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sexta-feira, 20 de novembro de 2015

O bom exemplo de Itamar e Hargreaves

 

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Amigo do então presidente Itamar Franco, Henrique Hargreaves era o chefe da Casa Civil de seu governo. Poderoso, portanto, embora mantivesse no Planalto a mesma simplicidade que mostrava como alto funcionário do Senado – simplicidade que também era uma característica do senador e depois presidente Itamar.

Pois Hargreaves já era o principal ministro do governo há um ano e um mês quando surgiram vagas acusações contra ele. Dizia-se que, tendo em vista suas funções no Senado, era impossível não saber ou mesmo não ter participado do enorme desvio de verbas públicas que a CPI do Orçamento desvendava. Os adversários políticos aproveitaram para atacar Itamar e Hargreaves, levantando a suspeita de corrupção.

Hargreaves fez então o que todos os administradores públicos e pessoas com responsabilidade de Estado deveriam fazer nessas circunstâncias: pediu exoneração do cargo, para preservar o presidente e não interferir nas investigações. E Itamar fez o que todos os presidentes deveriam fazer: aceitou imediatamente o pedido de exoneração.

Três meses e alguns dias depois, nada havia sido encontrado contra Hargreaves. As suspeitas eram infundadas e as acusações eram levianas. Ele, então, voltou à chefia da Casa Civil, onde ficou até o fim do governo de Itamar. Saiu e voltou por cima.

A atitude de Hargreaves, endossada por Itamar, é a que deveriam ter todos os que exercem funções públicas, em qualquer nível, e que fossem acusados de irregularidade e corrupção. É assim na maioria dos países democráticos, especialmente nos mais avançados – o acusado deixa a função. O afastamento não é, como dizem alguns no Brasil, uma confissão de culpa. É uma atitude preventiva, que atende aos dois objetivos citados por Hargreaves: preserva o governo, ou o órgão ao qual o acusado está vinculado, e elimina a possibilidade de, no cargo, ele interferir nas investigações. Se a culpa não é comprovada, o acusado volta à função, como fez o chefe da Casa Civil de Itamar.

Em um país em que o exemplo de Hargreaves não prosperou, não é de se estranhar que o deputado Eduardo Cunha continue presidindo a Câmara e seja o segundo da linha sucessória. E em um país em que a corrupção e a falta de vergonha já fazem parte do dia a dia, não é de se estranhar que entre os congressistas e outros políticos ainda haja quem o defenda e acoberte, aberta ou veladamente.

É mais do que óbvio, para o cidadão comum, que Eduardo Cunha não tem condições de ser deputado, quanto mais ser presidente da Câmara. As investigações mostram o tamanho de sua roubalheira e suas entrevistas mostram a dimensão de seu cinismo. Mas aí vêm seus cúmplices e capangas com a alegação de que tem o direito de se defender, de que não há ainda denúncia formalizada contra ele. Claro que Cunha tem o direito de se defender, mas fora da presidência de uma das casas do Congresso, e sem interferir, como está fazendo, nas apurações do Conselho de Ética.

Para o cidadão comum, Eduardo Cunha tem de ter seu mandato cassado por ser ladrão, e não por ser mentiroso. O formalismo regimental da Câmara, as chicanas de deputados e advogados, as filigranas ridículas não interessam à população. São parte da incrível rede de autoproteção mafiosa que os políticos estendem.

O que tem de ser feito com Cunha é simples, já que ele não renuncia:

1 – Ser afastado da presidência da Câmara.

2 – Ter o mandato cassado por corrupção e, secundariamente, porque é mentiroso.

3 – Ser logo denunciado, julgado e preso.

E não venham os parlamentares e outros políticos com conversinhas que só colam no Salão Verde e nos subterrâneos lamacentos da Câmara.

http://www.brasil247.com/pt/blog/heliodoyle/206111/O-bom-exemplo-de-Itamar-e-Hargreaves.htm

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