Não há como fugir de certos dias escuros e sombrios em que a tristeza
parece tomar conta de tudo e deixar poucas opções. A gente se sente mal,
“pra baixo”, com uma melancolia que agrada e atrapalha ao mesmo tempo.
Digo agrada porque, às vezes, a gente parece até gostar de estar triste.
Parece ser ocasião para um contato íntimo; encontro consigo mesmo,
introspecção e análise crítica de nossa postura diante dos acontecimentos.
Momento de constatações e propositura de novas alternativas diante de
mesmas situações vivenciadas, talvez, durante anos a fio sem qualquer
perspectiva de mudança. Digo atrapalha porque, normalmente, ao entrarmos
nesse turbilhão de constatações não conseguimos nos desvencilhar tão
facilmente quanto pensávamos que seria possível. Às vezes, ficamos horas
assim; às vezes, dias. Devemos estar atentos para que nossa prostração não
evolua para a angústia ou a depressão. Tudo vai depender da ênfase que
dermos a ela. Devemos nos esforçar para dosar o tempo que despendemos
entristecidos. Ele não deve ultrapassar o período necessário para as
constatações mais emergentes. Se você está triste há vários dias, cuidado
e preste atenção, pois pode estar supervalorizando sua prostração e
caminhando para a autocomiseração, tipo de coisa que não ajuda em nada.
As tristezas são necessárias e naturais na vida de qualquer pessoa,
entretanto, não podem tornar-se habituais ou mesmo excessivamente
“prazerosas” a ponto de desejarmos estar infelizes como forma de chamar a
atenção alheia ou nos creditarmos os martírios das pessoas santificadas em
épocas passadas. Perde-se muito tempo assim. Tempo precioso para gozar a
vida com tudo o que ela possui de bom e agradável. Não há como reformar o
mundo ou consertar tudo o que nos parece inadequado. Existem coisas que
precisamos aceitar a despeito de concordarmos com elas. A morte, por
exemplo. Podemos não achá-la justa, mas temos que nos curvar diante da
impossibilidade de erradicá-la da história humana. Conseguimos prolongar a
vida e conferir a ela maior qualidade, mas não eternizá-la materialmente.
Sei que isso, às vezes, causa profunda prostração. Nem sempre vemos com
bons olhos a morte de uma pessoa querida, e nem mesmo a nossa, quando
refletimos acerca da nossa fragilidade. O único consolo penso, se é que
existe, é saber que somos todos assim: finitos e limitados em nossa
expressão física.
Costumamos compensar essa nossa limitação através do desenvolvimento de
crenças num mundo espiritual, onde a vida tem continuidade e, melhor que
isso, onde a vida não tem fim. Não vejo nada de errado nisso. As crenças
alimentam nossas esperanças e nos encorajam a lutar pelo nosso
aprimoramento interior. Se a vida eterna existe é algo que ainda não
podemos provar, mas pensar assim nos conforta, e isso é muito bom. Não
tenha medo! O amanhã quase sempre traz surpresas. Ninguém está preparado
para a vida. Ela é a própria escola. Uma aventura imprevisível, cativante,
envolvente e, por vezes, angustiante. Ora, esse é o seu temperinho.
Monotonia, pra quê? A vida perde muito da sua graça quando passa a ser
previsível. Ela é emocionante exatamente pelo imprevisto e, no fundo, ela
é sempre imprevisível, inesperada, surpreendente.
Pare de se afligir com coisas que não tem como controlar ou prever.
Solte-se. Deixe a vida seguir seu curso. Viva o momento, pois ele é tudo o
que você possui; e será unicamente o que irá possuir sempre, o momento.
Nossos preparativos são sempre hipóteses. Vê como a vida é aventura?
Aproveite; curta a vida hoje, agora. Faça com que seu dia de prostração
transforme-se num dia de graça. Isso é possível, basta você querer.
Despeça-se da tristeza com um olhar agradecido, afinal, lhe ensinou muito.
Ela o fez, inclusive, ler este artigo até o final. Não é tão sua inimiga
assim. Existe um mundo inteiro esperando por você, basta que comece a
vê-lo de forma remodelada. Muito há para ser feito. Vamos lá; arregace as
mangas e mãos à obra. Não há prostração que resista ao trabalho, à
disponibilidade de auxílio ao próximo e ao desejo de amar a criação.
Observe isso e seja feliz!
Maria Regina Canhos (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora.
domingo, 14 de abril de 2013
Um dia de prostração
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