"As vésperas do carnaval, o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), viajou à Europa. Durante dez dias, ele visitou uma feira de turismo na Espanha, participou de um seminário sobre fruticultura na Alemanha e de outro sobre energia alternativa na Escócia. Seria apenas mais uma viagem oficial, não fosse um daqueles detalhes que os políticos preferem esconder. Cid levou com ele a primeira-dama, Maria Célia, a sogra, Pauline Carol Moura, dois secretários e suas respectivas mulheres. Tudo foi pago com dinheiro público.
Para que o governador e sua turma tivessem um jato executivo à disposição durante a viagem, o Estado gastou R$ 388.500 com o fretamento – incluídas as despesas com a tripulação na Europa e as taxas aeroportuárias. O valor gasto é cerca de quatro vezes mais alto que se o governo tivesse pagado sete passagens na primeira classe de vôos comerciais. Nesse caso, porém, os nomes dos passageiros – inclusive as mulheres dos secretários e a sogra do governador, que não poderiam ter viajado à custa do Estado – teriam de ser publicados no Diário Oficial. A opção pelo jatinho manteve o segredo por mais de dois meses.
A história só foi descoberta na semana passada porque os dois únicos deputados estaduais que fazem oposição ao governo de Cid fizeram um pedido de informações ao governo sobre a viagem. Embora o governo seja obrigado por lei a prestar informações à Assembléia Legislativa, há um mês Cid disse que não devia satisfações. “Não vou me submeter a demagogia barata”, afirmou. “Tem de ter respeito. Ninguém pergunta ao presidente (Lula) quem viaja com ele.” Na semana passada, após dois meses de espera, os dados chegaram aos deputados. “À exceção da primeira-dama, a presença das outras três mulheres configura improbidade administrativa”, afirma o deputado Heitor Férrer (PDT), um dos autores do pedido de explicações. O governo do Ceará não respondeu aos pedidos de ÉPOCA para falar com o governador.
Uma das empresas selecionadas pelo governo pertence a um amigo de infância do governador
Os aviões são um foco de problemas na gestão de Cid Gomes – irmão do ex-ministro e deputado Ciro Gomes (PSB-CE). Em julho de 2007, foi feita uma licitação para escolher as empresas de táxi-aéreo que prestariam serviços ao governo cearense. Há indícios de que pelo menos duas delas foram favorecidas no processo. Uma é a TAF, dona do jato executivo que levou Cid à Europa no Carnaval. O edital afirma que o avião deve ter sido fabricado a partir de 1994. Por coincidência, é o ano de fabricação do jato da TAF. “O governo fixou 1994 com interesse de que uma empresa do Ceará pudesse participar”, diz Ariston Pessoa Filho, sócio da TAF. “Favorecimento seria se tivesse estabelecido que o avião deveria ter capacidade para nove pessoas. O meu tem essa capacidade.” Outro contrato sob suspeita, de R$ 1,5 milhão, foi firmado com a Easy Air. O edital exigia um jato King Air, fabricado a partir de 2004. Essa exigência é incomum, segundo donos de duas empresas de táxi-aéreo ouvidos por ÉPOCA. Um deles ressaltou que o importante não é a idade da aeronave, e sim as horas de vôo.
O caso da Easy Air é curioso. Ao contrário da TAF, a Easy Air é uma empresa de táxi-aéreo sem avião. Fundada há dois anos, ela é apenas uma intermediária que aluga as aeronaves que servem ao governo do Estado. A Easy Air pertence ao empresário Disraeli Ponte, amigo de infância do governador. No mês passado, Disraeli e a mulher comemoraram com Cid e Maria Célia o aniversário da primeira-dama numa churrascaria de Fortaleza. Desta vez ninguém precisou pegar jatinho."
Fotos: Jarbas Oliveira/Folha Imagem e reprodução
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