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sábado, 25 de maio de 2013

A dura carga da mulher

Talvez eu devesse ter escrito este artigo no dia internacional da mulher,
mas na ocasião não tive inspiração. Aliás, não sei se me faltou inspiração
ou indignação para escrevê-lo no mês de março. A verdade é que estou
consternada com a dureza com a qual a mulher é tratada na sociedade desde
que nasce. Embora em alguns casos mais veladamente, o preconceito permeia
nossa existência desde o berço. Filho homem parece ser sinal de benção,
enquanto que filha mulher... sabe-se lá o que pode vir a ser. Já pequenina
a mulher arrebanha olhares maliciosos e desperta desejos nos homens com
distúrbios na sexualidade. Antes mesmo de ingressar no ensino fundamental,
passa a ser alvo da violência física e sexual. A menarca traz consigo o
incômodo de sangrar todo o mês até a menopausa, isso acompanhado de
cefaleias, dores abdominais, náuseas e mudanças de humor características
da tensão pré-menstrual.
Espera-se tudo da mulher. Bom comportamento, boa índole, disposição para o
trabalho e para a maternidade, fidelidade, organização, eficiência,
romantismo, meiguice, moderação, prudência, discrição, sensualidade,
obediência, resignação e fé, além de outras características que as
mulheres sabem bem quais são porque também lhes são exigidas. Ora, mas que
exagero; quem exige isso? A sociedade como um todo; os pais (e mães), os
filhos (e filhas), os homens em geral e as próprias mulheres.
Vocês já perceberam como tudo recai nas costas das mulheres? Se houve
gravidez antes do casamento a mulher não se preveniu e armou para casar;
se abandonou o filho por falta de condições para criá-lo é desnaturada; se
ele se envolve com drogas não soube educá-lo; se o mesmo cai no crime
faltou disciplina em casa; se o marido trai é porque não lhe deu atenção;
se trai o marido é porque não presta; se é abandonada pelo companheiro
alguma coisa de errado fez; se pede a separação destruiu um lar... Enfim,
a lista é imensa, e a culpa sempre das mulheres. As mães culpam as filhas,
as filhas culpam as mães, mulheres culpam outras mulheres e ensinam seus
filhos a culpá-las também. Todo o pecado do mundo recai sobre a mulher. É
o preço a ser pago ao se nascer na condição feminina.
Somente quando conseguirmos entender que a mulher é gente, teremos
condições de assimilar que ela também erra, peca, falha... sente raiva,
medo, repulsa, solidão... comete crimes, pratica obscenidades e nem por
isso é pior que o homem. Na realidade ambos são semelhantes em muitos
pontos, mas a mulher é julgada com maior rigor e severidade. A mulher
confere o perdão, mas quando necessita dele, este costuma lhe ser negado,
principalmente por outras mulheres. Algozes de si mesmas, as mulheres
carregam uma dura carga sobre os ombros, e ainda têm muito que aprender;
principalmente respeitar suas limitações, deixando de aceitar imposições
ou querer abraçar o mundo.

Maria Regina Canhos (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora.
      Acesse e divulgue o site da autora: www.mariaregina.com.br.

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