Existe algo que tem me preocupado muito. Trata-se da cômoda maneira através da qual algumas escolas vêm se exonerando de prestar assistência e acompanhamento aos alunos com dificuldades de aprendizagem, emocionais e/ou comportamentais. Numa época em que se fala tanto de inclusão, algumas escolas insistem em selecionar alunos e, de preferência, apenas os mais capacitados. Crianças e adolescentes com dificuldades de aprendizagem, problemas de comportamento, deficiências intelectuais, portadores de transtornos ou síndromes devem ser afastados o mais rápido possível para não macular o “nome” e o “prestígio” das escolas reconhecidas como “fortes” e “eficientes” em formar e educar.
Para assegurar a manutenção de seu status social-pedagógico algumas escolas, através de sua direção e coordenação, recomendam aos pais de alunos com dificuldades que transfiram seus filhos para outros estabelecimentos de ensino, “mais fracos”, onde o aluno não será tão exigido e poderá passar facilmente. Embora possa parecer preocupação da escola com o aluno, tal normalmente apenas mascara o desejo de se ver livre de alguém que desafia e desconcerta a pedagogia e os métodos utilizados naquele estabelecimento de ensino.
Ora, qualquer escola deseja ter classes repletas de bons alunos. E se os têm, o mérito é de quem, da escola ou dos próprios alunos? Escola boa é aquela que consegue integrar o aluno com dificuldade e extrair dele o seu melhor. Trabalhar com alunos capacitados e inteligentes é fácil. Isso não pode servir para referendar uma escola. O estabelecimento de ensino que mantém sua boa fama dessa forma apenas engana a si mesmo e aos demais.
É vergonhoso recomendar aos pais que coloquem seus filhos numa escola “mais fraca”. Conveniente é buscar meios para desenvolver o potencial de todos os alunos. A escola se agiganta ao promover alternativas de aprendizagem e inclusão para crianças e adolescentes com dificuldades. Ilusório pensar que contar apenas com bons alunos irá perpetuar a imagem de escola eficiente. As técnicas utilizadas para selecionar alunos não passam despercebidas pela comunidade, pois a maioria dos pais se entristece ao verificar que seus filhos são considerados incapazes ou piores que os demais.
É simples e fácil rotular uma criança ou adolescente como “aluno problema”. Assim a escola não necessita se empenhar na capacitação de seu corpo docente, e pode continuar a ensinar de forma jurássica e intolerante às diferenças. O acolhimento dos alunos com dificuldades implica numa mudança de mentalidade, além do investimento no preparo e desenvolvimento de recursos cognitivos e emocionais de toda a equipe envolvida no processo de ensino.
Deixo aqui duas questões. Será que os alunos com dificuldades realmente são piores ou apenas desafiam os tradicionais métodos de ensino-aprendizagem? Escola boa é aquela que se promove a custa dos bons alunos ou aquela que se esforça para ensinar a todos?
Maria Regina Canhos Vicentin (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário