Por Athos Moura (athos.moura@oglobo.com.br) | Agência O Globo – RIO - O comando da Polícia Militar informou em nota no início da madrugada desta quinta-feira que foram exonerados os comandantes do 5º BPM (Praça da Harmonia), coronel Amaury Simões, e o comandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Morro da Providência, capitão Glauco Schorcht. O chefe do serviço reservado do batalhão, capitão Anderson Luiz de Souza, e os sargentos Marcos Aurélio das Chagas e Marcos André dos Santos, da UPP, são acusados de darem cobertura às ações da quadrilha do contraventor Evandro Machado dos Santos, conhecido como Bedeu.
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A decisão foi tomada após reunião na noite desta quarta-feira no Quartel-General da PM, depois da análise das informações obtidas durante a Operação Catedral. O chefe do Serviço Reservado do 5º BPM (Praça da Harmonia) recebia R$ 9,4 mil para fazer a vista grossa às bancas de apostas. Lotados na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Morro da Providência, os sargentos Marcos Aurélio das Chagas e Marcos André dos Santos recebiam por semana R$ 150 e R$ 75 respectivamente para não reprimir o jogo do bicho na área da UPP da Providência.
Para o comando do 5º BPM foi nomeado o tenente-coronel Sidney Camargo de Melo, que era subcomandante do 1º Comando de Policiamento de Área (1º CPA). Para a UPP da Providência foi designado o capitão Felipe Lopes Magalhães, que comandava a UPP Babilônia e Chapéu Mangueira desde junho de 2009.
O comando da PM determinou ainda a abertura de Inquérito Policial-Militar para apurar o envolvimento e participação de policiais com contraventores presos nesta quarta-feira.
Polícia Civil afastou delegado na quarta-feira
Mais cedo, após a notícia da prisão do chefe do Grupo de Investigações Criminais (GIC) da 4ª DP (Praça da República) durante uma operação contra a quadrilha acusada de controlar o Jogo do Bicho no Centro do Rio, a chefe da Polícia Civil, delegada Martha Rocha, anunciou o afastamento do delegado titular da unidade. Em nota, ela afirma que o afastamento é imediato:
"A chefe da Polícia Civil, Martha Rocha, após ter tomado ciência da prisão do chefe do Grupo de Investigações Criminais (GIC) da 4ª DP (Praça da República), adotou como critério administrativo o imediato afastamento do respectivo delegado titular, Henrique Pessoa", diz a nota.
O chefe do serviço de investigações da 4ª DP (Central) Weber Santos de Oliveira recebia mensalmente R$ 16 mil para passar informações sobre investigações ao grupo que explorava o jogo do bicho. O dinheiro era entregue pelo policial civil aposentado Alan Cardeque Manoel Villela.
Pelo menos 18 pessoas foram presas nesta quarta-feira, em uma operação desencadeada pela Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança e pela 1ª Central de Inquéritos do Ministério Público contra uma quadrilha de bicheiros que atua na região da Central do Brasil, em partes do Centro e em São Cristóvão, na Zona Norte. Policiais da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas e Inquéritos Especiais (Draco/IE) cumprem 24 mandados de prisão contra integrantes da cúpula da organização, entre eles policiais civis e militares da região e também agentes da reserva. Segundo as investigações, que começaram em janeiro deste ano, o lucro da quadrilha era de R$170 mil por mês. Os bicheiros pagavam mensalmente R$ 30 mil em propina para policiais envolvidos no esquema.
Os policiais identificaram o contraventor Evandro Machado dos Santos, conhecido como Bedeu, de 53 anos, como o chefe da quadrilha de jogo do bicho. O filho dele, Alessandro Ferreira dos Santos, de 35 anos, também participava do esquema. Os dois foram presos na manhã desta quarta em casas diferentes de um condomínio de classe média alta no Recreio dos Bandeirantes, onde também morava o ex-goleiro Bruno Fernandes, acusado da morte da modelo Eliza Samúdio. Os dois possuem carros importantes e até um iate.
A polícia chegou até o grupo após 14 apontadores do jogo do bicho terem sido presos em uma operação no Centro e na Zona Sul. Foram gravadas, com autorização da Justiça, mais de 180 horas de ligações telefônicas feitas por 40 números diferentes. Durante a investigação, outros 11 apontadores foram presos. Com as linhas grampeadas, os agentes descobriram como a quadrilha agia na região da Central do Brasil, Gamboa, Saúde e também em São Cristóvão. Os suspeitos subornavam policiais civis da 4ª DP (Central do Brasil), do 5º BPM (Praça da Harmonia) e também da Unidade de Polícia Pacificadora do Morro da Providência para que não fossem realizadas ações de repressão ao jogo do bicho.
Entre os policiais denunciados, estão alguns que são responsáveis diretos pelas investigações de crimes na região. A propina era dividida de acordo com a hierarquia do cargo. O dinheiro era entregue pelo policial civil aposentado Alan Cardeque Manoel Villela.
Na ação, batizada de Catedral, foram apreendidos um cofre; três pistolas; um revólver; cinco carregadores; munição; três laptops; várias torres de computador; joias; relógios (um deles um Rolex de ouro); várias anotações do jogo do bicho; uma quantia em dinheiro, ainda não contabilizada; documentos; celulares; e um rádio.
Primeiro envovimentos dos policiais é identificado em 2006
Investigações da Corregedoria Geral Unificada da Secretaria de Segurança apontaram que o primeiro envolvimento de policiais com o jogo do bicho na região foi identificado em 2006 e culminou com a expulsão dos quadros da Polícia Civil, na época, da delegada titular da 4ª DP. Ela era acusada de envolvimento com a contravenção e prática do crime de tortura a mando de contraventores.
Os principais pontos de jogo do bicho administrados pela quadrilha ficam no Mercado Popular da Uruguaiana e ruas da Carioca e do Rosário, além da UPP da Providência.
Evandro Machado dos Santos e seu filho Alessandro Ferreira dos Santos eram protegidos pelo ex-inspetor Aloísio Russo Júnior. Outro policial inativo envolvido com a quadrilha é o sargento PM da reserva Ivanir de Moraes Maranhão, que efetuava pagamentos aos policiais militares da região.
As acusações são por corrupção ativa, violação de sigilo funcional, formação de quadrilha e contravenção. Nem todos os acusados vão responder por todos os crimes.