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sábado, 29 de janeiro de 2011

Bundas brasileiras

Celso Athayde

Por Celso Athayde . 28.01.11 - 15h02
Bundas brasileiras

Ontem, no jantar, vi umas bundinhas na TV. Sim, eu comia um PF (prato feito) com dois amigos e um deles me mostrou uma cena da chamada preferência nacional. Era um programa voltado pro público feminino e a apresentadora entrevistava um empresário japonês que veio fazer divulgação de algo sobre tecnologia.

Enquanto eles falavam, umas moças dançavam, mesmo sem música, tipo no Pânico. Daí a apresentadora perguntou: “E o senhor já conheceu uma de nossas mulheres?” Antes mesmo de ele responder, ela continuou: “O que achou? Nossas mulheres são as melhores e mais lindas do mundo, né?!”

Evidentemente que eu já tinha escutado essa pergunta milhões de vezes, nos mais variados programas de televisão. Mas não sei porque, ontem não bateu bem. A impressão que dava é que ela perguntava se ele já havia experimentado um churrasquinho, ou seja, um produto nosso de exportação ou de sedução.

O senhor oriental, após a tradução, olhou para a apresentadora sorridente e para as bundas das dançarinas e deu aquele típico sorriso meio oculto e meio desavergonhado de quem já tinha, sim, experimentado uma brasileira num dia de folga!

Nem sei se deveria, mas me senti mal e ficava nítido que certas perguntas estão vestidas de um conceito anômalo, mesmo que sem intenção. Perguntar ao velho o que ele achou era ratificar um olhar que existe sobre nossas mulheres que, independentemente de serem sensuais e tropicalmente lindas, não precisam ser lembradas como algo vulgar pela mídia, a verdadeira valorização do conceito “bom, bonito e barato”.

Claro, podemos dizer que a realidade feminina hoje é melhor do que há cinqüenta, cem anos, mas temos que ter cuidado para que aqueles que deveriam ajudar a diminuir a pressão sobre o país, considerado o paraíso da exploração sexual e do tráfico de mulheres, não confirmem a idéia de que “dançarina” seja a única profissão das brasileiras.

Nada contra a profissão, mas devemos concordar que essa não é uma característica tão marcante. É algo que está apenas no imaginário. Essa “cultura” está tão concentrada que até os vídeos de agências de turismo tiram sarro e claro, agridem a imagem da mulher brasileira, como este aqui:

Também achei um programa americano famoso, que falava que o Brasil está deixando de ser o país do carnaval, bunda e futebol, para ser o país das riquezas naturais e boom econômico. Inclusive, o cara da TV americana falou que às vezes tem a impressão de conhecer melhor o Brasil do que alguns brasileiros que ainda não viram a potência econômica que é o nosso país, pois ainda focam apenas nas bundas.

E o pior é que o gringo não deixa de ter razão. Nós gostamos de vender as nossas bundas. E quem vende não pode reclamar do comprador. Se abriu o bar, vai ter que aturar o bêbado. Mas será que alguém se importa com isso?

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