Um caso raríssimo de gêmeas siamesas foi registrado no Rio Grande do Norte. No último dia 12, a dona de casa Eucivânia Cunha, 27, natural de Alto do Rodrigues, deu à luz duas meninas gêmeas Ana Clara e Any Vitória, que nasceram unidas pelo cóccix (região glútea).
De acordo com o neurocirurgião Ângelo Silva Neto, que acompanhou a gestação de Eucivânia e o nascimento das crianças, este é um caso raro. É, segundo o médico, possivelmente, o primeiro no Brasil cujos gêmeos são unidos pela região glútea.
"O caso dos gêmeos pigopagos, que são aqueles ligados pela superfície póstero-lateral da região sacrococcigeana, é raríssimo. Geralmente ocorre um caso de gêmeos siameses a cada 200 mil nascimentos. Os pigopagos se resumem a 20% dos casos de siameses. Ou seja, é a raridade da raridade", esclareceu o neurocirurgião. "Os bebês serão submetidos a um procedimento cirúrgico para separação corporal", disse.
Nascidas no dia 12 deste mês em um hospital da rede privada de Natal, as meninas se desenvolvem dentro do que é considerado normal pela equipe médica que as acompanha. Elas amamentam como os demais bebês, tem órgãos internos e membros superiores e inferiores independentes, respondem a estímulos, não aparentam retardo mental e emitem sons comuns aos recém-nascidos.
A diferença é que, em decorrência da união coccigeana, elas compartilham o mesmo ânus. A união corporal de Ana Clara e Any Vitória ocorreu no final da coluna vertebral, o que reduz os riscos de sérios danos ao desenvolvimento das recém-nascidas. "Os riscos são menores, pois elas não estão ligadas pela medula. Poderão ficar sequelas, quando da separação dos corpos, pois há a comunhão de alguns nervos. Entretanto, elas poderão ter vida normal após a cirurgia", esclareceu Ângelo Silva Neto.
Apesar dos riscos do procedimento cirúrgico, os pais de Ana Clara e Any Vitória decidiram autorizar a cirurgia de separação. No entanto, como aconselha o médico, o procedimento só deve ser realizado quando as gêmeas estiverem com cerca de nove meses de idade. "As dificuldades da cirurgia se concentram na perda acentuada de sangue pelos bebês e na questão da separação do ânus. O caso deve ser muito bem estudado, pois irá refletir no cotidiano das crianças quando elas estiverem mais velhas. Iremos avaliar se criaremos um ânus com a mucosa existente no corpo de uma delas ou se adotaremos a colostomia, que consiste na colocação de uma bolsa artificial para eliminação das fezes", advertiu Ângelo Silva Neto.
Diante da complexidade do processo cirúrgico e da impossibilidade de ser realizado no Rio Grande do Norte, pela falta de leitos de Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica no Hospital Universitário Onofre Lopes, o neurocirurgião levará o caso à Universidade de São Paulo (USP), onde a cirurgia deverá ser realizada. "Precisamos avaliar bem o local da cirurgia e montar uma equipe multidisciplinar para participar do processo. Acredito, porém, que a intervenção só será feita após o nono mês de nascimento das gêmeas", ressaltou o médico.
A literatura médica brasileira não dispõe de muitos relatos quanto ao nascimento de gêmeos pigopagos. No Brasil, segundo Ângelo Silva Neto, que também é professor universitário, não há estudos publicados quanto à separação de gêmeos siameses unidos pelo cóccix. "Este poderá ser o primeiro caso e servirá como fonte de estudo para ocorrências futuras", enfatizou.
Um caso similar foi registrado no Hospital Infantil da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, em 2004. Os gêmeos foram separados e sobreviveram ao procedimento cirúrgico.
Obs.: nossa. Na década de 90, houve um caso de duas crianças nascidas em Mossoró ligadas pela região do umbigo.
Fonte: O Mossoroense
Dr. Lima
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