5 de março de 2015 | 11:29 Autor: Fernando Brito
Toda a mídia – e não excluo este e outros blogs – está dedicada a saber que políticos estão “na lista” de Janot.
E o surgimento súbito do nome de Aécio Neves mostra que temos nós, os outsiders, de juntar trabalhosamente pedacinhos de informação que é, em geral, sonegada pela grande imprensa, com a devida ressalva do trabalho, ontem, do Estadão, que o revelou ontem.
Há mais, muito mais a ser apurado, inclusive como, ao que parece, toda a corrupção no Brasil se fizesse, há décadas, por um bandido desqualificado, condenado e libertado pelo Sr. Dr. Juiz Sérgio Moro, uma espécie de Personal Judge de Alberto Youssef , numa inacreditável violação do princípio do juiz natural.
Não se sabe quem roubou, quanto, como e quanto do que dizem as dúzias de “delatores premiados” banhados no Rio Jordão pelo Dr. Moro e pelo Ministério Público.
Sabe-se, porém, quem foi roubado: o Brasil.
Foi e está sendo, porque a espetaculosidade com que tudo está sendo conduzido e o movimento desesperado dos acusados para transitar para o campo da oposição histérica ao Governo, onde se garante o silêncio e a impunidade, está roubando o Brasil, ainda hoje e, com certeza, muito mais do que o fizeram Youssef, Costa e os que a eles se aquadrilharam.
O Brasil “de baixo” ainda segue sua vida, escaldado por arrochos, aumentos, cortes, mas segue, ainda que perplexo e descrente.
O radicalismo moralista da classe média, insuflado pela mídia, por parte do PSDB e pela histeria supérflua das redes sociais – com alguns grupos liderados por pessoas visivelmente acanalhadas – impede qualquer debate sério sobre como superar os impasses: os da economia, em geral, e os específicos do setor de petróleo, o naval e o da construção pesada, atingidos pelo escândalo.
Os alemães não fecharam a Siemens, os americanos não deixaram a GM quebrar.
Aqui, ao contrário, combate-se um acordo que não perdoa pessoas (ao contrário dos acordos do Dr. Moro), mas preserva empresas e empregos, colocando-as sob – na prática – sob intervenção e obrigando-as a não apenas a devolver o desviado, mas a abandonarem as trevas onde sempre transitaram as empreiteiras, que não começaram a corromper a política ontem, não é?
E há um indisfarçável prazer ao se noticiar que tantos ou quantos milhares já perderam o emprego ou que o projeto tal está paralisado.
Tomara que não se torne um triste vaticínio a frase dita há muito tempo por Dilma de que a Lava-Jato não deixaria “pedra sobre pedra”.
Porque, com “delações premiadas” e “engavetamentos seletivos”, nenhum de nós é tolo de achar que gatos, ratos e sobretudo tucanos gordos vão pagar pelo que tenham feito e, ainda que ocorresse isso, um país não se faz com cadeia, a não ser na cabeça dos moralistas hipócritas, o que chega a ser quase um pleonasmo.
A este quadro, o Governo reage com o silêncio.
Reflexo, talvez, de sua pouca confiança no bom senso do povo, que não é – e viu-se nas eleições – só uma massa manobrável pela mídia, mas um ser coletivo, que percebe, quase instintivamente, o que está resultando disso.
Cito a frase de Nilson Lage, que viu todos os filmes da história desta república desde os anos 50:
“Puseram o Brasil na roda, sujeito à invasão psicossocial dos cultos pós-modernos e à irresistível atração que os bezerros folheados a ouro exercem sobre 400 achacadores e as corporações de ofício que herdaram o poder dos donos das fazendas”
É preciso falar ao povo brasileiro e agir concretamente.
Não basta, embora algumas coisas sejam, de fato necessárias, fazer apenas cortes e adiamentos em despesas e projetos.
É preciso dizer o que está em jogo.
Parar de encarar a população como o fazem as elites e acreditar em sua capacidade de, apesar da mídia, pensar no que serve a si e ao seu país, o único que tem, pois Miami não é a sua praia.
Afinal, outubro não lhes mostrou isso?
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