Interessante perceber como estamos despreparados para a inclusão quando convivemos há tanto tempo com as deficiências. É impressionante; mas ainda hoje não queremos ver; recusamos-nos a aceitar. Os espaços sociais não são para todos? Então, porque criamos projetos nos quais as pessoas portadoras de necessidades especiais, mesmo diante de sua limitação, necessitam brigar para usufruir? Tiramos o problema da sociedade e o colocamos no indivíduo. Quer um exemplo? As vagas para deficientes existem nos estacionamentos, mas normalmente são ocupadas por quem não possui deficiência alguma. Acaso desejamos que o portador de necessidades especiais saia no tapa para assegurar a sua vaga? Quem deve ser responsabilizado por isso? A coletividade, lógico.
A inclusão precisa ser feita com a responsabilização da coletividade. Necessitamos quebrar essas paredes quadradas nas quais estamos inseridos. Se o projeto não está surtindo resultado, devemos nos perguntar qual o problema do serviço oferecido, e não qual o problema do indivíduo. É muito fácil colocar a culpa na pessoa excluída, afinal, ela já está excluída mesmo. Quem vai defendê-la e assegurar o seu espaço social?
Isso não acontece apenas nos estacionamentos. Acontece nos postos de saúde, nas escolas. As pessoas que afortunadamente gozam de boa saúde e condições favoráveis simplesmente ignoram ou, pior, desprezam aquelas que possuem deficiências, como se fossem incompetentes ou resultantes de castigo divino. Muitos riem quando constatam que na antiguidade as pessoas portadoras de deficiência eram consideradas impuras, pecadoras, ou vítimas da fúria do Criador, pois avaliam tratar-se de crendices infundadas, no entanto, presentemente se comportam como se tal correspondesse à realidade. Evitam olhar, afastam-se sem um cumprimento, desviam ou trocam de calçada. Seria cômico se não fosse trágico. Lamentável, mas real. E não dá pra fingir que não está acontecendo nada.
Precisamos nos conscientizar da importância e da necessidade da inclusão social. Chega de olharmos só para as vitrines dos shoppings. O mundo é constituído por pessoas diversas e todas merecem a oportunidade de usufruir o que a vida tem de bom. O respeito, a estima, a consideração, o auxílio diante das dificuldades. O olhar que acolhe, reconhece, e favorece a mudança de mentalidade. É de dentro para fora que se muda. De nada adiantam vagas para deficientes nos estacionamentos, nas escolas, nos concursos, se não houver vagas para eles em nossos corações. É na diversidade que crescemos, e temos a oportunidade de ampliar nosso nível de consciência.
A pessoa portadora de necessidades especiais tem muito a nos ensinar sobre o preconceito, a capacidade de superação, a resiliência, o perdão. Nossos projetos devem ser estruturados de tal forma que as contemplem e assegurem sua satisfação diante do que lhes é oferecido. Ninguém melhor que a própria pessoa portadora de necessidades especiais para avaliar os benefícios e a conveniência de determinada medida ou situação. Será que já não está na hora de ouvirmos o que têm a dizer ao invés de perpetuarmos a exclusão?
Maria Regina Canhos Vicentin
(e.mail: contato@mariaregina.com.br)
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