Já não é mais possível dizer que estamos a um passo do rompimento da ordem
democrática. O rompimento já aconteceu. Há algumas semanas, escrevi aqui sobre
esse "1964 em câmera lenta". E o quadro se consolida. Já não é mais possível
dizer que estamos a um passo do rompimento da ordem democrática. O rompimento já
aconteceu", escreve o jornalista Rodrigo Viana, na Revista Forum
12 de Março de 2016 às 16:21
Por Rodrigo Viana, na Revista Forum
Já não é mais possível dizer que estamos a um passo do rompimento da ordem
democrática. O rompimento já aconteceu.
Há algumas semanas, escrevi aqui sobre esse "1964 em câmera lenta". E o
quadro se consolida.
Já não é mais possível dizer que estamos a um passo do rompimento da ordem
democrática. O rompimento já aconteceu.
Há algumas semanas, escrevi aqui sobre esse "1964 em câmera lenta". E o
quadro se consolida.
Difícil explicar para setores mais moderados que há um golpe jurídico em
curso, com apoio midiático; ou um golpe midiático, com apoio jurídico. Difícil
porque surge sempre a pergunta: "mas um golpe? eles são apenas policiais e
procuradores combatendo a corrupção".
É a narrativa de que "o braço da lei não perdoa ninguém" (essa ideia devo à
jornalista Laura Capriglione, formulada durante uma conversa angustiada sobre os
rumos do país).
Claro que os setores organizados de esquerda e quem conhece a história do
Brasil sabem bem do que se trata: combate à corrupção? Com Aécio (o senador do
"terço de Furnas" e das 5 delações) e Alckmin (merendão e trensalão) comandando
as massas de classe média?
Mas o fato é que essa narrativa de "braço da lei contra o partido dos
corruptos" vem avançando, e atinge o ápice nesse fim-de-semana com a marcha de
13 de março.
As revistas semanais, a Globo e outras tvs servem a esse discurso, tornando
"natural" que o combate à corrupção se faça apenas contra um partido e um setor
da sociedade. A esquerda psolista e marineira não percebeu isso antes. Espero
que agora perceba: não é o PT apenas que eles querem destruir...
Mas é evidente também que a aposta do governo Dilma, ao romper com a base
popular que poderia fazer sua defesa, cria uma situação dramática.
Dilma apostou tudo na governabilidade “institucional”, digamos assim. E nos
afagos ao “mercado”. Ficou sem apoio nas ruas, e não ganhou nada nos mercados e
instituições.
Dilma entregou poder a Renan/PMDB do Rio, para enfrentar a ala do PMDB que
desejava impeachment já em 2015. Pois agora é Renan, empoderado por Dilma na
negociação do Pré-Sal, quem acerta os detalhes para o desfecho do golpe.
A PM cerca os sindicatos em São Paulo, a classe média vai pra rua, e o PMDB
dá um prazo de 30 dias pra decidir a saída do governo. São 30 dias para acertar
os ponteiros com os tucanos.
Em 1964, Jango caiu quando o PSD abandonou o governo e se uniu à UDN,
isolando os trabalhistas. É exatamente o movimento que se repete: a UDN
(tucanos) atrai o PSD (temer e seus garotos) para o ataque final.
Eles estão com pressa. Precisam derrubar Dilma e parar a Lava-Jato antes que
a investigação (via STF) chegue (já chegou) a Aécio, Renan e Temer.
A essa altura, há quatro fatores que podem interromper o cerco e frear a
escalada golpista:
- Lula, no governo ou nas ruas, comandar a resistência e reagrupar o que
resta de movimentos organizados dispostos ao combate (a direita faz cálculos pra
saber se é melhor mantê-lo livre ou preso, qual situação seria menos danosa ao
golpe);
- a Lava-Jato, via STF, trazer novas revelações que podem desmoralizar os
golpistas (Moro não o fará, porque ele integra a inteligência do golpe
institucional; mas Teori mostra que não pretende poupar tucanos e peemedebistas)
- a esquerda ir pras ruas e mostrar de forma decidida que não aceitará a
colombianização do Brasil (na Colômbia, há uma combinação de autoritarismo,
exclusão das esquerdas do jogo político e ataque aos direitos – tudo disfarçado
sob o manto da "normalidade" institucional) ;
- a direita cometer novos "erros" que comprometam seu avanço.
Esse último ponto é o que chamo de "o imponderável de Almeida".
A ação do MP de São Paulo foi claramente um erro do lado de lá. A petição dos
3 patetas – inepta, absurda – escancara a escalada autoritária travestida de
legalidade.
A direita erra, por sua arrogância.
Temer errou com sua carta chorosa, Moro errou na condução coercitiva de Lula,
o MP-SP errou esta semana com a petição dos 3 patetas. Alckmin erra usando a
truculência da PM. Erram porque acreditam na miragem de que haja "um país
inteiro a favor de derrubar o PT, seja de que jeito for".
A realidade não é bem essa.
Há maioria do povo, sim, inconformada por Dilma ter abandonado o programa
vitorioso em 2014. E há a direita de classe média, insuflada pela mídia e por
Moro.
O segundo grupo fará qualquer coisa pra derrubar o governo e prender Lula.
Acha que está liberado para o vale-tudo. Mas o primeiro grupo, ao ver o abuso do
segundo, pode compreender o que há em jogo.
Contemos com a capacidade da direita de escancarar seus métodos.
A direita – que cerca sindicatos e persegue (com PF e procuradores) um
ex-presidente e todos aqueles que estão com ele – vai mostrar sua cara nos
próximos 30 dias. Vamos ajudar a expor esse rosto sombrio.
Eles entraram numa guerra total. Estão mais fortes. Mas em posição de força
muitos exércitos cometem erros. É com isso também que podemos contar, na defesa
da democracia.
Mas não sejamos ingênuos. A situação é muito favorável a um golpe
institucional, pela direita.
O que nos anima é que a história dá voltas. Um ataque truculento agora, ainda
que amparada pela legalidade, deve ser enfrentado de forma firme.
Os movimentos sociais e a esquerda podem até perder essa batalha agora. Mas
travá-la é fundamental, porque logo adiante esse governo de direita que pretende
se implantar no Brasil vai mostrar seus limites.
Essa gente se engana se pensa que o golpe jurídico-midiático vai ser um
passeio no parque. Não será.
Todos pagarão preço alto, inclusive aqueles que hoje usam a violência
simbólica (Globo/Veja et caterva) e a força jurídica para humilhar e destruir os
adversários.
A resistência será longa, devemos olhar para longe. Lutar agora – mesmo em
minoria – significa mostrar que estamos vivos e que não aceitamos o desmonte do
Brasil, dos direitos sociais, do Estado nacional.
http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/220810/'O-rompimento-da-ordem-democr%C3%A1tica-j%C3%A1-aconteceu'.htm
"Já não é mais possível dizer que estamos a um passo do rompimento da ordem
democrática. O rompimento já aconteceu. Há algumas semanas, escrevi aqui sobre
esse "1964 em câmera lenta". E o quadro se consolida. Já não é mais possível
dizer que estamos a um passo do rompimento da ordem democrática. O rompimento já
aconteceu", escreve o jornalista Rodrigo Viana, na Revista Forum
12 de Março de 2016 às 16:21
Por Rodrigo Viana, na Revista Forum
Já não é mais possível dizer que estamos a um passo do rompimento da ordem
democrática. O rompimento já aconteceu.
Há algumas semanas, escrevi aqui sobre esse "1964 em câmera lenta". E o
quadro se consolida.
Já não é mais possível dizer que estamos a um passo do rompimento da ordem
democrática. O rompimento já aconteceu.
Há algumas semanas, escrevi aqui sobre esse "1964 em câmera lenta". E o
quadro se consolida.
Difícil explicar para setores mais moderados que há um golpe jurídico em
curso, com apoio midiático; ou um golpe midiático, com apoio jurídico. Difícil
porque surge sempre a pergunta: "mas um golpe? eles são apenas policiais e
procuradores combatendo a corrupção".
É a narrativa de que "o braço da lei não perdoa ninguém" (essa ideia devo à
jornalista Laura Capriglione, formulada durante uma conversa angustiada sobre os
rumos do país).
Claro que os setores organizados de esquerda e quem conhece a história do
Brasil sabem bem do que se trata: combate à corrupção? Com Aécio (o senador do
"terço de Furnas" e das 5 delações) e Alckmin (merendão e trensalão) comandando
as massas de classe média?
Mas o fato é que essa narrativa de "braço da lei contra o partido dos
corruptos" vem avançando, e atinge o ápice nesse fim-de-semana com a marcha de
13 de março.
As revistas semanais, a Globo e outras tvs servem a esse discurso, tornando
"natural" que o combate à corrupção se faça apenas contra um partido e um setor
da sociedade. A esquerda psolista e marineira não percebeu isso antes. Espero
que agora perceba: não é o PT apenas que eles querem destruir...
Mas é evidente também que a aposta do governo Dilma, ao romper com a base
popular que poderia fazer sua defesa, cria uma situação dramática.
Dilma apostou tudo na governabilidade “institucional”, digamos assim. E nos
afagos ao “mercado”. Ficou sem apoio nas ruas, e não ganhou nada nos mercados e
instituições.
Dilma entregou poder a Renan/PMDB do Rio, para enfrentar a ala do PMDB que
desejava impeachment já em 2015. Pois agora é Renan, empoderado por Dilma na
negociação do Pré-Sal, quem acerta os detalhes para o desfecho do golpe.
A PM cerca os sindicatos em São Paulo, a classe média vai pra rua, e o PMDB
dá um prazo de 30 dias pra decidir a saída do governo. São 30 dias para acertar
os ponteiros com os tucanos.
Em 1964, Jango caiu quando o PSD abandonou o governo e se uniu à UDN,
isolando os trabalhistas. É exatamente o movimento que se repete: a UDN
(tucanos) atrai o PSD (temer e seus garotos) para o ataque final.
Eles estão com pressa. Precisam derrubar Dilma e parar a Lava-Jato antes que
a investigação (via STF) chegue (já chegou) a Aécio, Renan e Temer.
A essa altura, há quatro fatores que podem interromper o cerco e frear a
escalada golpista:
- Lula, no governo ou nas ruas, comandar a resistência e reagrupar o que
resta de movimentos organizados dispostos ao combate (a direita faz cálculos pra
saber se é melhor mantê-lo livre ou preso, qual situação seria menos danosa ao
golpe);
- a Lava-Jato, via STF, trazer novas revelações que podem desmoralizar os
golpistas (Moro não o fará, porque ele integra a inteligência do golpe
institucional; mas Teori mostra que não pretende poupar tucanos e peemedebistas)
- a esquerda ir pras ruas e mostrar de forma decidida que não aceitará a
colombianização do Brasil (na Colômbia, há uma combinação de autoritarismo,
exclusão das esquerdas do jogo político e ataque aos direitos – tudo disfarçado
sob o manto da "normalidade" institucional) ;
- a direita cometer novos "erros" que comprometam seu avanço.
Esse último ponto é o que chamo de "o imponderável de Almeida".
A ação do MP de São Paulo foi claramente um erro do lado de lá. A petição dos
3 patetas – inepta, absurda – escancara a escalada autoritária travestida de
legalidade.
A direita erra, por sua arrogância.
Temer errou com sua carta chorosa, Moro errou na condução coercitiva de Lula,
o MP-SP errou esta semana com a petição dos 3 patetas. Alckmin erra usando a
truculência da PM. Erram porque acreditam na miragem de que haja "um país
inteiro a favor de derrubar o PT, seja de que jeito for".
A realidade não é bem essa.
Há maioria do povo, sim, inconformada por Dilma ter abandonado o programa
vitorioso em 2014. E há a direita de classe média, insuflada pela mídia e por
Moro.
O segundo grupo fará qualquer coisa pra derrubar o governo e prender Lula.
Acha que está liberado para o vale-tudo. Mas o primeiro grupo, ao ver o abuso do
segundo, pode compreender o que há em jogo.
Contemos com a capacidade da direita de escancarar seus métodos.
A direita – que cerca sindicatos e persegue (com PF e procuradores) um
ex-presidente e todos aqueles que estão com ele – vai mostrar sua cara nos
próximos 30 dias. Vamos ajudar a expor esse rosto sombrio.
Eles entraram numa guerra total. Estão mais fortes. Mas em posição de força
muitos exércitos cometem erros. É com isso também que podemos contar, na defesa
da democracia.
Mas não sejamos ingênuos. A situação é muito favorável a um golpe
institucional, pela direita.
O que nos anima é que a história dá voltas. Um ataque truculento agora, ainda
que amparada pela legalidade, deve ser enfrentado de forma firme.
Os movimentos sociais e a esquerda podem até perder essa batalha agora. Mas
travá-la é fundamental, porque logo adiante esse governo de direita que pretende
se implantar no Brasil vai mostrar seus limites.
Essa gente se engana se pensa que o golpe jurídico-midiático vai ser um
passeio no parque. Não será.
Todos pagarão preço alto, inclusive aqueles que hoje usam a violência
simbólica (Globo/Veja et caterva) e a força jurídica para humilhar e destruir os
adversários.
A resistência será longa, devemos olhar para longe. Lutar agora – mesmo em
minoria – significa mostrar que estamos vivos e que não aceitamos o desmonte do
Brasil, dos direitos sociais, do Estado nacional.
http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/220810/'O-rompimento-da-ordem-democr%C3%A1tica-j%C3%A1-aconteceu'.htm
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