11 de janeiro de 2015 | 12:07 Autor: Miguel do Rosário
(Foto publicada no Estadão)
Renato Rovai, editor da Forum, e profundo conhecedor dos bastidores da política paulista, em especial do PT, fugiu do lugar comum de apenas detonar a senadora como “traidora”, etc, e fez uma análise objetiva das manifestações raivosas da senadora e ex-ministra da Cultura.
Segundo Rovai, os defeitos de Marta, a sua vaidade e prepotência constrangedoras, são comuns a boa parte dos políticos, inclusive dentro do PT, e isso acontece em função da maneira como o poder tem sido disputado dentro do partido.
A sua entrevista ao Estadão, um curioso show de ataques suicidas a seus próprios aliados partidários, merece ser analisada em laboratório, com frieza e objetividade.
Suas acusações são levianas, quase fúteis, e todas acabam ricocheteando na própria Marta.
Disputas de poder intra-partidárias, que a senadora agora tenta pintar de cores góticas, são inevitáveis e até saudáveis.
O problema do PT não é esse.
Marta perdeu disputas internas, e não está sabendo lidar com essas derrotas.
No entanto, o caso nos permite analisar, de perto, a doença mais comum que acomete as principais lideranças políticas do país: essa mania de olhar antes para si mesmo, de se atribuir demasiada importância, esquecendo o coletivo, além dessa melancólica tendência de se embriagar facilmente com os holofotes da mídia, deixando de lado uma relação direta e franca com os eleitores e cidadãos.
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Isso vale para Marta, mas não só para ela…
Por Renato Rovai, em seu blog.
Marta Suplicy é uma pessoa controversa e difícil, mas não deveria ser politicamente julgada por isso. Sua entrevista de hoje é recheada de armadilhas e sinaliza para uma saída ruidosa do PT, mas o partido deveria tratá-la como uma oportunidade para algumas reflexões.
Marta não é diferente de boa parte dos políticos. Ela se move muito mais em função dos seus interesses pessoais do que do projeto coletivo.
Marta também é tão vaidosa quanto a maioria deles. É tão arrogante quanto a maioria deles. Sabe fazer intrigas quanto a maioria deles. Gosta tanto de poder como a maioria deles, até porque é ele que permite exercer um lado autoritário que alimenta a alma da maior parte deles.
Marta não é uma espécie rara na política. Ao contrário, é um pouco a essência da vida pública no país.
A diferença é que ao contrário da maioria dos seus pares, Marta é mais transparente. Fala em público aquilo que homens que se se julgam mais espertos preferem confidenciar a jornalistas em off no cafezinho do Congresso.
O excesso de vaidade e de transparência foi o seu principal adversário na reeleição à prefeitura de São Paulo. Naquele pleito, Marta perdeu para ela mesma. Seu governo era muito bem avaliado e seu adversário só amargava derrotas antes de superá-la.
Na entrevista a Eliane Catanhede publicada no Estado de S. Paulo de hoje (a entrevistadora também diz muito sobre a entrevista) Marta vai pra cima do PT como poucos dirigentes importantes o fizeram na história do partido. E Marta tem razão quando diz que o partido está em risco. O PT pode de fato, senão morrer, torna-se um projeto bem menor do que é ou já foi.
Mas o que Marta não diz é que ela é muito mais parte do problema do que da solução no que parece criticar.
Marta foi prefeita da maior cidade do Brasil e quando teve a oportunidade de oxigenar o partido e criar uma nova referência de relação com ele a partir do governo, não fez diferente do que aqueles que hoje critica. Marta foi exageradamente pragmática, sufocou adversários internos, priorizou relacionamentos com setores da direita em algumas áreas e não apostou em novas lideranças. Marta usou a máquina da prefeitura como um trator do ponto de vista das disputas internas.
Isso não significa que seu governo tenha sido um desastre. Muito pelo contrário, ela fez uma administração histórica em São Paulo e suas marcas (como os CEUs e os corredores) terão relevância por muitos e muitos anos.
A questão é que Marta hoje não tem poder e não pode exercê-lo do ponto de vista interno na mesma intensidade de quando era prefeita. Hoje são outros que movem o partido e suas estruturas a partir da força que detém em governos ou parlamentos.
O PT se tornou um partido muito suscetível à força dos seus prefeitos, governadores, ministros e parlamentares. E muito menos permeável às demandas dos movimentos sociais do que em outros momentos.
Essa é a crise do PT e que já foi identificada por Lula e outros dirigentes. É isso que pode senão matar o partido, diminui-lo e torná-lo insignificante.
Por isso a entrevista de Marta deveria ser tratada como um ponto de inflexão pela militância e dirigentes. Não é o momento para agir com o fígado e sair por aí xingando-a ou acusando-a disso ou daquilo. É hora de aproveitar para pensar o que leva personalidades políticas importantes a se acharem donos de um projeto e se comportarem como se não devessem nada a ninguém.
Isso vale para Marta, mas não só para ela.
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