Economista que previu a turbulência de 2008 diz que mundo caminha para um segundo mergulho na crise e que não se pode mais "tirar coelho da cartola"
Ilton Caldeira, iG São Paulo
Uma nova e profunda recessão em nível mundial pode ser uma missão simplesmente impossível de ser contida, afirma o economista Nouriel Roubini, conhecido também como "Doutor Crise" por ter previsto a turbulência financeira internacional de 2008, em artigo publicado no jornal britânico "Financial Times".
Foto: Getty Images Ampliar
Nouriel Roubini: países ricos estão caminhando para uma nova contração em suas economias
De acordo com Roubini, que é professor de economia na Stern School of Business, na New York University e presidente da empresa de consultoria econômica Roubini Global Economics (RGE), mesmo antes da forte turbulência nos mercados financeiros na semana passada já estava claro que os países ricos estavam caminhando para uma nova contração em suas economias.
Segundo ele, nos Estados Unidos há uma fraca geração de empregos, baixo crescimento econômico e consumo e produção industrial estagnados. Já na Europa, países como Portugal, Irlanda e Grécia, considerados da periferia do continente, estão em recessão ou com crescimento muito baixo. Além disso, na avaliação de Roubini, o risco a Espanha e a Itália perderem capacidade de tomar empréstimos no mercado é alto.
Junto com esse cenário que afeta os países mais ricos do mundo, os mercados emergentes como a China, o Brasil e a Índia estão em ritmo de desaceleração de suas economias, após um ciclo de forte crescimento e talvez não tenham força para sustentar sozinhos o crescimento da economia mundial.
Sem coelhos na cartola
O problema, segundo Roubini, é que não se pode mais “tirar coelho da cartola” para estimular a economia, como se fazia até o ano passado. As autoridades podiam, por exemplo, zerar a taxa de juros, emitir moeda, facilitar o crédito, dar estímulos fiscais, prover liquidez aos mercados na casa dos trilhões de dólares. “Tudo isso já foi testado”, cita Roubini em seu artigo.
Para o economista, o caminho na política fiscal agora é o contrário com os países cortando gastos e podendo aumentar impostos. Segundo ele, o socorro às instituições financeiras no momento seria politicamente inaceitável e um novo afrouxamento quantitativo pressionaria os índices de inflação.
A munição que resta, na avaliação do "Doutor Crise", seria uma combinação de medidas de estímulos de curto prazo com austeridade fiscal no longo prazo.
Risco generalizado
Roubini, que classifica a decisão da agência de classificação de risco Standard&Poor's de cortar a nota dos EUA de AAA para AA+ de “equivocada”, potencialmente "aumentando as probabilidades de uma dupla queda e de ainda maiores déficits fiscais”, considera que o Banco Central Europeu deve cortar as taxas de juro para zero e fazer “grandes aquisições de títulos soberanos para impedir que a Itália e a Espanha de percam acesso aos mercados internacionais de crédito.
Num momento em que as atenções na zona euro se encontram concentradas em Itália e Espanha, Roubini adverte que estes dois países são "grandes demais para serem resgatados”, quando comparados com a Grécia, Portugal ou Irlanda.
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