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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O discurso desse político dá a impressão de que ele é a ética em pessoa

Álvaro Dias, o Tio Patinhas do Paraná, há anos omite sua fortuna

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Senador tucano Álvaro Dias acumulou e escondeu um patrimônio milionário, agindo como o personagem das histórias em quadrinhos. O valor decorrente da suposta venda de uma fazenda não foi declarado à Justiça Eleitoral. Eram mais de R$6 milhões e com esses recursos ele construiu cinco mansões em Brasília, avaliadas em R$16 milhões. Atualmente, é este o valor demandado pela filha que ele não quis reconhecer.

Via Paraná 247

Tio Patinhas, o personagem das histórias em quadrinhos criado por Walt Disney, era milionário, mas detestava ostentar sinais exteriores de riqueza. Pegava mal. Por isso mesmo, todas as suas moedinhas eram escondidas nos cofres de suas residências. Álvaro Dias, líder do PSDB no Senado, é também uma espécie de Tio Patinhas do Parlamento brasileiro. Sua fortuna, questionável para alguém que vive há décadas da atividade política, vem sendo escondida há muito tempo.

O motivo para a omissão remonta à campanha eleitoral de 1994, quando Dias concorreu ao governo do Paraná e foi derrotado por Jaime Lerner. Naquele ano, o último programa eleitoral foi tomado pela denúncia de que Dias não pagava pensão à filha decorrente do relacionamento com Mônica Magdalena Alves: um tiro mortal em sua candidatura.

Dias perdeu aquela eleição, mas, em 2006, elegeu-se para o Senado, declarando à Justiça Eleitoral possuir um patrimônio de R$1,9 milhão. Era mentira. Em 2009, a revista Época, da Editora Globo, descobriu que Dias possuía, desde 2002, aplicações financeiras de R$6 milhões, supostamente decorrentes da venda de uma fazenda no Paraná. Confira abaixo:

Revista Época, 6/8/2009

Omissão milionária

O senador Álvaro Dias, um dos que mais cobram transparência, não declarou R$6 milhões à Justiça.

Matheus Leitão

O senador Álvaro Dias (PSDB/PR) é um dos que mais usam o palanque para exigir transparência do governo e de seus adversários. Mas, quando o assunto são suas próprias contas, ele não demonstra ter os cuidados que tanto cobra. Em 2006, Dias informou à Justiça Eleitoral que tinha um patrimônio de R$1,9 milhão dividido em 15 imóveis: apartamentos, fazendas e lotes em Brasília e no Paraná. O patrimônio de Dias, no entanto, era pelo menos quatro vezes maior. Ele tinha outros R$6 milhões em aplicações financeiras.

O saldo das contas não declaradas de Álvaro Dias foi mostrado a Época pelo próprio senador, inadvertidamente, quando a revista perguntou sobre quatro bens em nome da empresa ADTrade, de sua propriedade, que não apareciam em sua declaração à Justiça Eleitoral. Para explicar, ele abriu seu sigilo fiscal. Ali, constavam os valores das aplicações.

A omissão desses dados à Justiça Eleitoral é questionável, mas não pode ser considerada ilegal. A lei determina apenas que o candidato declare “bens”. Na interpretação conveniente, a lei não exige que o candidato declare “direitos”, como contas bancárias e aplicações em fundos de investimento.

No Congresso, vários parlamentares listam suas contas e aplicações aos tribunais eleitorais, inclusive o irmão de Álvaro, o também senador Osmar Dias (PDT/PR). Osmar declarou mais de R$500 mil em aplicações e poupanças. Jarbas Vasconcelos (PMDB/PE) listou quase R$150 mil depositados. Francisco Dornelles (PP-RJ) informou R$1,5 milhão em fundos de investimento. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-MA), atual alvo de uma série de denúncias, declarou quase R$3 milhões da mesma forma. Há poucos dias, Sarney foi denunciado por não ter informado à Justiça Eleitoral a respeito da casa que mora em Brasília.

Na interpretação de dois dos maiores especialistas de Direito eleitoral, Fernando Neves e Eduardo Alckmin, o espírito da lei é de transparência: “É conveniente que o político declare contas bancárias e aplicações financeiras para que o eleitor possa comparar o patrimônio no início e no fim do mandato”, diz Neves. “Não há irregularidade, mas é importante para evitar confusões no caso de um acréscimo patrimonial durante o mandato”, afirma Alckmin.

Álvaro Dias diz que o dinheiro não consta em sua declaração porque queria se preservar. “Não houve má intenção”, afirma. Em conversas reservadas, ele tem dito que o objetivo da omissão era manter a segurança de familiares.

O dinheiro não declarado de Álvaro Dias, segundo ele, é fruto da venda de uma fazenda de 36 hectares em Maringá, Paraná, por R$5,3 milhões. As terras, presente de seu pai, foram vendidas em 2002. O dinheiro rendeu em aplicações, até que, em 2007, Álvaro Dias comprou um terreno no Setor de Mansões Dom Bosco, em Brasília, uma das áreas mais valorizadas da capital. No local, estão sendo construídas cinco casas, cada uma avaliada em cerca de R$3 milhões.

Quando as casas forem vendidas, o patrimônio de Álvaro Dias crescerá ainda mais. Nada ilegal. Mas, a bem da transparência, não custa declarar.

Na reportagem acima, Álvaro Dias dizia que não houve “má intenção” em sua omissão. E antecipou até seus futuros investimentos. Disse que construiria cinco casas no Setor de Mansões Dom Bosco, uma área nobre do Distrito Federal. Atualmente, estas cinco casas valem R$16 milhões. Foram vendidas e a sua filha não reconhecida reivindica seu quinhão na transação. O líder tucano, por sua vez, afirma ser vítima de “chantagem”.

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