- Arnaldo Bloch
Fernando de Noronha é atacada pelo presidente. Carnaval é “desidratado” pelo prefeito. Programa de abate humano aéreo clandestino é implementado pelo governador. Filho de presidente é cotado para embaixador nos EUA.
Advertência: hambúrguer não se frita, se grelha.
Orçamentos da educação superior e de pesquisa são estraçalhados. Autonomia das universidades é questionada.
Filosofia, Sociologia e Ciências Humanas em geral são fulminados. Proteção da floresta é negligenciada pelo capitão sob o argumento surradíssimo (já utilizado por um certo nacionalismo de esquerda tropical) de que “os Europeus acabaram com suas matas, não venham dar lição aqui”. Como se tempo, contexto e dinâmicas geopolíticas não existissem. Presidente pesca em santuário, xinga fiscal e sua multa é prescrita. Ministro da Justiça e ex-juiz-herói tem motivações políticas exibidas em praça pública e some de circulação. Saiu no Diário Oficial. Presidente abre o gargalo para que se meta mais milho transgênico e outras porcarias no nosso chope aguado de cada dia. Agricultura extensiva com licença progressiva para utilizar agrotóxicos lesivos a cérebros de bebês esquenta os tamborins para avançar livremente sobre cobertura florestal. Índios são esculhambados e postos num mesmo saco, achatando herança nativa. Presidente ataca segurança no trânsito após décadas de queda da mortalidade nas estradas, e tenta liberar crianças de medidas universais de proteção da integridade física delas. Presidente dá sinais de que sonha converter povo em milícia, ao pretender armar a população para prevenir “golpes” mesmo diante de 70% de rejeição a seu plano para o porte de armas. Dialética moderadora de vice-presidente é censurada. Ideólogo de extrema-direita boca-suja detrator da teoria da relatividade influi diariamente nos destinos dos cidadãos e promove a balbúrdia na cabeça doente do estado. Tese de que a Terra não é redonda é exaltada por general da reserva e ministro chefe do gabinete de segurança institucional como sinal de avanço da ciência, e ganha adeptos pelo país, contribuindo para o desmonte da inteligência nacional. Presidente trabalha por alívio de carga tributária de sacerdotes afortunados. Necessária reforma da previdência avança com várias questões sem respostas e privilégios em aberto, mas sequestro da poupança nacional pelos juros abissais do sistema bancário continua sangrando o país sem ser debatido. Presidente ignora mortes de Antunes Filho, Bibi Ferreira, Domingos de Oliveira, Beth Carvalho, Gervásio Baptista e Lúcio Mauro e miniaturiza João Gilberto. Ministro da Educação desconhece casos de invariabilidade do verbo haver. Chanceler dissemina guerra cultural baseada em teoria da conspiração neogramsciana. Tropa digital do presidente comemora fim de patrocínios a teatros.
Indignação pela morte de Marielle é tratada como mimimi pelas brigadas neofascistas que seguem o poder constituído. Burrice vira patrimônio nacional. A lista de ultrajes acima, destinada a dar um relance do espírito do tempo, cresce em ritmo cavalar, como se fosse a gosma primordial usada por um demiurgo do mal na criação de seu universo: um novo mundo no qual, a não se abrirem os olhos, estaremos condenados a viver.
Fonte: https://www.facebook.com/edilson.aragao/posts/2759049634109547
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