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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Maternidade tardia


Finalzinho do ano passado, um de meus leitores pediu a minha opinião em
relação às gestações de mulheres sexagenárias, e para tanto anexou trecho
de jornal que noticiava: “Ao menos três mulheres com mais de 60 anos deram
à luz no país no último ano -- sendo duas delas nos últimos meses -- após
serem submetidas a procedimentos de reprodução assistida. No Brasil, não
há uma legislação que imponha um limite máximo de idade para uma mulher
gerar um filho nem consenso entre os médicos. O caso mais recente é de um
casal de Santos: Antônia tem 61 anos e José César Arte, 58. Eles são
casados há 25 anos e, na quarta-feira (24/10), ela deu à luz um casal de
gêmeos, Sofia e Roberto. Os bebês nasceram aos sete meses de gestação e
estão na UTI neonatal, pois precisam de acompanhamento: Sofia nasceu com
pouco mais de 980 gramas, e Roberto, com 1,1 kg. Os dois respiram
naturalmente, sem aparelhos”.
Pois bem, imagino que como todo tema controverso deve haver quem defenda o
direito das mulheres serem mães tardiamente, assim como opositores dessa
situação. Gostaria de saber, no entanto, quem defende o direito das
crianças resultantes desse procedimento. Sim; porque essas crianças terão
seus pais por quanto tempo? Esta é uma questão levada a sério quando se
trata de uma adoção. A prioridade não é arrumar crianças para casais, e
sim pais para quem não os têm. O foco são as crianças e não os adultos.
Nestes casos, dá-se o contrário: o foco são os adultos.
Analisando os rumos que a nossa sociedade vem tomando não me causa espanto
tal procedimento, pois é apenas mais um meio de satisfazermos nossos
caprichos. Mais uma vez exercitamos nosso egocentrismo, pensando em nós
mesmos, e deixando de pensar no outro. Afinal, tais crianças são troféus
diferenciados. Pouco importa quem vai cuidar delas depois; se vão se
tornar órfãos prematuramente; a diferença de pensamento e atitudes
motivada pelo conflito de gerações... isso pouco importa. O que importa
mesmo é poder ser pai e mãe quando nos convêm. Antes não tínhamos tempo,
pois estávamos preocupados em ganhar dinheiro; também não tínhamos preparo
e amadurecimento para sermos pais nem pensávamos em adotar uma criança
abandonada, queríamos um filho que fosse nosso, ainda que depois ele fosse
criado por outras pessoas.
Existe uma inversão de valores hoje em dia. Enquanto antes o “nós” era
priorizado, hoje o “eu” é prioridade. Imagino que deva haver uma razão
para as mulheres deixarem de menstruar e se prepararem para o ocaso de
suas vidas. Mas, não... Precisamos ser eternamente jovens, e a maternidade
tardia nos dá essa sensação de juventude. Até porque, atualmente
responsabilizamos nossos filhos por suas atitudes; não nos sentimos mais
responsáveis por suas más escolhas. Educar é um verbo que deixou de ser
conjugado. Presentemente, só se conjuga o verbo parir. E cada filho fica
lançado ao mundo e à própria sorte, como se isso fosse natural e não fruto
da omissão e despreocupação dos pais.
Convido a todos para a reflexão do tema, trocando ideias com pessoas
esclarecidas, analisando prós e contras desses procedimentos antinaturais.
E quero também lançar um questionamento: até que ponto temos o direito de
brincar de Deus?
Maria Regina Canhos Vicentin (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é
escritora.
Acesse e divulgue o site da autora: www.mariaregina.com.br.

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