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quarta-feira, 21 de março de 2012

Escrevendo sobre o óbvio

Esta semana, reconheço, escrevo sobre o óbvio. Estranhamente, no entanto,
nem sempre conseguimos constatá-lo. Algumas coisas são certas na vida já
desde o momento em que nascemos. Talvez a maior dessas constatações seja
que, um dia, vamos morrer. Sabemos disso, mas não pensamos sobre isso da
forma como deveríamos. Olhamos para a morte sempre com medo, como se ela
fosse uma intrusa em nossa vida. E, como ficamos com medo, procuramos nem
pensar sobre o que ela tem para nos ensinar. Vou dividir com vocês algumas
reflexões que andei fazendo sobre o tema.
Admito que aguardo com ansiedade a minha aposentadoria. Ainda demora, mas
é vista por mim como a possibilidade de ter uma vida um pouco mais
tranquila e diferente daquela que estou tendo, por trabalhar
excessivamente e me sentir cansada de tantos afazeres. Nesses meus
devaneios, fiz as contas, e cheguei à conclusão que poderia me aposentar
em torno dos cinquenta e cinco anos. Num primeiro momento, tive vontade de
chorar. Faltavam ainda vários anos e eu gostaria que acontecesse logo.
Compreendam como realmente estava me sentindo cansada. Depois, recobrei a
calma e me resignei com a situação, imaginando que o tempo passaria
rápido, como acontece logo que completamos dezoito anos de idade.
Ocorre que, nas últimas semanas, fui surpreendida com algumas notícias
tristes. Quatro falecimentos. A tia de uma amiga, com sessenta anos. O
irmão de um amigo, com cinquenta e quatro anos. A irmã de uma amiga da
minha mãe, com cinquenta e seis anos. E um amigo, com cinquenta e dois
anos. Sinceramente, perdi o chão. Eu fazia planos, pensando na minha
aposentadoria, quando constatei que poderia nem chegar a me aposentar.
Entrei em estado de choque. Meu Deus, socorro! Corri para a casa da mamãe,
com quase setenta e cinco, que procurava me tranquilizar dizendo para eu
não ser tão pessimista. Lógico que a corrigi, esclarecendo que estava
sendo realista e não pessimista. Pois, quem poderia me assegurar que eu
não iria “abotoar o paletó” antes da aposentadoria?
Apesar do susto que levei, posso dizer a vocês que foi muito bom. Momento
de aprendizado. Veio para reforçar a ideia de que devemos viver o
presente, o hoje, pois é tudo o que realmente temos. Que adianta fazer
planos para daqui dez anos, se nem sabemos se chegaremos lá. Entendam, não
estou querendo ser fatalista, apenas levar a reflexão do óbvio. Se você
tem de perdoar o seu irmão, que seja hoje! Se você pensa em abraçar o seu
filho e lhe dizer o quanto o ama, que seja hoje! Se você quer conhecer
novos lugares, comer o seu doce preferido, afrouxar o nó da gravata, que
seja hoje! Porque o amanhã pode não chegar para alguns de nós. E isso não
é necessariamente ruim, é natural. Previsto desde quando nascemos. Só que
a gente procura não pensar, pois o medo nos paralisa. Ok! Não precisamos
pensar tanto. Mas, que tal mudarmos a nossa postura quanto a como viver o
hoje? Por que empurrarmos a felicidade para amanhã, se podemos escolher
ser felizes agora mesmo? Confesso que já mudei os meus planos. Estou
vivendo hoje!
Maria Regina Canhos Vicentin (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é
escritora.

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