21 de Novembro de 2015 às 17:12
SP 247 - Um dos principais nomes do PSDB para disputar a presidência da República em 2018, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, pode ver seu projeto nacional naufragar novamente, se não contiver os desdobramentos da agenda negativa encampada em seu governo.
Crises de gestão em três áreas estratégicas estão contribuindo para erodir o capital político de Alckmin: a gestão dos recursos hídricos, da Segurança Pública e, mais recentemente e com mais força, a crise na Educação com a intenção do governo de fechar escolas.
A chamada "reorganização" das escolas da rede estadual de ensino tem catalisado grande parte da insatisfação do paulista com o governo Alckmin. Prevista para ser implementada a partir do próximo ano em todo o estado, a mudança prevê fechamento de pelo menos 93 escolas na capital, região metropolitana e no interior, e a transferência de 311 mil estudantes para unidades na região onde moram.
A discordância com a proposta, anunciada pelo governo sem a devida discussão com os atores envolvidos no processo educacional, só cresce. Da última segunda-feira, 9, quando iniciou-se o levante de estudantes contra a medida, até esta sexta-feira, 20, já são 67 o número de escolas ocupadas por estudantes paulistas. O levantamento foi feito pela Secretaria Estadual de Educação. Já os alunos falam em 80 colégios tomados. Só nessa última semana, foram 48 escolas. Movimentos sociais como o dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) passou a ocupar escolas do estado em apoio ao protesto dos jovens.
A proposta de Alckmin ganhou repercussão internacional. O espanhol El Diário publicou extensa reportagem mostrando a surpreendente ocupação das escolas, o protagonismo e autonomia dos estudantes em relação a partidos políticos e as semelhanças entre manifestos de estudantes chilenos e espanhóis.
A rede de escolas estaduais abriga 3,75 milhões de alunos. A reforma será posta em prática a partir de 2016 e, por causa dela, além do encerramento de atividades letivas em 94 escolas, outras 754 terão ciclos encerrados, quer do ensino fundamental ou médio. A medida, entretanto, é encarada com pessimismo por 62% da população da capital, segundo recente pesquisa do Instituto Datafolha (leia aqui).
Num dos estados mais escolarizados do País, fechar escolas públicas não é bem o legado de gestão mais apropriado para quem quer disputar uma eleição presidencial.
Falta planejamento, mas sobra prêmio
É consenso entre o meio acadêmico que a crise no abastecimento de água na Grande São Paulo, a pior da história, é uma tragédia anunciada há mais de uma década. Para o Tribunal de Contas do Estado (TCE), a falta de água em São Paulo foi resultado da falta de planejamento do governo paulista. O órgão relatou que a Secretaria Estadual de Recursos Hídricos (SSRH) recebeu vários alertas sobre a necessidade de um plano de contingência para eventuais riscos de escassez hídrica na Região Metropolitana de São Paulo.
A gestão dos recursos hídricos por Alckmin foi reprovada por nada menos que 48% da população do estado, segundo pesquisa do Instituto Datafolha divulgada no início deste mês. Para 84% dos paulistas, o governo tem omitido informações sobre a situação real dos reservatórios (leia aqui). Apesar da insatisfação do paulista, Geraldo Alckmin foi premiado pelos esforços (sic) para combater a seca no estado, ao receber da Câmara o Prêmio Lúcio Costa de Mobilidade, Saneamento e Habitação 2015 (leia aqui).
Insegurança é pública
Na área da Segurança Pública, o aumento dos indicadores de violência tem desafiado a capacidade do governo de Geraldo Alckmin de lidar com a situação. De acordo com a Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo, 571 pessoas morreram entre janeiro e agosto deste ano no Estado em decorrência de abordagens das polícias Civil e Militar - maior índice desde 2006.
Apenas em 2014, quando Alckmin liderou do início ao fim a campanha eleitoral que levou à sua reeleição, um total de 1.783 jovens foram mortos na capital paulista. Destes, 706 foram homicídios de jovens na faixa de 15 a 29 anos, o que significa 1,94 morte por dia. Em 2013, o número foi 14% menor, com 608 assassinatos. Do total de mortos por assassinato (706), 63% são pretos e pardos, e 91% são homens.
Outro dado alarmante mostra que o Estado de São Paulo registrou 6,3% mais mortes cometidas por policiais militares do que todo os Estados Unidos em cinco anos, levando em conta todas as forças policiais daquele país. Foram 2.045 pessoas foram mortas no Estado de São Paulo pela Polícia Militar em confronto - casos que foram registrados como resistência seguida de morte - entre 2005 e 2009.
Sem receber premiação nesta área, o governo Alckmin tem adotado medidas que justamente enfraquecem divisões que combatem a mortalidade por policiais, como a Comissão Especial de Redução da Letalidade, que tinha o objetivo de investigar e reduzir as mortes por intervenções policiais. Um outro grupo criado em 2014, com previsão de financiamento de R$ 10 milhões pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), também foi desmobilizado.
Com a pecha cada vez mais presente de "inimigo da educação" por querer fechar escolas, sem garantia de segurança hídrica para os paulistas e com níveis alarmantes de violência, qual modelo de gestão Geraldo Alckmin irá apresentar numa corrida presidencial?
http://www.brasil247.com/pt/247/sp247/204973/Trapalhada-educacional-mina-projeto-Alckmin-2018.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário