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quinta-feira, 7 de abril de 2011

Republicano quer ser primeiro presidente gay dos EUA

Divulgação

Fred Karger foi o primeiro a sair em campanha pelos EUA; o fato de ser gay, no entanto, impõe barreiras ao pré-candidato no próprio Partido Republicano

Em 1972, a professora Shirley Chrisholm foi a primeira mulher negra a se lançar pré-candidata à Presidência dos Estados Unidos. Passaram-se 36 anos, no entanto, para um negro, Barack Obama, chegar à Casa Branca. Ironicamente, a política democrata é uma das inspirações do primeiro pré-candidato republicano a se lançar à corrida para a sucessão de Obama. Fred Karger, 61 anos, quer ser o primeiro gay assumido a comandar o país mais poderoso do planeta.

Consultor político de Reagan e dos ex-presidentes Gerald Ford e George W. Bush, Karger não é um estreante na política. Apesar de defender propostas tradicionalmente democratas, como o casamento gay, ele disse ao R7 estar desapontado com o governo Obama.

Com os conservadores republicanos, Karger compartilha a agenda do Estado mínimo (quanto menos interferência do governo na economia, melhor) e de impostos menores.

Ator, como o ex-presidente republicano Ronald Reagan, de quem é grande admirador, Karger parece um estranho no ninho dos conservadores americanos. Ele sabe que suas chances de chegar à Casa Branca são pequenas. Mas tem consciência também de que sua ousadia de se lançar pré-candidato pode abrir caminho para mudanças no futuro da política americana.

Karger veio várias vezes ao Brasil, que segundo ele se parece com a Califórnia, seu Estado natal. Ele já esteve no Rio, em São Paulo, na Amazônia e no sul. Da próxima vez, no entanto, gostaria de começar por Brasília - não a turismo, mas como presidente, com direito a subir a rampa do Palácio do Planalto.

R7- O senhor apóia o fim da lei que proíbe gays assumidos de servirem o Exército e o casamento gay. Essas são bandeiras do Partido Democrata, do presidente Barack Obama, mas o senhor é republicano. Não há algo errado aí?

Fred Karger - Obama não tem ajudado muito nesses temas. A respeito do fim da lei "Don’t Ask, Don’t Tell" [que proibia gays assumidos de servirem o Exército, derrubada pelo Congresso, mas ainda em vigor], vamos ter de esperar mais um ano [para que valha na prática]. E não foram apenas os Democratas que votaram pelo fim da lei. Muitos republicanos também fizeram a coisa certa, que é o fim dessa lei terrível.

R7- No geral, como você avalia o governo Obama?

Karger - Estou desapontado. Esperava um desempenho melhor da economia, mas ele tem feito muito pouco. Nós esperamos que nossa economia seja tão forte quanto a do Brasil [risos].

R7- Mas nós ainda estamos muito longe de ter uma economia como a dos EUA, mesmo com vocês em crise... [risos]

Karger - Nós estamos aprendendo uns com os outros. E agora a economia do Brasil está indo muito bem. Eu adoro o seu país. Já fui algumas vezes para aí.

R7- A turismo?

Karger - Sim, já estive por todo o país, muitas vezes. Eu viajei ao Rio muitas vezes, tenho bons amigos por lá. Também conheço São Paulo, Foz do Iguaçu, Porto Alegre e Manaus. Eu adoro o Brasil. Me faz lembrar a Califórnia, onde eu nasci, com praias maravilhosas.

R7- Da próxima vez que vier será como presidente?

Karger - Espero que sim.

R7- Muitos analistas dizem que Obama corre o risco de se transformar em um novo presidente Jimmy Carter, que era bem intencionado, mas não conseguiu fazer muita coisa, sendo derrotado pelo carismático republicano Ronald Reagan [em 1981]. O senhor espera ser o Ronald Reagan da vez? De comum, vocês dois são atores, não?

Karger - Bem... [risos], eu sou bem diferente de Ronald Reagan, mas tenho muita coisa a aprender com ele. Ele disseminou um grande espírito de otimismo nos Estados Unidos [nos anos 1980], num momento que tínhamos uma recessão bem parecida com a que temos hoje. Eu realmente gostaria de ser como ele. Reagan foi maravilhoso para o país e para o mundo.

R7- O senhor é o primeiro gay assumido a entrar na corrida pela Casa Branca. O povo americano está preparado para eleger um gay presidente?

Karger - Uma pesquisa do ano passado mostrou que mais de 50% dos americanos não teriam problema em ter um presidente gay. Então eu resolvi ser o primeiro, e entrar na corrida.

R7- Muita gente tem receio de parecer homofóbica ao responder tais pesquisas e pode até dizer que vota em um candidato gay. Mas isso não necessariamente vai ocorrer, quando o eleitor estiver sozinho na cabine de votação. O senhor não acha?

Karger - Com certeza, tanto porque muita gente irá votar contra [um candidato gay] apenas por causa disso. Mas isso é algo que tende a mudar, e a melhorar. O fato de eu me lançar candidato agora já irá mudar a impressão de muita gente [sobre os gays]. A primeiro afro-americana a se lançar pré-candidata foi Shirley Chisholm, em 1972. Ela foi uma pioneira. Jesse Jackson, que também é afro-americano, concorreu nos anos 1980. Eles abriram o caminho para Barack Obama se tornar o primeiro presidente negro. Então, pode até demorar para os Estados Unidos mudarem de idéia, mas é preciso que alguém comece.

R7- O senhor tem sofrido preconceito desde que começou a campanha? Como tem sido a recepção no “cinturão da Bíblia” (conjunto de Estados do Meio-Oeste americano, conhecidos pela religiosidade)?

Karger - Sim, tenho sofrido bastante preconceito. Um político republicano bastante poderoso no Estado de Iowa tem me ameaçado e dito que vai trabalhar o quanto puder para parar minha campanha. Ele organizou um evento com outros pré-candidatos, mas me excluiu. Isso me machuca... mas não vou desistir. Eu tenho um partido e vou dar o meu melhor.

R7- O senhor tem conversado com o movimento (ultraconservador republicano) Tea Party?

Karger - Não, na verdade. Não sei como eles vão reagir. Há alguns membros do Tea Party que são "ok". Nós temos de ver o que partilhamos. Assim como eu, eles acreditam na intromissão mínima do Estado na economia, no corte dos impostos. Nisso eu concordo com eles.

R7- No que diz respeito à relação Brasil-EUA, por aqui todos gostariam de ver o apoio americano a um assento permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU. O senhor apoiaria essa proposta?

Karger - Acho que o Brasil merece, tanto porque é um dos maiores países do mundo. Eu creio e certamente consideraria isso. Mas tenho de estudar melhor a questão para fazer qualquer declaração a respeito.

Fred Karger já veio ao Brasil várias vezes, mas quer voltar como chefe de Estado

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