Bruno Peron
O aumento da demanda de energia elétrica no Brasil reflete a robustez de sua economia, sobre que se prevê passar do oitavo ao quinto lugar mundial num futuro próximo, e reitera a premência de explorar fontes limpas, renováveis e de menor dano ambiental possível.
A Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL) alertou sobre o risco de apagão caso a América do Sul não dobre sua produção energética em vinte anos. A pujança da economia brasileira, no entanto, não se escora sem a consideração dos efeitos ambientais e sociais nas regiões que canalizam os investimentos infraestruturais.
Tal ressalva provém da intenção de o governo brasileiro erigir usinas hidrelétricas em pelo menos sete países da América Latina: Bolívia, Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Nicarágua, Argentina, e sobretudo Peru. As usinas se comporiam da associação da estatal brasileira Eletrobrás com empresas dos demais países, teriam capacidade total estimada de 12 mil MW, e abasteceriam o mercado brasileiro com parte da produção.
Os países latino-americanos de economias expansivas naturalmente precisam ampliar as fontes energéticas. Daí que a urgência de novas edificações surge de demandas internas e não do que se acusaria de "imperialismo brasileiro", uma vez que a diplomacia do Itamaraty pauta-se pela cooperação, a amizade e a complementação de acordos econômicos com programas educativos e sociais entre os países vizinhos.
O Plano Decimal de Expansão de Energia (2011-2020) é um documento que contém o escopo de planejamento e política energética do Brasil. O Plano esclarece que o aumento de demanda deve-se essencialmente ao consumo intensivo de indústrias de base (fertilizantes, siderurgia, petróleo, papel e celulose).
As principais potencialidades hidrelétricas brasileiras estão na região Norte, onde se planeja a construção de usinas nos rios Madeira, Xingu, Tapajós, Teles Pires e Jamanxim. Uma delas é a de Belo Monte, que já teve o projeto aprovado a despeito das resistências ambientais, étnicas e sociais que emergiram e o argumento de que haverá danos às populações ribeirinhas e o ecossistema.
O mesmo empreendimento, que se prevê no rio Xingu, está encravado no gigante estado do Pará, onde se discute sua divisão em três unidades e a criação de Carajás e Tapajós.
O risco deste país não é o de que sua economia creça mais ou menos a fim de enrijecer as cifras de exportação e importação senão a falta de coadunação da robustez dos investimentos com as políticas distributivas de renda e oportunidade, a alocação dos ganhos e dos lucros, o desenvolvimento científico e tecnológico do país, a geração de empregos de melhor qualificação, e a sustentabilidade dos projetos infraestruturais.
O Brasil só terá o mérito da "emergência" quando sanar estes descompassos e reiterar o compromisso com o capital humano, cujo panorama nebuloso deixa um saborzinho de amargura no paladar do economista menos ortodoxo.
Das hidrelétricas que se propõem no Plano Decimal de Expansão de Energia, seis têm instalação prevista somente no Peru em fronteira com o Brasil e seu orçamento é de 16 bilhões de dólares: Inambari, Sumabeni, Pakitzapango, Urubamba, Vizcatán e Chuquipampa. A carta de intenções firmada entre os dois países em junho de 2009 implica parceria entre Eletrobrás, Electroperú e empresas privadas.
É das negociações com este país andino que surgem as refregas mais duras com respeito à instalação de usinas hidrelétricas em parcerias internacionais, visto que os movimentos de crítica ambientalista aduzem argumentos diversos, como o de endividamento externo do Peru, para confrontar a viabilidade dos projetos energéticos.
A opção brasileira pelos investimentos magnificentes em hidreletricidade conforma-se com a disponibilidade exuberante de rios caudalosos, embora o custo de instalação da barragem e as turbinas seja elevado e o projeto localize-se frequentemente distante dos centros consumidores. A rede de distribuição, destarte, é longa, como a que sai da binacional Itaipu na fronteira com Paraguai, e encarece a energia.
Os projetos internacionais de instalação de usinas hidrelétricas entre Brasil e outros países latino-americanos não prescinde de estudo, planejamento e tino a fim de minimizar o número de prejudicados e não só abastecer a demanda de indústrias básicas exportadoras que nos ofereçam pouco em troca do esvaziamento de nossos recursos.
A economia brasileira cresce em ritmo vertiginoso.
E nós, compartilharemos da somatotrofina, o hormônio de crescimento?
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