Por Luiz Carlos Amorim – Escritor – Http://luizcarlosamorim. blogspot.com
O Vale Cultura, instituído pelo governo brasileiro, foi sancionado pela presidente em dezembro e será regulamentado brevemente. Como já disse em outra crônica, o Ministério da Cultura está aceitando sugestões, opiniões, etc., para decidir o que, exatamente, será pago com o cartão, pelos beneficiários do mesmo.
A arte e cultura será o prato principal, mas as pequenas cidades brasileiras, que são a grande maioria, sem sombra de dúvida, não têm cinema, teatro, museus, academias de dança, nem biblioteca ou livraria.
Então onde o povo das cidades interioranas usarão seu cartão? Se o Vale vingar, fico imaginando que o produto cultural que pode ser o mais fácil de adquirir pelos beneficiários das pequenas cidades é o livro, pois ele pode ser comprado pela internet e entregue pelo correio.
Isso é ótimo, mas implica em outras providências. Se o Vale pode possibilitar que se venda mais livros aos brasileiros, precisamos de mais leitores, precisamos incentivar o gosto pelo leitura, precisamos incutir o hábito de ler.
Precisamos resgatar a educação, resgatar a qualidade do ensino de primeiro e segundo graus, para que a leitura mereça mais espaço na sala de aula. O ensino público precisa ser valorizado: as escolas têm de contar com manutenção constante, os professores têm que ser melhor qualificados, pois com o declínio da educação brasileira as faculdades também acabaram sendo afetadas e os profissionais que estão sendo colocados no mercado não estão tão bem preparados como deviam para desempenhar suas profissões aqui fora, no mundo real, seja qual for o ramo. E o professor precisa ser mais bem remunerado, para que tenha motivação e ânimo para transmitir conhecimento aos nossos leitores em formação.
Então precisamos que a escola faça com que as nossas crianças aprendam a ler e a escrever com efetividade, que dê aos leitores em formação a oportunidade de conhecer a boa literatura, para que possam gostar dela e passem a ter o hábito de ler. E quando falo em “boa leitura”, não quero me referir apenas aos clássicos da literatura. Refiro-me, também, às obras e autores contemporâneos, inclusive os regionais.
De maneira que, como disse o Ministério da Cultura, o Vale Cultura pode ser bom para todo mundo, mas para que se venda mais livros, citando apenas uma das artes contempladas no projeto, é preciso que tenhamos mais leitores.
É bom lembrarmos que, além de livros, o cidadão que receber o Vale Cultura poderá comprar revistas e jornais, com ele, também. Que revistas serão essas, é que são elas. O Ministério ou o governo não vão restringir isso. É uma faca de dois gumes, pois as revistas que serão compradas com o vale poderão não ter nada com cultura. Ao mesmo tempo que se pode comprar revistas de informação, assinaturas de jornais, pode-se comprar revistas da mais baixa qualidade, até pornográficas. E o objetivo do vale, com certeza, não é esse.
Então, para que se consuma os outros gêneros de arte e de cultura, há que haver a oferta deles em todas as cidades. Senão, os maiores beneficiados, como sempre, serão os habitantes dos grandes centros.
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