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quinta-feira, 12 de julho de 2012

Minhas lembranças da vida na fazenda

BARRA QUE NÃO ME SAI DA LEMBRANÇA

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Barra, que não me sai da lembrança

Eu, Antônio dos Santos de Oliveira Lima (Dr. Lima) nasci no Sítio Barra, no município de Augusto Severo/RN (hoje, Campo Grande), no dia 1º de novembro de 1951, embora meus documentos registrem 10 de novembro.

Sou filho de Benedito Lima, ex-seringueiro do Norte e Delfina Alves de Oliveira, natural de Augusto Severo. Como toda mulher sertaneja, andava a cavalo, cortava lenha de machado, trabalhava na roça, levava água com uma lata solta equilibrada na cabeça. Nas horas vagas, trabalhava de costureira usando uma máquina de mão e se destacava na confecção de chapéu de palha de carnaúba. Meus quatro irmãos: Terezinha de Jesus, Maria Vanusia, Antônio Augusto e Maria Gorete seguiram o mesmo destino, pois, todos trabalhavam na roça. Meu pai, além de agricultor, trabalhava de pedreiro e carpinteiro. Também era mestre na construção de cercas de madeira e pedra. Homem sisudo, de pouca conversa. Com ele não era não e sim era sim, mas tinha um bom ciclo de amigos. Não conhecia intriga e gostava de fazer favores.

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Matriz de Santana

Nasci e me criei neste cenário. Comecei a trabalhar aos 6 anos de idade. Tomava banho nas águas límpidas do Rio Upanema e Riacho da Tapera, onde aprendi a nadar com muita habilidade e também pescava traíras com anzol. Nadar na correnteza era meu robe preferido. Acordava sedo para iniciar a lida com a ordenha em curral cheio de lama. Às vezes, com chuva e enfrentando vacas valentes. Completava o dia trabalhando na roça puxando boi de arado ou manobrando o cultivador, trabalho pesado e cansativo para um adolescente de 12 anos. Na época da colheita do feijão e algodão, passava o dia na roça. Ao meio dia, minha mãe chegava trazendo uma panela de feijão temperado com toucinho ou osso de gado. Neste período, quase não se frequentava escola, até que fui reprovado no Terceiro Ano Primário. Na escola, estudava sentado em banco de madeira. Quando tinha um aluno sentado em uma ponta do banco o outro se levantava e a queda era certa. Todos riam da desgraça do infortúnio. Carregava água em galão para encher os potes, aguar plantas e dar para os animais. Durante toda a minha infância possui apenas quatro brinquedos: dois bois de barro que ganhei de uma vizinha, um caro de boi que comprei por dez mil Réis e um caminhão que troquei por batata. Minha mãe juntava vacas de osso para nós brincar. Gostava de assistir as vaquejadas no pátio da fazenda tendo como mirante o topo de um serrote ou a copa de uma arvore. Minha principal atividade era na lida com o gado do meu pai. Perdi a conta das quedas de cavalo chegando a passar vários dias doente. À noite, ia para o terreiro ouvir as anedotas dos vizinhos que contavam estórias de alma, visagem, caçador e assombração. No mês de maio, a maior diversão era ir para as novenas na companhia de moças bonitas. Nas noites de São João e São Pedro, os vizinhos ficavam ao redor da fogueira comendo milho assado e brincando de anel, cantigas de roda ou jogando peteca nas noites de lua. Assistir as cantorias com os repentistas cantando desafio era muito interessante. Gostava de ir aos forrós, onde os pares dançavam em um salão de barro batido, a poeira subia e uma vez ou outra todos saiam apressado do salão, pois, um cabra valente puxava uma faca e botava todos para correr. Mas, o ponto alto de todas as diversões era a Festa da Padroeira Santana. Quando os parentes e amigos, que moravam distante, vinham participar dos festejos, das noites de novena, das barracas, leilão e procissão. A banda de música tocava no coreto da praça e o céu ficava iluminado com os fogos de artifício. Durante o dia, a vaquejada era a maior atração nos dez dias de festa. À noite, a Praça da Matriz ficava lotada de moças e rapazes passeando, enquanto outros se divertiam no carrossel e baleeiras. A meninada se divertia comendo alfenim e ganhavam presentes de brinquedos feitos de madeira que eram vendidos pelos retirantes. Só tínhamos medo era das turmas dos ciganos Belizário e Carnaúba.

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Bico do papagaio

Em 1975, todos cansados da dura vida da roça, resolveram arrumar as malas, venderam todos os animais e mudaram-se para Mossoró tentar uma vida nova e dar continuidade aos estudos, mas a vida da roça continua viva na memória de todos nós, principalmente o Bico da Papagaio na Serra Pintada e a Matriz de Santana. Os banhos de cachoeira, as partidas de futebol e as noites de luar, o canto da asa branca no fim do dia e o gorjeio dos passarinhos ao romper da aurora nunca me saem da lembrança.

Dr. Lima

Obs.:

1ª foto: Dr. Lima

2ª foto: Matriz de Santana

3ª foto: Bico do Papagaio

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