Talvez eu devesse ter escrito este artigo no dia internacional da mulher,
mas na ocasião não tive inspiração. Aliás, não sei se me faltou inspiração
ou indignação para escrevê-lo no mês de março. A verdade é que estou
consternada com a dureza com a qual a mulher é tratada na sociedade desde
que nasce. Embora em alguns casos mais veladamente, o preconceito permeia
nossa existência desde o berço. Filho homem parece ser sinal de benção,
enquanto que filha mulher... sabe-se lá o que pode vir a ser. Já pequenina
a mulher arrebanha olhares maliciosos e desperta desejos nos homens com
distúrbios na sexualidade. Antes mesmo de ingressar no ensino fundamental,
passa a ser alvo da violência física e sexual. A menarca traz consigo o
incômodo de sangrar todo o mês até a menopausa, isso acompanhado de
cefaleias, dores abdominais, náuseas e mudanças de humor características
da tensão pré-menstrual.
Espera-se tudo da mulher. Bom comportamento, boa índole, disposição para o
trabalho e para a maternidade, fidelidade, organização, eficiência,
romantismo, meiguice, moderação, prudência, discrição, sensualidade,
obediência, resignação e fé, além de outras características que as
mulheres sabem bem quais são porque também lhes são exigidas. Ora, mas que
exagero; quem exige isso? A sociedade como um todo; os pais (e mães), os
filhos (e filhas), os homens em geral e as próprias mulheres.
Vocês já perceberam como tudo recai nas costas das mulheres? Se houve
gravidez antes do casamento a mulher não se preveniu e armou para casar;
se abandonou o filho por falta de condições para criá-lo é desnaturada; se
ele se envolve com drogas não soube educá-lo; se o mesmo cai no crime
faltou disciplina em casa; se o marido trai é porque não lhe deu atenção;
se trai o marido é porque não presta; se é abandonada pelo companheiro
alguma coisa de errado fez; se pede a separação destruiu um lar... Enfim,
a lista é imensa, e a culpa sempre das mulheres. As mães culpam as filhas,
as filhas culpam as mães, mulheres culpam outras mulheres e ensinam seus
filhos a culpá-las também. Todo o pecado do mundo recai sobre a mulher. É
o preço a ser pago ao se nascer na condição feminina.
Somente quando conseguirmos entender que a mulher é gente, teremos
condições de assimilar que ela também erra, peca, falha... sente raiva,
medo, repulsa, solidão... comete crimes, pratica obscenidades e nem por
isso é pior que o homem. Na realidade ambos são semelhantes em muitos
pontos, mas a mulher é julgada com maior rigor e severidade. A mulher
confere o perdão, mas quando necessita dele, este costuma lhe ser negado,
principalmente por outras mulheres. Algozes de si mesmas, as mulheres
carregam uma dura carga sobre os ombros, e ainda têm muito que aprender;
principalmente respeitar suas limitações, deixando de aceitar imposições
ou querer abraçar o mundo.
Maria Regina Canhos (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora.
Acesse e divulgue o site da autora: www.mariaregina.com.br.
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