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domingo, 7 de agosto de 2011

S&P rebaixa rating da dívida dos Estados Unidos para AA+

 

Agência de classificação de risco considera plano fiscal americano insuficiente para sanar os problemas econômicos

Fachada da Bolsa de Valores de Nova Iorque - 03/08/2011

Os Estados Unidos até esta sexta tinham um AAA da S&P – nota máxima para dívida soberana (Don Emmert/AFP)

A agência de classificação de risco Standard&Poor's rebaixou a nota da dívida americana nesta sexta-feira para AA+, o que significa que a maior economia do mundo deixou de ser AAA. A agência, assim como a Moody's e a Fitch, vinha ameaçando rebaixar a nota do país se não houvesse sinalização de melhora para a situação fiscal do país no longo prazo. Com a aprovação do plano de redução de gastos do governo dos Estados Unidos e a consequente elevação do teto do endividamento, na última terça-feira, o fantasma do calote foi dissipado e as ameaças, por ora, cessaram. O rebaixamento da S&P, no entanto, surpreendeu os mercados na noite desta sexta-feira. Na próxima segunda-feira, é praticamente certo que haverá mais um dia de turbulência nos mercados (veja quadro abaixo).

"O rebaixamento reflete nossa opinião de que o plano de consolidação fiscal que o Congresso recentemente concordou em aplicar está aquém do que seria necessário para estabilizar a dinâmica da dívida de médio prazo do país", afirmou a agência em comunicado.

Ainda de acordo com a S&P, o rebaixamento significa que a eficácia, a estabilidade e a previsibilidade das instituições políticas e formuladoras de políticas dos EUA enfraqueceram, assim como foi previsto quando a agência colocou a nota do país em perspectiva negativa. "Desde então, mudamos nossa visão das dificuldades para a superação das divergências entre os partidos políticos quanto à política fiscal, o que nos torna pessimistas quanto à capacidade do Congresso e do governo de alavancarem seu acordo, esta semana, para um plano de consolidação fiscal que estabilize a dinâmica da dívida do governo em algum momento próximo", prossegue o relatório.

Perspectiva negativa – O texto também diz que a perspectiva do rating de longo prazo é negativa. "Nós poderemos rebaixar o rating para AA nos próximos dois anos, se virmos que uma redução de déficit menor do que aquela acordada, taxas de juro mais altas ou novas pressões fiscais durante esse período resultem em uma trajetória geral para a dívida mais alta do que assumimos atualmente", informou a agência.

Leia mais: Apesar de acordo, Estados Unidos podem perder rating AAA

Tema em foco: A crise da dívida dos Estados Unidos

A S&P manteve inalterada em AAA a classificação de transferência e conversibilidade, que avalia a probabilidade de interferência governamental na capacidade de emissores norte-americanos dos setores público e privado de assegurarem moeda estrangeira para honrar o serviço de suas dívidas.

Bastidores do rebaixamento - A decisão inédita da agência ocorreu após muitas horas de drama, de acordo com relatos do jornal Wall Street Journal. A notícia teria vazado aos mercados no início da manhã, fazendo que o mercado operasse com volatilidade durante todo o dia. Por volta das 14h30 (horário de Brasília), a S&P teria notificado o Tesouro americano sobre a iminência do rebaixamento. Representantes do Tesouro teriam encontrado dissonâncias na avaliação da S&P, como uma diferença de 2 trilhões de dólares na matemática que definia o endividamento ideal para o país. Tal erro causou atraso na divulgação da nota.

Dívida americana – Após um embate político que perdurou mais de um mês, entre o Partido Republicano e o Democrata, o Congresso americano aprovou na última terça-feira um plano fiscal que eleva o teto do endividamento do país em 2,1 trilhões de dólares, acima dos 14,3 trilhões de dólares atuais. O plano também prevê um contingenciamento de até 2,4 trilhões de dólares nos próximos dez anos.

Os cortes serão aprovados pelo Congresso em duas etapas, sendo 917 bilhões de dólares imediatamente, e 1,5 trilhão de dólares no fim do ano, que seriam definidos por um comitê formado por democratas e republicanos da Câmara e do Senado. Se a comissão não chegar a um acordo sobre pelo menos 1,2 trilhão de dólares em economias, ou o Congresso rejeitar as sugestões, cortes automáticos nesse valor começariam a ser feitos em 2013. A contenção de despesa recairia, assim, igualmente sobre programas domésticos e militares. O Escritório de Orçamento do Congresso estima que o plano, na prática, pode cortar ao menos 2,1 trilhões de dólares.

Confira infografia sobre as propostas para dívida americana discutidas no Congresso

Analistas prevêm mais turbulência nos mercados

O que as agências de risco querem é ver o Congresso americano atacando o problema do déficit de longo prazo dos Estados Unidos. Desde o anúncio do plano de contingenciamento de gastos do presidente Barack Obama, na véspera da votação para elevação do teto da dívida no Congresso, o mercado já duvidava da eficácia do projeto em melhor o quadro fiscal no longo prazo. Se essa desconfiança se tornar generalizada, não somente a Standard & Poor's, mas também outras agências de rating nas próximas semanas, poderão retirar o cultuado 'triplo A' da dívida do país – a nota máxima de investimento que indica que o país está no seleto grupo dos altamente seguros para se investir.

As primeiras horas da próxima segunda-feira deverão ser marcadas por ondas de vendas de títulos da dívida americana, ações e dólares – mesmo com a recomendação dos especialistas em não se desfazer dos ativos quando estes começam a perder valor. A queda do grau de investimento provocaria mais corrida por ativos mais seguros como ouro e francos suíços – algo já verificado nos últimos dias de temor de uma nova recessão na economia global. O dólar afundaria. “O ouro viraria um novo porto seguro. Contudo, no médio e longo prazo, haveria um ajuste. Os mercados acabariam voltando para os EUA, não por confiança, mas por falta de opção”, avalia Flávio Samara, economista da consultoria LCA.

O Brasil poderia sofrer consequências. O real sobrevalorizado prejudicaria ainda mais as exportações e a inflação pioraria na esteira do aumento exagerado das cotações das commodities.

(com Agência Estado)

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