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domingo, 19 de agosto de 2012

A complexidade da mulher

 

A cada dia que passa me convenço mais acerca da complexidade da alma feminina. O que pode já não ser mistério para muitos, continua a sê-lo para mim, talvez, por ser mulher. É certo que vários homens provavelmente há tempos descobriram como a mulher é complicada. Entretanto, nós mesmas ainda estamos nos descobrindo, porque a cada dia percebemos uma nova faceta nessa criatura polivalente e ambígua. A complexidade da mulher é tal que, às vezes, nem ela mesma se entende. Portanto, homens, aprendam a ser tolerantes conosco. Nem sempre temos controle em relação ao nosso humor afetado ou nossas crises existenciais. Essas coisas aparecem e desaparecem muitas vezes sem que consigamos descobrir qual a sua origem em nós.

A ciência tem estudado sobre a interferência dos hormônios no funcionamento emocional e psíquico das mulheres. Pesquisas comprovam que a TPM não é um mito, mas uma realidade. O número de episódios desastrosos envolvendo mulheres nessa época é acentuado. Observo, contudo, que a sensibilidade também parece assegurar maior encantamento e sofrimento às mulheres assim como a alguns homens determinados. A pessoa sensível carrega consigo um olhar diferenciado do mundo. Ela vê de forma mais contundente alguns aspectos que simplesmente passam despercebidos para outros. Tal característica confere um “peso”, não necessariamente no sentido pejorativo do termo, mas algo que precisa ser administrado, metabolizado, traduzido para o emocional e assimilado pela pessoa para que a mesma possa se tranquilizar. Isso desgasta, requer energia, e as pessoas sensíveis normalmente estão quase sempre mais cansadas que as demais.

É provável que o leitor já esteja achando este texto complicado como as mulheres, porém tudo se explica pelo fato da autora ser mulher. Verdade. Que miscelânea de sentimentos envolve o universo feminino. Dá tanto trabalho lidar com as emoções que muitas mulheres estão optando por se masculinizarem. Empreendem esforços para serem objetivas, competitivas, determinadas e passam a rivalizar com os homens e outras mulheres. Eu compreendo, mas sinto que isso empobreceu o feminino no mundo. Não é sem justificativa que muitos homens estão se afeminando. O feminino faz falta. A doçura da mulher diante das agruras da vida faz muita falta. O fato da mulher ter se desconfigurado abriu para o homem a mesma possibilidade. Muitos percebem aumento no número de homens afeminados, mas esses mesmos não percebem o aumento no número de mulheres masculinizadas. A natureza busca o equilíbrio. Masculino e feminino precisam coexistir.

Sinto que a mulher tem perdido muito nessa inversão de papéis. Ela se força a adquirir características que não possui, e ao mesmo tempo sufoca aquelas que lhe são naturais. Não seria mais fácil deixar fluir o que se tem de inato? Será que já não está claro que o mundo precisa de meiguice, ternura, espiritualidade e compaixão? Sim, nós somos complicadas, e daí? Nós também somos muito românticas, sonhadoras, alegres e pacientes. Temos esperança e fé. Suportamos com resignação momentos de dor. Confortamos com a nossa presença e palavra amiga aqueles que necessitam. O feminino está em nós, mesmo que relutemos em assumi-lo e amá-lo como parte essencial de nossa constituição. Façamos as pazes com a nossa sensibilidade. Vamos continuar complicadas... Mas, que graça tem a vida sem um grande desafio?

Maria Regina Canhos Vicentin (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora.

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