Por Luiz Carlos Amorim
O Conselho Nacional de Educação acaba de aprovar mudanças no Ensino Médio – o Ministério da Educação ainda precisa homologar, mas parece que está tudo arranjado.
Estive verificando as mudanças e não gostei nada do que vi. Fizeram mudanças no Ensino Fundamental, na década passada, há poucos anos, e o resultado não foi bom: a alfabetização, que sempre foi eficiente, agora tem uma sistemática totalmente diferente. Ensina-se às crianças primeiro a escrever com letra de forma, o que torna um problema ensiná-las a escrita cursiva. Antes ensinava-se a letra de imprensa apenas para o reconhecimento dos caracteres impressos no livros e outras publicações. As famílias de sílabas, que iniciavam as crianças na leitura das palavras, não é mais usada, elas tem que reconhecer o encontro de consoantes e vogais “por repetição”, meio por simbiose, pois são jogadas sílabas para elas formarem palavras, por exemplo, mas elas juntam sílabas sem saber o que está escrito. Por isso, temos crianças, hoje, no terceiro ano do ensino fundamental que não sabem ler e escrever. E como não existe mais reprovação, também uma das novidades do novo sistema, elas seguem em frente de qualquer maneira, mesmo que não tenham conseguido acompanhar o conteúdo dado.
Agora querem mudar o Ensino Médio, que já não é dos melhores e que, pelo visto, não vai ficar melhor. Pela nova sistemática, as escolas de ensino médio poderão optar por quatro novas disciplinas: ciência, tecnologia, cultura e trabalho. Mas como, se atualmente o tempo em sala de aula não é suficiente para dar o conteúdo programático sem essas matérias? Ah, fácil: o projeto de mudança prevê o aumento de três para quatro anos a duração do ensino médio noturno.
E tem mais: para dar mais “autonomia”, cada escola poderá escolher entre quatro áreas de atuação para focar o seu currículo e poderá aumentar ou diminuir o número de horas-aula das disciplinas fundamentais, como português ou matemática. Uma escola de uma região industrial, por exemplo, pode focar seu currículo na área de tecnologia e reduzir a carga horária de disciplinas como física e química. Tudo ótimo, mas e quem vai fiscalizar se isso está sendo feito corretamente? Porque me parece mais que o Ministério da Educação (o governo do país, na verdade) está se desobrigando da responsabilidade da qualidade da educação brasileira, para colocá-la nas costas das próprias escolas. Algo como: a culpa da má qualidade do ensino médio não é nossa, é da escola que não soube usar a “flexibilização” que oferecemos.
Outra dúvida: um Estado ou uma cidade, ou uma escola de uma determinada região escolhe priorizar algumas disciplinas, em detrimento de outras. Os estudantes que saírem dessa escola terão dificuldades não só para conseguir acesso à universidade, seja por vestibular ou Enem, mas também para se manterem nela, para acompanhar o currículo, se conseguirem entrar no ensino superior.
Ah, mas com essa coisa de aumento de matérias aqui, diminuição de outro tanto acolá, aumento de carga horário de algumas e diminuição de outras, o projeto prevê uma saída sensacional: O CNE aprovou que a escola pode trabalhar até 20% de conteúdo à distância. Não é sensacional? A escola aumenta a quantidade de disciplinas ou de carga horária delas, mas não precisa dar a aula.
Além de tudo isso, uma coisa muito importante não é prevista no projeto que foi aprovado: não foi falado na preparação dos professores para todas essas mudanças, na adequação para a implantação de tantas mudanças, muito menos em salário.
Não sei não, parece que querem piorar ainda mais o Ensino Médio, ou será impressão minha?
Nenhum comentário:
Postar um comentário