estudo em parceria com o Datafolha, e estima que eles representem 8% da população nessa faixa etária – ou cerca de 2 milhões de pessoas, segundo estimativa feita com base em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Mas qual é a cara desses jovens e o que os motiva a abrir mão de algumas horas do dia a dia para tentar, de alguma forma, transformar o Brasil? O R7 conversou com pessoas que se encaixam nesse perfil, algumas com pouco mais de 24 anos, pra entender por que decidiram arregaçar as mangas” por conta própria.

É o caso de Pedro Markun, 25, um dos criadores do Transparência Hack Day, que atua na divulgação online periódica de dados de interesse público, como de governos e prefeituras. Ele também é um dos fundadores da Casa de Cultura Digital, espaço em São Paulo que reúne projetos, organizações, empresas e pessoas que atuam com a cultura digital.

Segundo Markun, entrar para um partido nunca foi uma opção, mas isso não o impediria de “fazer política” de outra forma.

- Se eu acredito que internet e o [meio] digital são ferramentas de transformação, por que não me envolver com a política e usar essas ferramentas para fazer política? [...] É um novo jeito de resolver problemas e de fazer política. Não preciso mais puxar o saco dos meus políticos locais ou da subprefeitura. Isso não passa pela ideia da representatividade [política], não que a gente ache que ela é desnecessária, mas a função de atuar sobre os problemas sem pedir licença ou permissão.

Criado em 2005, o MPL (Movimento Passe Livre), que defende a criação de um novo projeto de transporte público, também estabelece como um dos seus princípios o apartidarismo, embora permita a participação de pessoas ligadas a siglas. De acordo com a estudante de direito Nina Capello Marcondes, 21, que integra o grupo em São Paulo desde 2007, a ausência de partidos na organização não se deve à “desilusão” com a política, mas à vontade de agir de forma “independente”.

- Não é porque somos “desiludidos”, não é nada disso. É para evitar que ocorram interferências dos partidos, porque vemos que, algumas vezes, eles estão mais interessados em atrair militantes, que em debater as causas do problema. Mas somos apartidários, não antipartidários.

Nina decidiu aderir ao movimento – que existe em diversas cidades do país e já protagonizou uma série de protestos contra o preço da tarifa de ônibus na capital paulista – porque se “cansou de reclamar dos problemas do transporte público, mas não fazer nada para mudar”. De acordo com a jovem, o grupo prepara agora um projeto de lei, de iniciativa popular, para defender a proposta de “tarifa zero” para o país.

Internet como ferramenta

Camila Cortielha, 28, compartilha da ideia de que o fazer política não precisa passar, necessariamente, por um partido. No caso dela, a atuação se concentra na área cultural – ela é gestora de comunicação do Fora do Eixo, uma rede nacional que reúne mais de 70 grupos produtores de cultura. Diretamente, 2.000 pessoas participam do grupo.

Movimentos culturais como esse, explica Camila, surgiram em um momento de queda da indústria fonográfica e de fortalecimento da internet. Com a diminuição de recursos, jovens tiveram que buscar alternativas para continuar fazendo o que gostam: produzindo cultura. De acordo com a gestora, a web foi uma ferramenta essencial para reunir as pessoas que tinham os mesmos objetivos.

De acordo com a pesquisa Sonho Brasileiro, 71% dos jovens concordam que a internet é um forte instrumento para fazer política.

É também por meio da rede de computadores que Vanessa Guedes Garcia, 21, levanta as bandeiras do feminismo. Ela faz parte do grupo virtual blogueirasfeministas.com, que reúne diversos blogs sobre o tema, escritos por mulheres de “todas as idades e profissões”. A página tem como objetivo principal servir como fórum de discussão sobre as lutas das mulheres, como igualdade de oportunidades no mercado de trabalho, equiparação de salários, combate à violência doméstica, fim do sexismo, entre outros.

Mas além da troca de ideias, o blog – que também é apartidário – ajuda a promover mobilizações sociais, como a Marcha das Vadias, realizada no início do mês em São Paulo. Embora não tenham organizado a passeata, Vanessa e suas amigas blogueiras participaram em peso da iniciativa, que surgiu no Canadá como um protesto contra um policial que disse que as mulheres deveriam evitar se vestir como "vagabundas" para não serem vítimas de estupro. A partir daí, a Slut Walk (em inglês) foi reproduzida em diversas cidades do mundo graças às mobilizações nas redes sociais.

Mas embora a internet seja uma das principais ferramentas adotadas pelos jovens hoje, muitos ainda defendem suas causas à moda “antiga”. É o caso de estudante Bruna Garbin, 21, de Porto Alegre (RS), membro da Pastoral da Juventude, movimento que discute alternativas para a permanência dos jovens no campo e reivindica a melhoria em serviços públicos, como saúde, educação e cultura.

Assim como os colegas, ela não tem preferência por um partido, mas também admite que sua atuação no movimento é, de certa forma, uma maneira de fazer política – embora não seja só isso.

- Não acredito que eles [partidos] tenham um grande poder de mudança na questão social, até porque muitos estão engessados dentro um modelo de economia e um modelo de sociedade. Mas a gente não se reúne levando em conta apenas questões políticas, mas por questões de mundo, de sonhos e ideias de mudança da sociedade.

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