MARCUS VINÍCIUS 6 de Fevereiro de 2015 às 11:14
A lógica que parece perpassar a operação Lava-Jato é: “Todo tucano que se mostre culpado é inocente enquanto a Justiça assim o quiser. Todo petista, embora inocente, é culpado porque assim a Justiça o quer”
Quão honesta é a luta contra a corrupção na Petrobrás? A investigação vale para todos, ou é apenas mais um capítulo da novela exibida pelos grandes grupos de mídia para criminalizar Lula, Dilma e o PT?
É uma investigação que tem parcialidades demais.
Delegados e procuradores declaradamente aecistas.
Conforme registrou o jornal O Estado de São Paulo na matéria “Delegados da Lava Jato exaltam Aécio e atacam PT na rede”, ´publicada em 13/11/2014.
Um juiz cuja mulher é advogada da Shell.
Conforme revelou o jornalista Paulo Nogueira, no seu site Diário do Centro do Mundo, em 06/12/2014.
Um delator que faz sua segunda delação premiada ao mesmo juiz e que pode receber mais de R$ 10 milhões ao final do processo.
Conforme matéria nos portais Terra e Uol de 24/01/2014.
Delatores que não apresentam provas.
Empresários que são presos e coagidos a confessar, aquilo que se quer que se confesse, numa brutal violação do devido processo legal e do amplo estado de defesa.
A lógica que parece perpassar a operação Lava-Jato é: “Todo tucano, que se mostre culpado é inocente enquanto a Justiça assim o quiser. Todo petista, embora inocente, é culpado porque assim a Justiça o quer”.
É assim que se faz Justiça? Repetindo a República do Galeão, que em 1954 conduziu um julgamento arbitrário, parcial e fraudulento contra o presidente Getúlio Vargas levando-o ao suicídio?
É preciso discutir seriamente a corrupção no Brasil. Nenhum governo, nenhuma empresa estatal, nenhum ente público pode continuar refém de corruptos e corruptores. Mas o Brasil é guiado por uma elite apátrida, por oligopólios de mídia e por setores ultraconservadores do Judiciário. O objetivo destes segmentos não é a faxina moral no país. O que se quer de fato é que o país não mude. Assim como no romance “Leopardo”, de Guiseppe Tomasi di Lampedusa, Aécios, Fernando Henriques e Moros repetem o mantra de que única mudança permitida é aquela sugerida pelo príncipe de Falconeri: “tudo deve mudar para que tudo fique como está”.
O que temem estes setores mais atrasados do PSDB, do Judiciário e da mídia?
O sucesso do segundo mandato da presidenta Dilma?
O retorno do presidente Lula?
A incrível mobilidade social que nos últimos 12 anos retirou 40 milhões de brasileiros da miséria absoluta?
Ou há outros interesses explicados pela geopolítica?
Durante sua campanha à presidência dos Estados Unidos em 1992, James Carville, então assessor da campanha de Bill Clinton, criou a frase “É a economia, estúpido!”. O slogan, que adornava o Q.G. de campanha de Clinton, captou o espírito do tempo. Hoje, no Brasil, a frase poderia ser “É o petróleo, estúpido”. O Brasil tem hoje uma das maiores reservas de petróleo do mundo numa área não conflagrada, ou seja, sem risco de guerras, atentados, sabotagens.
A desestabilização do governo brasileiro ameaça fazer retornar no país as teses privatistas que prosperaram durante os oito anos de governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.
O jornalista Hayle Gadelha, analisa na sua página (Blog do Gadelha) esta tentativa de volta ao passado proposta por FHC, e também com Aécio, que tramam golpe pelas mãos do presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ):
“Fernando Henrique é esperto. Bem formado e informado, usa as palavras astutamente na busca de vender o seu pássaro, digo, o seu peixe. No artigo que publicou domingo, 'Inovar na política', tenta convencer que inovar significa retroceder ao passado tucano. Aponta suas penas em várias direções, na esperança de provar que os tucanos não voam para trás. E nesse afã acaba, com todo o respeito, cometendo algumas papagaiadas.
Diz que “na última década renasceu no Brasil a ilusão de que tudo seria feito e ‘salvo’ pelo Estado”. Quem afirmou algo assim?
Está cabendo ao Estado fazer o que é preciso fazer e que não era feito (ou não era bem feito) nem pelo Estado nem pelo não-Estado. Alguém tinha que fazer. E os governos dos últimos 12 anos fizeram o possível e o impossível para preencher lacunas deixadas. Conseguiram alguns sucessos importantes. Por exemplo, quando Fernando Henrique deixou o governo, o analfabetismo era 11,9% – em 2013 (os dados da última administração publicados pelo Globo no dia 1º são praticamente todos de 2013) tinha caído para 8,5%. A mortalidade infantil era de 26,04% – caiu para 15,02%. A população com acesso à rede de esgoto era 44% – subiupara 55,9%. A inflação estava em 12,53% – caiu para 6,38%. A taxa de desemprego, 9,1% – caiu para 6,5%. O PIB per capita era R$ 8.382,24 – subiu para R$ 24.065,00. O investimento estrangeiro direto era de US$ 16,6 bilhões – subiu para US$ 60 bilhões. O salário mínimo era de 200 reais– chegou ao final de 2014 a 724 reais (em 2015 já está em 788 reais). Isso sem falar do Minha Casa Minha Vida, que antes não existia nada similar. Você vai perguntar agora – e o crescimento econômico? Realmente o crescimento econômico sobre o PIB está longe do desejado – era de 2,7% em 2002 e a previsão para 2014 é de 0,14%. E houve outros problemas sérios. Corrupção e reação neoliberal muito forte (no Brasil e no mundo). Mas nada justifica bater asas rumo ao passado, a não ser a decisão pura e simples de aninhar-se na ideologia tucana”
Diz uma lenda dos índios norte-americanos que a águia, quando chega aos 40 anos, apresenta-se com o bico, unhas e asas muito desgastados. Então, ela recolhe-se ao alto de um montanha, e bate com os bicos na rocha até este cair. Em seguida nasce um novo bico e então ela arranca as unhas, esperando-as crescerem de novo. Com estes, arranca as penas das asas. Por fim, com todas essas partes renovadas, após 120 dias, ela vive ainda mais 30 anos, atingindo a longevidade de 70 anos.
O PSDB também é representado por uma ave, o tucano. Mas, ao contrário da águia, o caminho proposto ao partido por Fernando Henrique Cardoso e pelo ex-presidenciável Aécio Neves, não é um ritual que leve ao rejuvenescimento. O caminho golpista aproxima o PSDB da velha UDN, que sem votos para chegar ao poder tramou o golpe contra os presidentes Getúlio Vargas (1954) e João Melchior Goulart, o Jango em 1964. O tucano, ao invés de se transformar em águia, caminha para virar o corvo, aquele nesmo que em 1964 enterrou a democracia nas trevas por 21 anos.
Marcus Vinícius é jornalista e economista, ex-presidente da Agência Goiana de Comunicação.
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