22/04/2014 - No último dia 10, durante solenidade de premiação aos policiais que cumpriram metas de redução de crimes, o governador Cid Gomes classificou a violência como “o maior incômodo do Ceará”. Cid disse não conseguir entender por que o número de homicídios continua a aumentar, apesar dos investimentos crescentes na área de segurança pública.
“O que seria, então, o causador, o responsável pela elevação dos índices de criminalidade no nosso Estado? Essa é uma pergunta que me faço todo dia”, declarou o governador, na ocasião. Em seguida, indicou ser o fenômeno do crack “a resposta mais verossímil”.
Não há dúvidas de que a disputa pelo controle do tráfico de drogas em alguns territórios de Fortaleza tem causado várias mortes. Matéria do O POVO, publicada em fevereiro último, mostrou que 16 bairros da Capital têm a rotina marcada pelo confronto de grupos rivais. Em meio ao conflito, morrem líderes do tráfico, adolescentes que trabalham como “aviõezinhos”, usuários em dívida com traficantes e moradores vítimas de bala perdida.
Mas não se pode generalizar e colocar a culpa da epidemia de homicídios somente no crack. Se os traficantes estão controlando uma região, é porque os governos foram omissos. A ausência do poder público (faltam boas escolas, hospitais, áreas de lazer, entre outros serviços) deixa brechas para que os grupos rivais disputem o domínio do lugar.
Estabelecer metas de redução da criminalidade e premiar com dinheiro os policiais que cumpri-las pode ser uma boa estratégia, mas precisa ser acompanhada de outras políticas. A violência é um fenômeno complexo e multifatorial, que exige ações em diversas frentes.
A política de metas e premiações foi anunciada pelo Governo do Estado no dia 17 de dezembro do ano passado. Quase quatro meses depois, houve o lançamento oficial do projeto, batizado de Em Defesa da Vida. Na ocasião, foram divulgados valores das premiações e as estatísticas criminais. No geral, houve redução no número de assaltos registrados pela Polícia e aumento na quantidade de assassinatos (foram 1.281 mortes no primeiro trimestre do ano no Ceará, uma média de 14 por dia).
A meu ver, o Governo perdeu uma oportunidade de ampliar o programa. Seria interessante se tivesse sido anunciado também um pacote que contemplasse outras ações, como recuperação de praças e áreas de lazer; melhorias na iluminação pública (Fortaleza está com vários pontos escuros); programas de prevenção e combate ao tráfico de drogas; projetos para controle da desordem urbana. Questões que contribuem muito para a disseminação da violência.
Não se podem negar os investimentos que o governador fez em segurança pública, ao longo de sua gestão. Houve aumento significativo no efetivo policial e foram criadas, por exemplo, a Academia Estadual de Segurança Pública, a Perícia Forense do Ceará (que contam com uma boa estrutura e equipamentos modernos) e uma Controladoria de Disciplina autônoma. Os avanços são importantes, mas ainda esbarram em problemas como recursos humanos insuficientes.
Em qualquer ação na segurança pública, é preciso planejamento e trabalho integrado. Um exemplo positivo pode ser a ocupação de áreas da Capital pela PM, que teve início, na semana passada, no Conjunto São Miguel (Messejana) e nos bairros Genibaú e Vicente Pinzón. O projeto, que faz parte do programa do Governo Federal “Crack, é possível vencer”, pode apresentar resultados positivos se vier acompanhado da oferta de melhores serviços públicos e de um trabalho de inteligência, conforme prometido pelos gestores. Vamos acompanhar.
"Mortes
Não há dúvidas de que a disputa pelo controle do tráfico de drogas em alguns territórios de Fortaleza tem causado várias mortes"
Ricardo Moura é colunista de segurança pública no portal O Povo Online.
Fonte: http://www.avozdesantaquiteria.com.br/2014/04/questao-de-opiniao-o-porque-de-tantos.html
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