Postado em 24 abr 2014
por : Diário do Centro do Mundo
O suntuoso Palazzo del Governatorato Vaticano, onde vivem alguns cardeais
Publicado originalmente no Il Fatto.
O Papa Francisco só soube há dois dias que o ex-secretário de Estado, Tarcisio Bertone, decidira viver em uma megacobertura com um grande terraço. O papa sabe que Bertone não ficou satisfeito com o apartamento comum desde 20 de dezembro do ano passado, quando Marco Lillo, no jornal italiano Il Fatto, publicou a notícia.
Agora, o La Repubblica relata a reação de Bergoglio, irritado com a escolha do ex- secretário de Estado de unir dois apartamentos em um: aquele atribuído a ele, onde antes vivia o ex-chefe da Gendarmeria vaticana, Camillo Cibin, que morreu em 2009; e o de Dom Bruno Bertaglia, vice-presidente do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, que morreu em 2013.
Tamanho da super cobertura: cerca de 600 metros quadrados (segundo o La Repubblica) com 100 metros quadrados de terraço. O apartamento onde Bertone passará a sua aposentadoria está localizado no Palazzo San Carlo, a poucos passos da Domus Sanctae Marthae, onde reside o Papa Francisco, que escolheu um apartamento de dois quartos de 70 metros quadrados.
Aí também vive o secretário de Estado, Pietro Parolin, que se contentou com um simples apartamento de um quarto. E no mesmo edifício também vivem (em apartamentos de dois quartos) os dois secretários de Bergoglio, Mons. Alfred Xuereb e Mons. Fabian Pedacchio Leaniz.
Mas nem todos, incluindo cardeais e altos prelados, fizeram a mesma escolha do papa e dos seus fidelíssimos. Muitos vivem em apartamentos muito maiores do que o de Bergoglio. Entre os imóveis em reforma, por exemplo, está o do chefe da Gendarmeria, Domenico Giani, interceptado pela Procuradoria de Roma enquanto escrevia em papel timbrado aos órgãos italianos de polícia para ajudar Dom Nunzio Scarano (agora em julgamento por ter recebido ilegalmente 20 milhões de euros na Itália) para recuperar 400 mil euros dados ao agente dos serviços secretos GiovanniZito.
Giani, em um primeiro momento, tinha ido morar em uma casa em Aurelia, em território italiano. Alojamento temporário. De fato, estavam terminando a reforma do seu apartamento com vista para a Via di Porta Angelica. Acima do terceiro andar, apareceu de repente um novo andar, com três janelas e duas grandes vidraças, às quais se acrescentam dois banheiros com banheira de hidromassagem e um terraço.
Mas, passeando dentro dos muros vaticanos, há muitos palácios suntuosos, com apartamentos que variam de 200 a 250 metros quadrados. Muitas deles são habitados por cardeais, que não os usam totalmente, deixando muitos quartos completamente fechados. No Palazzo Sant’Ufficio, ao lado da Praça de São Pedro, por exemplo, mora, juntamente com duas irmãs, o cardeal Velasio De Paolis, presidente da Prefeitura dos Assuntos Econômicos da Santa Sé.
Bertone
O cardeal Giuseppe Bertello, presidente do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano, vive no último andar doPalácio do Governatorato. Também nesse caso, é utilizada apenas uma parte da casa. O cardeal Angelo Sodano, por outro lado, vive em um andar do palacete que abriga o Colégio Etíope, atrás de São Pedro, depois de ter que abandonar o apartamento mais suntuoso na primeira Loggia do Palácio Apostólico.
E esses são apenas alguns exemplos. Do lado de fora dos muros vaticanos – sempre em grandes apartamentos de propriedade da Santa Sé – vivem outros altos prelados. No mesmo palácio, na praça da cidade leonina, vivem, por exemplo, o cardeal Walter Kasper, teólogo alemão, e o bispo bávaro Gerhard Ludwig Müller, que teve o privilégio de viver no mesmo apartamento que antes era de Ratzinger e onde ainda se encontra parte da sua biblioteca. Esses exemplos citados são apenas alguns dos imóveis de propriedade do Vaticano.
Não existe uma estimativa pública do valor imobiliário de todos esses palácios. Nos últimos anos, segundo algumas notícias da imprensa, o patrimônio imobiliário disseminado no mundo de propriedade do Vaticano chegava a cerca de 2 bilhões de euros. Cerca de metade se encontra na Itália e se trata de 20% do patrimônio nacional.
Com um patrimônio desse porte, há anos discute-se a possibilidade de cobrar o IMU, o imposto sobre imóveis, da Igreja também. Mario Monti [ex-primeiro-ministro italiano], para evitar a multa europeia, em 2012, estabeleceu que as entidades eclesiásticas deviam pagar pela parte comercial dos seus imóveis. A regulamentação normativa, porém, não foi aprovada antes dos termos das declarações. O jogo, portanto, será decidido este ano.
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