Cruz. São poucas as pessoas que reconhecem a importância social e ambiental que tem o trabalho dos catadores de materiais recicláveis para a preservação do meio ambiente. Além de contribuírem para a limpeza das ruas e terrenos baldios, diminuição dos lixões e transporte de materiais, os catadores conseguem uma renda a mais para o sustento de suas famílias. Se todos os moradores colaborassem, muita coisa que vai para os lixões seria reaproveitada. Visitando o lixão de Cavalo Bravo pode-se constatar que 80% dos materiais que lá estão sendo colocados poderiam ser aproveitados na reciclagem, caso todos colaborassem com este serviço. Materiais como plástico, vidro, metais, papelão, garrafas PET, alumínio e PVC não deveria ter sido descartado para o lixão. É com este objetivo que os Senhores João Ferreira de Barros e João Elias dos Santos percorrem, diariamente, as ruas da Praia do Preá e as comunidades vizinhas de Formosa e Cavalo Bravo, no município de Cruz, no Ceará. Além das residências, eles também recolhem matérias das escolas e casas comerciais.
Seu João Ferreira, conhecido por Tibena, chegou a Praia do Preá em dezembro de 1981, onde se casou em 02 de janeiro de 1982, e decidiu ficar morando em Preá vindo da comunidade de Córrego da Forquilha no município de Jijoca de Jericoacoara, onde trabalhava na agricultura. Desde 2009 que passou a trabalhar com a coleta de material reciclável feita de porta em porta, aonde as pessoas separam o material e ele recolhe uma vez por semana. Ele diz que o vidro é recolhido apenas para fazer a limpeza, mas não é comercializado. O comprador da cidade de Bela Cruz recebe todo o material em sua residência quando completa uma carrada. Quando perguntado quanto ele consegue apurar com a reciclagem, muda de assunto, faz mistério e diz que não sabe. Hoje, vive exclusivamente da coleta de material reciclável, mas reclama que muita gente não colabora com a reciclagem afirmando que “não vão juntar material para os outros ganharem dinheiro”. Prova de que ainda estamos bem distante de uma consciência ecológica preservacionista. Tibena diz que não fez nenhum curso sobre reciclagem de materiais e age por pura intuição e com o objetivo de colaborar com a limpeza da comunidade e preservação do meio ambiente. Para coleta, ele usa uma carroça de tração animal puxada por um burro. Ele também recebe material que os moradores trazem da Praia de Jericoacoara que fica situada a 14 km de distância. São pessoas que querem colaborar com a reciclagem e preservação ambiental, diz.
Seu João Elias dos Santos, outro catador de material reciclável, é natural do Sítio Chã do Marinho, zona rural do município de Campina Grande na Paraíba, onde deixou casa e terreno. Chegou à Praia do Preá em 2007, na companhia de uma irmã e da madrasta. Sem emprego, resolveu catar material reciclável. Passa o dia caminhando pelas ruas da Praia do Preá, empurrando um carinho de mão. Reclama que o carro está velho e quebrado. Colhe papelão, garrafas PET e latas de bebida. A venda do material é feita a cada dois meses e a renda não passa dos R$ 120,00. É um trabalho difícil, pois empurrar um carro de mão pelas ruas de areia exige muito esforço físico, além de enfrentar problemas de saúde. João Ferreira e João Elias moram vizinhos, tiveram a mesma origem, saídos da zona rural, e seguiram o mesmo destino, a Praia do Preá e passaram a exercer a mesma atividade. Não sei se foi a sorte, não sei se foi coincidência, mas ambos fizeram o mesmo caminho e se encontraram no mesmo local. João Ferreira é casado e João Elias é solteiro. Eles não recebem ajuda do poder público, embora uma Lei Federal determine a possibilidade de ajuda para as pessoas que fazem coleta seletiva de material reciclável. Acredita-se que, se houvesse um trabalho de conscientização junto à população, talvez houvesse mais sensibilidade e colaboração para a preservação do meio ambiente. Nem mesmo a Associação Comunitária do Preá tem demonstrado interesse por questões ambientalistas.
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