Páginas

segunda-feira, 7 de abril de 2008

O açude Forquilha “morreu”

Por Joab Aragão

Todos que habitamos a região, sabemos que o açude Forquilha “morreu.” Não porque tenha secado. Mas, tristemente, porque as águas que ainda restam na bacia hidráulica perderem a qualidade para consumo humano.

Imprestável para uso, as águas esperam que o inverno faça uma recarga capaz de dissolver os agentes nocivos responsáveis pela poluição que “matou” um reservatório que faz parte da história da cidade.

Em tempos idos, cabia ao DNOCS a construção, conservação e administração de centenas de açudes construídos por administração direta, desde a época da antiga IOCS, isto em 1909, até os primórdios da dita revolução militar, de 1964.

Daí para a frente, passou a utilizar os serviços dos empreiteiros.

No quadro de pessoal, a antiga autarquia federal, abrigou nomes respeitados nas áreas técnicas e científicas. Dentre esses nomes podemos ressaltar os de Miguel Arrojado Ribeiro Lisboa, Artur Fragoso de Lima Campos, José Augusto Trindade, Rodolpho von Ihering, José Guimarães Duque, Rui Simões de Menezes, Osmar Fontenele, Carlos Bastos Tigre e tantos outros que souberam dignificar a Inspetoria e, mais tarde, Departamento. Construções de estradas, canais de irrigação, aeroportos, hidrelétricas, açudes e ações voltadas para piscicultura, irrigação e até escolas primárias e assistência médica para a população situada nas áreas de atuação do órgão.

No governo do mineiro Artur Bernardes o órgão passa por momentos de enfraquecimento. O quadro foi repetido nas gestões de Sarney, Itamar Franco e Collor de Melo. Nas administrações de Epitácio Pessoa e de Getúlio Vargas o Departamento se agiganta, sobretudo na era Vargas, sob o comando de José Américo de Almeida, no Ministério da Viação e Obras Públicas.

Para ter-se uma idéia o velho DNOCS usufruía até de poder de polícia. Uma guarda armada não permitia lavar roupas, nem animais, nem pescar e jamais caçar em épocas do defeso. As margens e paredes dos açudes refletiam o cuidado, o zelo com a coisa pública. As terras, onde se assentavam as obras públicas, pertenciam, de fato e de direito, à União. Hoje essas terras parecem pertencer à União apenas pelo instituto do direito, porque, se for pelo do de fato, já pertencem a particulares, que constroem, com a omissão do DNOCS, casas, bares e outros tipos de edificações nas margens dos açudes.

Hoje, em vez de administrados por técnicos ou cientistas, os órgãos federais são fatiados entre os partidos de sustentação do governo.

Com a “morte” do açude Forquilha, a epidemia poderá alastrar-se para outros reservatórios, responsáveis pelo fornecimento de água potável. Esgotos, pesticidas, herbicidas são carreados para a bacia hidrográfica de açudes, que a sociedade não sabe a quem cabe o poder de administração: se ao combalido DNOCS, se a burocrática Agência Nacional de Águas (ANA), se à COGERH, se... A quem?

No dia 21 de outubro de 2009, se vivo for, o DNOCS completará 100 (cem anos) de existência.

Filho de funcionário do antigo órgão, assisti à construção do Araras, também dos canais de irrigação do Aires de Souza, conheci pessoalmente, quando menino/adolescente algumas das pessoas citadas no começo dessa matéria e preenchi grande parte dos meus passos nas cercanias de açudes como General Sampaio, Forquilha, Aracatiaçu, Jaibaras e não gostaria, jamais, como brasileiro e nordestino participar das exéquias do DNOCS. Queria, sim, ver o órgão fortalecido e senhor da promoção do bem-estar coletivo do Nordeste.

Isso não implica dizer que parte da população não tenha uma parcela de culpa pela “morte” de açudes. Todos temos o nosso quinhão de responsabilidade. Mas é preciso que o Governo, como senhor do comando, faça a sua parte.

Um comentário:

  1. É mentira pode ir olhar o açude e me chame eu moro na rua principal na br no ''Cyber Games.

    ResponderExcluir